quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Após escândalo, PR deixa a base do governo e diz que entregará cargos


Partido, que perdeu os Transportes, leva junto bloco que detém 52 votos

Maria Lima e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Com a sinalização clara da presidente Dilma Rousseff de que nenhuma compensação seria dada pela perda do Ministério dos Transportes, o presidente nacional do PR, senador Alfredo Nascimento (AM), anunciou ontem que seu partido está fora da base do governo e entregará todos os cargos que possui.

No discurso, que alguns senadores do PR tentaram impedir até o último momento, Nascimento disse que seu partido é agora independente da base, mas que não assumirá qualquer posição que considere revanchista ou irresponsável, como apoiar uma CPI para investigar as denúncias de corrupção no Dnit.

Contra a vontade de cinco senadores, principalmente do líder Magno Malta (ES), que bateu boca e esbravejou com os colegas no plenário, Nascimento cumpriu ordem do deputado Valdemar Costa Netto (SP) e da bancada da Câmara de dar uma resposta dura ao Planalto.

"Não é aceitável que sejamos tratados como oportunistas"

Num recado direto ao tratamento diferenciado dado pelo Planalto às denúncias que assolam o Ministério da Agricultura, do peemedebista Wagner Rossi, Alfredo Nascimento disse que, "passado tanto tempo, não é aceitável que sejamos tratados como aliados de pouca categoria, fisiológicos e oportunistas".

- Não fazemos política cultivando ressentimentos, mas também não abrimos mão da construção e manutenção de relações de confiança, respeito e lealdade junto àqueles a quem emprestamos o nosso apoio - discursou Nascimento. - Não faremos o jogo político rasteiro da revanche ou da vingança, do constrangimento ou da chantagem.

Além de esperar até o último minuto uma sinalização do Planalto, que não veio, a cúpula do PR está muito incomodada com a indicação do general de brigada Ernesto Fraxe para ocupar o cargo de Luiz Antonio Pagot no comando do Dnit, com a tarefa, inclusive, de investigar irregularidades.

- Não dá para continuar na base se o governo está investigando membros do PR. Não tem razão para a gente continuar - disse o senador Blairo Maggi (PR-MT).

O discurso de Nascimento só aconteceu no início da noite, depois de enfrentar, ao longo do dia, o bombardeio de cinco senadores contrários ao rompimento com a base. Na Câmara, a posição de confrontar o governo foi unânime, mas, no Senado, apenas Nascimento e Blairo Maggi (MT) defenderam a tese.

- Vamos para uma reunião agora na liderança para tentar abortar esse discurso. Cinco dos sete senadores não querem nenhuma reação agora contra o governo - anunciou o senador Clesio Andrade (MG) no meio da tarde, quando Nascimento já estava sendo esperado no plenário.

Esperaram em vão pelo líder Magno Malta, que não participou da reunião, enquanto o plenário estava lotado de deputados que foram prestigiar a fala do presidente do partido. Mais tarde, Magno Malta chegou muito exaltado ao plenário, ao ser informado de que Nascimento estava decidido a anunciar o rompimento.

Muito nervoso, Malta discutiu com todos, colocou o dedo em riste em direção a Nascimento, dizendo que não era "moleque", que não fora consultado e que não apoiava o discurso. Numa conversa ríspida em que chegou a empurrar dois senadores do PR, o líder ameaçou "largar essa merda" (a liderança), e se justificou:

- Eu sou da base do governo e para mim zerou o jogo. Semana passada, decidimos sair do bloco do governo e adotar uma posição crítica. Não sou criança para mudar e agora dizer que o PR vai ser independente e sair da base. Sou homem de uma palavra só. Ninguém manda em mim, eu tive um milhão e trezentos mil votos - esbravejou.

Em conversa com o líder do PT e do bloco governista, Humberto Costa (PE), o senador Blairo Maggi avisara que o PR não tinha outra alternativa, porque saiu mal do ministério e, se continuasse na base, ficaria parecendo que o partido estava à espera de outra pasta.

O líder do PT avalia que agora o PR vai mesmo "dar um tempo da base", negociando caso a caso votações mais polêmicas de interesse do governo.

À noite, o líder do partido na Câmara, Lincoln Portela (MG), anunciou que todo o bloco comandado pelo PR vai assumir a posição de independência. O bloco PR/PTdoB/PRP/PRTB/PTC/PSL soma 52 votos.

- Nem o Planalto nos procurou para nos demover dessa posição, nem procuramos o Planalto para negociar isso. Esses 52 votos não vão para a oposição, mas, a cada matéria polêmica, tem que haver um entendimento - disse Portela.

FONTE: O GLOBO

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