domingo, 29 de junho de 2025

Brasil acima da lucidez - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Livro compõe um retrato do país buscando entender argumentos dos dois lados do espectro ideológico

"Brasil Acima da Lucidez", de Fabiano Lana, é um livro interessante e oportuno, considerando que nos encaminhamos para mais uma eleição presidencial polarizada em 2026. Não é que a obra de Lana resolverá o problema, mas sua leitura pode ajudar aqueles que lamentam essa situação a entender melhor o que está acontecendo e quem sabe mudar suas atitudes para ao menos não piorar o clima de intolerância.

Lana, colunista de "O Estado de S. Paulo", é um autor que muitos classificariam como "isentão". Sei que o termo foi cunhado com propósitos pejorativos, mas o vejo de forma bastante positiva. O "isentão", afinal, é o sujeito que aceita a ideia liberal de que as pessoas variam enormemente em gostos, visões de mundo e até apreciações morais e se esforça para entender posições que não se coadunem com as suas. Não há em princípio um conjunto de preferências que seja superior aos demais.

Especialmente em jornalismo precisamos de "isentões". Não porque a objetividade e a imparcialidade sejam metas humanamente factíveis, mas porque o repórter que se preocupa em buscar o equilíbrio e considera perspectivas diferentes da sua provavelmente fará um trabalho melhor que aquele que veste o chapéu do militante e já têm todas as conclusões prontas antes mesmo de começar a apuração.

"Brasil Acima da Lucidez" é um livro em camadas. São 28 ensaios independentes, mas que formam um todo. Lana discute questões filosóficas como as que eu tangenciei, mas sem deixar de abordar também temas concretos, como religião, racismo, música e até a ginástica mental feita por petistas e bolsonaristas para tentar conciliar suas preferências ideológicas com o reino dos fatos.

Um dos corolários da obra é que precisamos revisitar o princípio da caridade, segundo o qual devemos entender —e eventualmente até melhorar— os argumentos de nossos oponentes. Sem esse esforço de não demonizar de cara o adversário, diálogos produtivos ficam, se não interditados, ao menos muito difíceis —e a polarização irá se perpetuando.

 

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