Folha de S. Paulo
Grupo de Lira quer ampliar modelo de
governabilidade como troca de favores permanente
Nas negociações para apoiar o sucessor
de Arthur Lira,
o PT ouviu
a promessa de receber uma vaga no TCU e o comando da primeira-secretaria da
Câmara. Se o acordo for confirmado, o partido de Lula terminará
o processo com alguns trocados. A mudança de guarda dará mais lucro para o
centrão, a um custo alto para o governo.
A aliança construída nos últimos dias em torno de Hugo Motta repete um modelo rentável para esse grupo político. Mais uma vez, o centrão se mostrou capaz de sufocar dissidências, deixar de lado preferências políticas e construir uma coalizão numerosa o suficiente para fazer com que a governabilidade seja uma troca de favores permanente.
A esta altura, o centrão trilha para reeditar
o bloco que reelegeu Lira
com 90% dos votos. O presidente da Câmara conseguiu preservar o
comando sobre essa mega-aliança graças a um cofre abastecido por emendas e ao
poder de controlar as votações no plenário. Cedeu espaços generosos para a
oposição e fez andar, no ritmo que ele desejava, projetos de interesse do
governo.
A influência sobre um bloco majoritário
concentrou nas mãos de Lira o controle sobre a formação de maiorias no
plenário, tornando o Planalto dependente do poder de coordenação do chefe do
centrão. No primeiro ano do governo Lula, após rebeliões, chantagens e ameaças,
essa força rendeu ao grupo três novos ministérios, um punhado de autarquias e o
comando da Caixa.
O PT decidiu
apoiar Motta para evitar a repetição do erro que, em
2015, levou à
vitória de Eduardo Cunha. O anúncio foi antecipado para que o
partido pudesse negociar recompensas modestas, sob a ilusão de que poderia ser
percebido como um sócio. O que vai importar de verdade, no entanto, é a
disposição do governo de manter o talão de cheques aberto pelos próximos dois
anos.
Caso o centrão consiga remendar as rachaduras
provocadas pela disputa interna e renovar seu poder, não terá motivos para
controlar o apetite por mais espaços ao longo da segunda metade do governo. A
caminho de uma nova eleição, os resultados no Congresso serão ainda mais
valiosos para Lula —e o bloco de Lira saberá cobrar seu preço.
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