Dilma Rousseff reuniu a imprensa na sexta-feira para apresentar um balanço de seu primeiro ano de gestão. Com pouco mais de uma hora de duração, a entrevista versou sobre um governo que não existe.
A presidente falou como se não ocupasse o cargo mais importante da República há quase um ano. É um cacoete típico do PT desde que chegou o poder: nunca se coloca como quem é (ou deveria ser) o responsável por dar respostas aos principais problemas do país. Fica muito mais cômodo assim...
Dilma falou dos casos de corrupção em série revelados nos últimos meses como quem trata de um incidente em Marte. Quando confrontada com episódios concretos, como as denúncias de tráfico de influência praticado por parte de Fernando Pimentel, limitou-se a responder que "não tem nada a ver com meu governo".
Sobre o loteamento de cargos e o engalfinhamento a olhos vistos de aliados pelo butim, como o que ora envolve PT e PMDB na Caixa, disse que, "cada vez mais", vai exigir "que nenhum partido político interfira nas relações internas do governo". O que se viu até agora, porém, foram os comensais deitando e rolando.
E apresentou a cereja do bolo da entrevista: "O meu governo não tem nenhum compromisso com qualquer prática inadequada, de malfeito, de corrupção dentro do governo. Nenhum. É zero. Tolerância zero". É mais ou menos a frase que ela dissera ao tomar posse, mas, depois de um ano de falcatruas em série, como prestação de contas soa falsa como nota de três reais.
Todos os seis ministros de Dilma demitidos por envolvimento em suspeitas de corrupção e malversação de dinheiro público só caíram depois de a imprensa muito denunciar. A postura da presidente sempre foi a de desqualificar as acusações, tentar esfriá-las e ir ao limite da resistência em fazer o que se espera de um governante em situações desta natureza.
Se dependesse da "tolerância zero" de Dilma, Antonio Palocci ainda estaria dando expediente no Palácio do Planalto, atendendo seus velhos amigos e clientes amealhados na mais próspera consultoria que se tem notícia na história do país. Afinal, segundo a própria presidente na entrevista de sexta, ele só deixou o cargo de ministro-chefe da Casa Civil porque "quis sair".
Também Alfredo Nascimento estaria mandado e desmandando no Ministério dos Transportes, superfaturando obras viárias que até hoje continuam a relutar em sair do papel. Entre uma viagem e outra a bordo de jatinhos emprestados, Wagner Rossi continuaria na Agricultura dando guarida a lobistas que manipulam leilões de comida.
A depender do "nenhum compromisso [de Dilma] com qualquer prática inadequada, de malfeito, de corrupção dentro do governo", a esta hora Pedro Novais estaria fechando mais uma fornada de emendas para engordar o Orçamento e permitir que o Ministério do Turismo continuasse a irrigar o interesse dos partidos aliados do Oiapoque ao Chuí.
Entre um convescote da UNE e outro, Orlando Silva estaria mandando ver nos convênios que transformaram ações em prol do esporte brasileiro em caça-níqueis e fonte de renda para antigos comunistas. E Carlos Lupi estaria assinando mais alguma autorização para criar mais um sindicato-fantasma ou pensando em como ocupar algum cargo público sem trabalhar.
É compreensível que governantes tentem negar deslizes que comentem no poder ou prefiram se esquivar de responsabilidades espinhosas e incômodas. Mas - principalmente quando dispõem de alta popularidade - é de se esperar que, ao invés de tentar dourar pílulas, partam para enfrentar os problemas.
Na última sexta-feira, Dilma Rousseff gastou tempo precioso de trabalho para produzir mistificações. Deveria começar a pensar, urgentemente, em assumir o governo. Sua declaração de princípios dada aos jornalistas pode ser um bom roteiro para quando, finalmente, decidir passar a ocupar o cargo para o qual foi eleita pelos brasileiros.
FONTE: INSTITUTO TEOTÔNIO VILELA
Nenhum comentário:
Postar um comentário