Pressionada por ameaças de obstrução no Congresso, ela defendeu ministros dos partidos atingidos por denúncias e anunciou quitação de R$ 1 bi em emendas
Vera Rosa
BRASÍLIA - Uma semana após conversar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma Rousseff seguiu a receita de governabilidade do antecessor e conseguiu pacificar a crise na base aliada. Pressionada por ameaças de obstrução em votações no Congresso, ela defendeu os ministros do PMDB atingidos por denúncias de corrupção e anunciou a liberação imediata de R$ 1 bilhão em emendas parlamentares para afagar correligionários.
Em reunião a portas fechadas com presidentes e líderes do PT e do PMDB, na noite de segunda-feira, 15, Dilma disse que os dois partidos são a "espinha dorsal" do governo, serviu um caldo verde para selar a paz e prometeu empenho para evitar novos atritos. Para alívio dos peemedebistas, ela afirmou que os ministros Wagner Rossi (Agricultura) e Pedro Novais (Turismo) contam com sua confiança, assim como o ex-deputado Colbert Martins, o secretário do Ministério do Turismo preso no rastro da Operação Voucher, da Polícia Federal.
Dilma assumiu as rédeas da articulação política depois da rebelião da base aliada, que passou os últimos dias escalando o muro das lamentações, com queixas sobre demissões consideradas "injustificadas", demora nas nomeações e falta de liberação das emendas ao Orçamento.
Na noite de terça-feira, 16, Dilma repetiu a dose e se reuniu com deputados e senadores do PSB, PDT e PC do B. O vice-presidente Michel Temer (PMDB) também participou do encontro, como na véspera.
No novo modelo desenhado por Dilma, que aceitou os conselhos de Lula, as reuniões com os partidos que compõem a base aliada serão agora mensais. Antes, não tinham periodicidade definida, mas a presidente chegou a comentar com senadores do PT, em maio, que um tête-à-tête semestral seria suficiente. Preocupado com o racha na coalizão, Lula disse a Dilma na quarta-feira, em São Paulo, que era melhor afagar o PMDB, se não quisesse pôr a governabilidade em risco.
Foi o que ela fez. Ao PMDB, Dilma indicou que não pretende fazer uma faxina nos feudos da legenda. Não foi só: diante do presidente do PT, Rui Falcão, garantiu aos peemedebistas que seu partido cumprirá todos os acordos com o aliado de primeira hora.
"Eu diria que a segunda-feira representou um novo marco do governo Dilma", resumiu Henrique Eduardo Alves (RN), líder do PMDB na Câmara e um dos participantes da reunião no Planalto. Deputado que presenteou Dilma com um bambolê cor-de-rosa em 2008, quando ela era ministra da Casa Civil, Alves disse na segunda-feira, 15, à presidente que o brinquedo não tinha mais utilidade e poderia ser jogado fora. "Agora quem precisa de jogo de cintura é você", devolveu Dilma.
Para o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), líder do governo no Congresso, a presidente está deixando claro, nos encontros com os partidos aliados, que "não vai agir de forma midiática" nem ficar refém de acusações. "As denúncias, para serem levadas a sério, precisam ter consistência", afirmou Vaccarezza.
Na "agenda positiva" que o Planalto pretende mostrar para enfrentar a crise constam lançamento de novos programas, como o que melhora o sistema prisional, e maior exposição de Dilma. Na tarde desta quarta-feira, 17, por exemplo, ela participará da Marcha das Margaridas, que reunirá cerca de 70 mil trabalhadoras rurais em Brasília. Trata-se de mais um conselho de Lula, que procurava dissipar as turbulências políticas nos palanques.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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