sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Lula quer ‘virada’, mas sem rifar os seus - Vera Magalhães

O Globo

Engana-se quem espera que reforma ministerial vá trazer uma mudança radical de rumosou a troca de ministros que não apresentaram resultados

Uma reforma ministerial na virada de 2025 começa a ser desenhada nas conversas de Lula com os principais auxiliares, mas se engana quem espera uma mudança radical de rumos ou a troca indiscriminada de ministros que não apresentaram resultados robustos.

O entorno do presidente reconhece a necessidade de promover uma “virada” no governo, acolhendo demandas que emergiram com força das urnas e amarrando partidos fortalecidos no pleito municipal, mas Lula não fará isso rifando aliados mais leais que têm ligação histórica com ele.

Por mais que falte entrega ao Ministério do Trabalho e o empreendedorismo tenha sido um dos temas mais presentes nas disputas nos municípios, ninguém acredita que Luiz Marinho esteja com a vaga no primeiro escalão ameaçada, mesmo que fosse um posto considerado estratégico para acolher Guilherme Boulos e dar a ele um cargo no Executivo, algo muito cobrado na campanha.

A saída de Marinho não significaria desalojar apenas um companheiro dos tempos do sindicalismo do ABC, mas vários. A vaga do ministro na Câmara hoje é ocupada por Vicentinho da Silva, do mesmo grupo. E, no Trabalho, também atuam nomes como Carlos Alberto Grana, Gilberto Carvalho e Chico Macena.

Também é enganosa a versão segundo a qual Lula se esquivaria de contemplar Gleisi Hoffmann com um ministério. Se a presidente do PT quiser, e ela sempre demonstrou querer, integrar o governo, Lula a nomeará. O desenho mais provável, hoje, é dar a ela um dos assentos no Planalto e a missão de articular os movimentos sociais.

Embora o principal flanco eleitoral de Lula não seja a esquerda, a avaliação feita depois do segundo turno é que esses grupos estão desmobilizados e desmotivados. Precisam se aproximar do governo para dar capilaridade à campanha presidencial daqui a dois anos e enfrentar a direita nas ruas e nas redes sociais.

A reforma também deverá redimensionar a participação dos partidos do Centrão que saíram turbinados das urnas. Algumas siglas deverão ganhar mais espaço, outras podem manter a mesma quantidade de cadeiras, mas passar a ocupar pastas mais vistosas.

Na avaliação pós-eleitoral, o governo chegou à conclusão de que, além das emendas, que equivalem a pouco mais de R$ 60 bilhões, contribuiu fortemente para o alto percentual de reeleição ou continuidade dos mesmos grupos políticos nas prefeituras o volume de recursos em repasses diretos do Executivo, calculado em cerca de R$ 67 bilhões. Lula teria de se apropriar desse ativo, ressaltando a visão municipalista de seu mandato e aproximando, assim, os prefeitos do Planalto.

A mudança de nomes e a dança das cadeiras no ministério serão casadas com a negociação para a divisão de espaços na sucessão das Mesas do Legislativo. PSD e União Brasil podem ser compensados por terem sido preteridos para comandar a Câmara.

Mas Lula não pretende fazer isso sem condicionar a “virada” no governo ao apoio a sua reeleição. Quem conversa com o presidente não tem dúvida de que ele será candidato, e a convicção é que, se a economia estiver bem, nomes hoje colocados como potenciais adversários não se animarão a enfrentar uma disputa incerta. Seria esse o caso de Tarcísio de Freitas.

Lula e seus ministros avaliam que o governador de São Paulo será pressionado por agentes políticos e econômicos, mas só trocará uma reeleição segura por um voo nacional caso Lula esteja com a popularidade muito abaixo da atual e a economia esteja em queda.

A ideia é fidelizar quanto antes os grandes partidos que estiveram no palanque de Ricardo Nunes em São Paulo. PSD ou MDB não escondem que querem ter o candidato a vice-presidente para fechar com o PT. Não será tão simples, no entanto, desalojar Geraldo Alckmin, que desencorajou em conversas recentes sondagens a respeito de concorrer ao Senado ou ao governo paulista.

 

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