DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Curiosa convergência entre populismo, liberalismo tradicional e marketing político. Para eles, quem faz a história é o indivíduo, de acordo com a sua vontade. Assim se acha o líder populista, que se considera o próprio movimento. Já na lógica da análise liberal, tradicional, a história se confunde com os indivíduos que lideram os processos. As circunstâncias ou são eles mesmos ou são aleatórias.
Sempre é bom lembrar um repetido trecho de Marx no início do "18 de Brumário" (1851): "Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade; nem sob circunstâncias de sua escolha, e sim sob aquelas legadas e transmitidas pelo passado".
Se não bastasse esse binário simplificador da história, nas últimas décadas, a tecnologia publicitária aplicada às campanhas eleitorais maximizou a função do indivíduo.
Por vezes potencializando uma de suas características e, não poucas vezes, criando um personagem ao fantasiar o candidato com esse figurino. A cada dia é maior o destaque do indivíduo como a razão da politica. Por isso a obsessão em controlar a imprensa, na medida em que a individualização da liderança só consegue ver a imprensa como competidor. O método marxista, que reduzia o papel do indivíduo a mero fantoche das classes sociais abstratas, se esvai, mas não no caminho da assertiva do "18 de Brumário". Quando aquelas "se foram", ficaram os líderes e o culto à personalidade.
A mercadologia política norte-americana, ao dar à publicidade a razão do sucesso eleitoral, minimizou as circunstâncias e maquiou os personagens. A tecnologia audiovisual exacerbou o papel do indivíduo e presidencializou as eleições no parlamentarismo. São os governos de líderes populistas os que mais tendem a intervir na imprensa. São os líderes produzidos por marketing os que são atraídos pelo populismo e pela intervenção na mídia. Ou que, alternativamente, gastam milhões com publicidade, convencidos de que esse é o caminho da popularidade. Quando isso não ocorre, a culpa é da imprensa.
Esse foco na pessoa dos chefes de governo tirou visibilidade de seus assessores, possíveis sucessores.
Lula é exemplo disso. Por um lado, sente cócegas para intervir na mídia. Não podendo, gasta bilhões. E, naturalmente, sua candidata o é por decisão pessoal. Ela nunca disputou eleição, não tem currículo no partido. É levada como andores da romaria de N.Sra. da Pena, em Vila Real, para que seja percebida.
As campanhas eleitorais se resolvem em si mesmas. Por isso o candidato da oposição não tem pressa. A imprevisibilidade aumenta, a politica se torna inorgânica, representantes se descolam de representados e os riscos relativos ao governo eleito se multiplicam.
Cesar Maia escreve aos sábados nesta coluna.
Curiosa convergência entre populismo, liberalismo tradicional e marketing político. Para eles, quem faz a história é o indivíduo, de acordo com a sua vontade. Assim se acha o líder populista, que se considera o próprio movimento. Já na lógica da análise liberal, tradicional, a história se confunde com os indivíduos que lideram os processos. As circunstâncias ou são eles mesmos ou são aleatórias.
Sempre é bom lembrar um repetido trecho de Marx no início do "18 de Brumário" (1851): "Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade; nem sob circunstâncias de sua escolha, e sim sob aquelas legadas e transmitidas pelo passado".
Se não bastasse esse binário simplificador da história, nas últimas décadas, a tecnologia publicitária aplicada às campanhas eleitorais maximizou a função do indivíduo.
Por vezes potencializando uma de suas características e, não poucas vezes, criando um personagem ao fantasiar o candidato com esse figurino. A cada dia é maior o destaque do indivíduo como a razão da politica. Por isso a obsessão em controlar a imprensa, na medida em que a individualização da liderança só consegue ver a imprensa como competidor. O método marxista, que reduzia o papel do indivíduo a mero fantoche das classes sociais abstratas, se esvai, mas não no caminho da assertiva do "18 de Brumário". Quando aquelas "se foram", ficaram os líderes e o culto à personalidade.
A mercadologia política norte-americana, ao dar à publicidade a razão do sucesso eleitoral, minimizou as circunstâncias e maquiou os personagens. A tecnologia audiovisual exacerbou o papel do indivíduo e presidencializou as eleições no parlamentarismo. São os governos de líderes populistas os que mais tendem a intervir na imprensa. São os líderes produzidos por marketing os que são atraídos pelo populismo e pela intervenção na mídia. Ou que, alternativamente, gastam milhões com publicidade, convencidos de que esse é o caminho da popularidade. Quando isso não ocorre, a culpa é da imprensa.
Esse foco na pessoa dos chefes de governo tirou visibilidade de seus assessores, possíveis sucessores.
Lula é exemplo disso. Por um lado, sente cócegas para intervir na mídia. Não podendo, gasta bilhões. E, naturalmente, sua candidata o é por decisão pessoal. Ela nunca disputou eleição, não tem currículo no partido. É levada como andores da romaria de N.Sra. da Pena, em Vila Real, para que seja percebida.
As campanhas eleitorais se resolvem em si mesmas. Por isso o candidato da oposição não tem pressa. A imprevisibilidade aumenta, a politica se torna inorgânica, representantes se descolam de representados e os riscos relativos ao governo eleito se multiplicam.
Cesar Maia escreve aos sábados nesta coluna.
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