• Cidade tem 20 mil demitidos, e arrecadação deve cair até R$ 200 milhões
• "Aqui em Macaé, tudo gira em torno do petróleo" - Antonio Gondim Presidente da Associação Comercial e Industrial de Macaé
- O Globo
MACAÉ- O maior escândalo de corrupção da história da Petrobras já chegou à vida real do município de Macaé, no Norte Fluminense. A cidade, que viveu nos últimos 40 anos o boom de crescimento com a produção de petróleo na Bacia de Campos, a cem quilômetros de seu litoral, agora amarga a forte retração das atividades da estatal e das prestadoras de serviços. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores Offshore do Brasil de Macaé (Sinditob), 20 mil pessoas já foram demitidas na cidade, em vagas na indústria do petróleo, no comércio e na construção civil. O prefeito de Macaé, Aluízio dos Santos Júnior (PMDB-RJ), estima perda de receita entre R$ 180 milhões e R$ 200 milhões, do total previsto de R$ 2,4 bilhões.
Nas ruas da cidade, se multiplicam as placas de "vende-se" e "aluga-se". No calçadão da Avenida Rui Barbosa, que conta com cerca de 500 lojas, muitos imóveis comerciais estão fechados, e comerciantes reclamam da queda no movimento. Em vários bairros, é possível ver prédios em construção com as obras paradas e edifícios industriais fechados.
Vendas têm queda de 30%
Segundo Amaro Luiz Alves da Silva, presidente do Sinditob, somente nas prestadoras de serviço de sondas e plataformas foram dispensados 5.600 trabalhadores de setembro a abril. No primeiro bimestre, a prefeitura registrou redução de 2.100 vagas com carteira assinada na cidade.
A esperança para contornar a crise é diversificar atividades, com mais turismo e lazer. Ou, como resume, Marco Aurélio Maia, presidente da Macaé Convention Visitors Bureau, reconquistar o título de "princesinha do Atlântico" que a cidade ostentava nos anos 1970, quando era um município pesqueiro e agrícola.
Comerciantes falam em queda de vendas de até 30%. Segundo a Associação Comercial e Industrial (Acim) da cidade, a redução é da ordem de 10%.
— Aqui, em Macaé, tudo gira em torno do petróleo, porque há grandes empresas que prestam serviços para a Petrobras, médias, pequenas e comércio. Se a coisa começa a andar mal lá para cima, é o efeito cascata. Todo mundo acaba sendo afetado — destacou Antonio Gondim, presidente da Acim.
A rede hoteleira da cidade, que atraiu redes de peso para o turismo de negócios, opera com ociosidade média de 45% a 50% em seus dez mil leitos. Com a crise, viver em Macaé ficou mais barato. Várias empresas que trabalhavam para a Petrobras fecharam as portas, e os preços dos aluguéis caem, em média, 35%, segundo corretores da cidade.
A recepção do Sinditob de Macaé é pequena para receber as dezenas de trabalhadores que diariamente vão ao local para fazer a rescisão de contrato. Apesar do movimento, impera o silêncio, quebrado apenas pelo som repetitivo da batida dos carimbos. Segundo o Sinditob, são feitas, em média, entre 60 e 90 homologações por dia.
Rildo Batista da Silva, de 46 anos, trabalhava embarcado em plataforma há 17 anos na Brasdril, da multinacional Diamond Offshore Drilling, uma das empresas contratadas pela Petrobras para operar plataformas. Ele foi demitido em 1º de abril, num total de 60 funcionários dispensados entre os embarcados, além de 15 empregados da área administrativa.
— A classe mais prejudicada é a dos trabalhadores. A empresa tem que cortar custos por causa da crise, do roubo que teve na Petrobras. Tem empresa em Macaé falindo, fechando as portas. Isso afetou todo mundo, toda a economia de Macaé — disse Rildo, que ainda não conseguiu homologar sua demissão.
A paralisação de cinco sondas da Schahin Petróleo (do Grupo Schahin, que pediu recuperação judicial) era um dos assuntos mais comentados. O presidente do Sinditob disse que aguardava posição oficial da empresa em relação aos cerca de 500 trabalhadores. Procurada para falar sobre a paralisação das sondas, a empresa não comentou.
Segundo Amaro Luiz , está ocorrendo uma redução grande no número de sondas em operação para a Petrobras. De acordo com dados do Sinditob, somente seis empresas tinham, no fim do ano passado, 57 sondas em operação para a Petrobras. Agora, só restam 22.
Maria Luiza Cavararo trabalha no comércio de Macaé há 35 anos. Na loja em que é gerente, não há reposição de vagas. O local tem agora 14 funcionários. No mesmo período do ano passado, eram 21.
— A situação está muito ruim. É um problema geral, atinge comércio, roupas, móveis, eletrodomésticos e supermercados. Tem tido muito desemprego. Tenho muitos parentes que perderam recentemente o emprego.
Márcia Guesse, que há oito anos inaugurou um restaurante a quilo, conta que após a Copa do Mundo, o movimento na cidade começou a cair:
— Agora, quem vai sobreviver são os fortes, aqueles que tiverem boa qualidade, uma boa proposta. Tem uma retração no mercado também porque as pessoas estão com medo do que vai acontecer.
De olho no balanço da estatal
Assim como o mercado financeiro, o prefeito está de olho no balanço da Petrobras, que será divulgado na quarta-feira. A esperança é que a empresa anuncie em breve seus investimentos. Para ele, mais do que a queda do petróleo, considerada cíclica, o que preocupa é o efeito dos escândalos de corrupção.
— Macaé não tem como não sofrer. Se a Petrobras trabalha muito, Macaé trabalha muito, se a Petrobras trabalha pouco, Macaé trabalha pouco — disse.
Em 2006, os royalties representavam 52% da receita do município. Hoje, são 26%. Ao mesmo tempo, a arrecadação de tributos, principalmente do Imposto sobre Serviços (ISS), passou de 16% em 2000 para 28%.
— Dizer que alguma atividade pode ocupar o déficit do petróleo por enquanto é impossível. Mas, ao longo do tempo, estamos começando a investir em novas tecnologias, como a eólica.
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