DEU EM O GLOBO
Com mais votos que presidente pela 1ª vez em 11 anos, oposição ganha força para 2012
Com mais votos que presidente pela 1ª vez em 11 anos, oposição ganha força para 2012
Janaína Figueiredo
Apesar de o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ter modificado estrategicamente a lei eleitoral do país em 2009 para favorecer o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) nas eleições legislativas de domingo passado, a oposição obteve, pela primeira vez em 11 anos, mais votos do que os candidatos chavistas. Segundo explicaram analistas locais ao GLOBO, a oposição venezuelana melhorou a quantidade e a qualidade de seus votos, já que cresceu em regiões antes dominadas pelo chavismo, como os estados de Táchira e Monagas, entre outros. Com este cenário, a possibilidade de derrotar o líder bolivariano nas presidenciais de 2012 com um candidato único, que surgiria de futuras eleições primárias, ganhou força.
De acordo com dados divulgados ontem em Caracas, a oposição unida (Mesa de Unidade Democrática e Pátria Para Todos) alcançou 5.642.553 milhões de votos (51% do total), e o PSUV obteve 5.399.574 (49%). Perguntado sobre a contradição entre a quantidade de votos e cadeiras no Parlamento, o presidente se irritou com os jornalistas e reforçou sua leitura vitoriosa dos resultados eleitorais. Longe de adotar um discurso conciliador, Chávez desafiou a oposição a convocar um referendo antes de 2012 para tentar derrubá-lo.
- Como dizem que são maioria, que convoquem um referendo. Por que esperar dois anos para se livrar de Chávez? - provocou.
"Foi um duelo entre Davi e Golias"
Para Nicolás Toledo, da Consultores XXI, o presidente venezuelano está vivendo uma nova etapa de seu governo, na qual representa uma minoria que, para recuperar a maioria perdida, deve manipular as normas eleitorais do país.
- O governo só obteve uma maior representação na assembleia porque modificou a lei eleitoral - assegurou Toledo.
Segundo ele, "em 2012 a mesma manobra não será possível, porque será uma eleição nacional, e Chávez não tem como alterar essas regras".
- Se a oposição consolidar sua união, tem chances de vencer. Há líderes opositores, como Henrique Capriles Radonski (governador de Miranda), com mais popularidade hoje do que Chávez - disse.
Na visão da jornalista Gloria Bastidas, do "El Nacional", a vitória da oposição foi contundente, sobretudo porque "este foi um duelo entre Davi e Golias. Um Estado todo-poderoso e uma oposição que não tem tantos recursos".
- Apesar de Chávez ter cometido abusos terríveis, a oposição conseguiu mais votos - destacou Bastidas.
De acordo com a jornalista, "a deterioração da situação social e econômica do país explica a perda de votos por parte do governo e o crescimento da oposição".
- Já não se trata de defender a liberdade, um conceito abstrato; os venezuelanos estão sofrendo consequências em sua vida cotidiana e buscaram um culpado de carne e osso, que é Chávez - afirmou Bastidas.
Para ela, "o resultado de domingo passado ameaça a popularidade do presidente e deveria ser a semente de uma vitória da oposição em 2012".
Cientes dos desafios que deverão enfrentar a partir de agora, governo e oposição já começaram a trabalhar para as presidenciais. Uma das hipóteses que circulavam ontem entre analistas locais era a de que Chávez poderia apelar para a mesma estratégia utilizada em 2004 e 2005, quando sua popularidade começou a recuar. Na época, o presidente lançou as chamadas missões bolivarianas - programas sociais de educação, saúde e alimentação, entre outros. Para os opositores, a principal preocupação é como manter a unidade conquistada e atuar de forma articulada na Assembleia Nacional a partir de janeiro de 2011 e, sobretudo, construir um processo capaz de eleger um candidato único nas próximas presidenciais.
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