UM POUCO TARDE
Valdo Cruz
BRASÍLIA - Lula parece ter acordado para aquela que pode ser chamada de mãe de todas as reformas: a política. Decidiu que seu governo vai elaborar um projeto na área e trabalhar para aprová-lo.
Em conversa com assessores, o presidente afirmou que não deseja ser considerado "omisso" no debate sobre o funcionamento dos partidos políticos no Brasil.
Até aqui, foi, porque relutava em assumir uma proposta. Costumava dizer que era a favor de uma reforma política, mas considerava não caber ao Executivo encabeçar as discussões sobre o tema.
Mudou de idéia, segundo auxiliares, depois de alguns episódios recentes que afetam seu governo: a guerra do PSC por diretorias na Petrobras e o envolvimento de políticos em desvio de dinheiro público descoberto pela Polícia Federal na Operação João de Barro.Lula delegou aos ministros Tarso Genro (Justiça) e José Múcio (Relações Institucionais) a elaboração do projeto de reforma política do governo e pretende enviá-lo ao Congresso em agosto.
Será um projeto de lei, para facilitar sua aprovação, em vez de uma emenda constitucional. Vai propor financiamento público de campanha, fidelidade partidária e votação para deputados em lista elaborada pelos partidos.
Medidas que podem fortalecer os partidos políticos, hoje agrupamentos de interesses individuais e regionais, que levam o governo de plantão a negociar no varejo para aprovar projetos de sua autoria.
Resultado: o Palácio do Planalto tornou-se um balcão de negócios, com cargos e verbas na prateleira à espera de parlamentares dispostos a trocar esses mimos por votos no Congresso Nacional.
Por isso mesmo, os bons conselheiros sempre recomendaram que a primeira iniciativa de um presidente no Brasil deveria ser aprovar uma reforma política. Tudo ficaria mais fácil.Lula, como outros, não seguiu o conselho. Deu no que deu. Um escândalo político atrás do outro.
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