Começa amanhã o V Congresso do PT, que boa parte dos petistas graduados consideram inoportuno e, se pudessem, adiariam. Como a direção já foi renovada pelo voto direto em novembro, e o momento não recomenda ações reformadoras de grande envergadura nas vésperas do ano eleitoral, o grande encontro servirá para a reafirmação da candidatura de Dilma, que aparecerá ao lado de Lula para desestimular qualquer movimento "queremista" e para a realização do primeiro ato oficial de solidariedade do partido aos petistas presos — Dirceu, Delúbio e Genoino.
Para começar, os delegados são os mesmos que, recentemente, votaram o processo de eleições diretas dos novos dirigentes nacionais, regionais e locais. Logo, não há clima mudancista nem disposição renovadora entre os que participarão de um congresso concebido inicialmente para atualizar os compromissos programáticos do partido, 10 anos depois de sua chegada ao poder, e de todas as mudanças ocorridas no mundo e no país, nesse período. Como diz uma eminência petista quase irritada com o Congresso, um encontro que não foi precedido de um franco e vigoroso debate nas bases, como ocorria antigamente, não levará a uma formulação inovadora sobre "O Brasil que queremos", como sugere a propaganda do evento.
E isso não ocorreu, entre muitas outras razões, porque o momento não recomenda. Às vésperas de um ano eleitoral, em que estará em causa a Presidência conquistada em 2002, nenhum partido abrirá um processo revisionista, para usar um chavão da esquerda. O momento é de destacar acertos, não de repisar os erros, embora isso deva ser feito na hora adequada, diz a mesma fonte do partido. O momento ideal para a realização de tal congresso, diz o petista ilustre, seria no início de 2015, qualquer que fosse o resultado eleitoral de 2014. Com Dilma reeleita, o segundo mandato estaria em debate, pois tal como 66% da população que, segundo as pesquisas, deseja mudanças na orientação do governo, os petistas também querem mudanças de rumo em algumas áreas no eventual segundo mandato de Dilma. Em caso de derrota, um congresso em 2015 também viria a calhar, abrindo espaço para a catarse da derrota e o debate sobre as necessárias correções. Mas agora, com todo mundo se armando para a campanha, não é hora de remexer feridas ou mexer em programa partidário. No máximo, será aprovado o documento elaborado por Marco Aurélio Garcia, que atualiza algumas questões programáticas, especialmente pela inclusão de temas novos que não apareciam no programa original.
Num congresso de discussões políticas rarefeitas, o grande momento será hoje à noite, na abertura, que terá as participações de Lula e Dilma, e Rui Falcão será reempossado na presidência. A aparição conjunta dos dois servirá para inibir algum eventual coro de "volta, Lula". O próprio Lula teria recomendado este formato. E amanhã, pela manhã, ocorrerá o ato de solidariedade aos petistas presos, bem como homenagens póstumas a Marcelo Déda e Luis Gushinken, que morreram este ano.
Ou seja, muito barulho por quase nada, mas, como em política não existe gesto inútil, os fotógrafos é que trabalharão muito, para atender o batalhão de candidatos que vão querer uma foto posada ao lado de Lula. Ou de Dilma. Por via das dúvidas, com os dois.
Companhias de viagem
Sobre o que conversaram Dilma e seus quatro antecessores — Collor, Sarney, FHC e Lula — durante o voo para o funeral de Nelson Mandela, ainda saberemos. A apuração, por parte de jornalistas e políticos, está em curso. Dilma ficou bem na foto com todos eles. Pegou bem. A decisão foi dela mesma, mas pode ter envolvido outro elemento. Voando para tão longe, para representar o Brasil, o natural era que Dilma conferisse o status de viagem de Estado ao deslocamento às custas do erário. Para isso, o caminho mais curto, e até banal, era convidar os presidentes dos demais poderes. Mas aí começariam os problemas. Com as feridas do PT sangrando, por causa das prisões de Dirceu, Genoino e Delúbio, como convidar Joaquim Barbosa? E quanto ao Congresso, tudo bem com Renan Calheiros, mas Dilma anda muito irritada com o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, por causa da sua insistência em votar matérias que desagradam ao governo, afora o incidente com o PT que levou à renúncia de Genoino. Convidando os antecessores, Dilma livrou-se do incômodo de ter que chamar estes outros condôminos do poder.
Pelos estados: Minas
Muita gente dá como certa a candidatura do ex-ministro Pimenta da Veiga ao governo de Minas Gerais, pelo PSDB, mas, oficialmente, o senador Aécio Neves ainda não bateu o martelo. Das quatro candidaturas iniciais, persiste a do presidente do partido no estado, deputado Marcus Pestana. Com isso, o candidato do PT, ministro Fernando Pimentel, continua solto na raia, mas não conseguiu, ainda, garantir o apoio do PMDB mineiro. A uma graduada embaixada petista, chefiada por Pimentel, o senador Clésio Andrade reiterou sua própria candidatura a governador. O PSB de Eduardo Campos continua sem candidato, diante da recusa peremptória do prefeito Marcio Lacerda em deixar o cargo para concorrer. A não ser que Aécio e Campos tenham se entendido em torno de um chapa comum no jantar que tiveram no Rio de Janeiro.
Fonte: Correio Braziliense
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