• Gil, Fagner, Renato Teixeira, João Bosco e Ivan Lins se reúnem em tributo à Pimentinha
Julio Maria - O Estado de S. Paulo
Os homens de Elis saíam de todo canto. Caminhavam léguas com fitas cassete na bolsa e violão debaixo do braço para serem recebidos por ela no camarim dos teatros e no sofá de suas casas. Elis era a Meca. Eles precisavam daquela voz carimbando o passaporte para pisarem em território sagrado. Quando chegavam, tocavam a campainha e tremiam. Cantar diante do silêncio de Elis não era para os fracos. Chico Buarque travou e a voz não saiu. Alceu Valença chegou no dia errado. Baden e Paulo César Pinheiro apostaram em uma música sincera demais sobre a dor de uma separação. E Milton Nascimento cantou o que podia para se tornar um dos escolhidos.
Elis teve a seu favor o fato de viver à época de uma das maiores safras de compositores da música brasileira. Ou seriam os compositores que deveriam agradecer ao fato de terem existido à época de Elis? Ivan Lins vai mais longe. Acredita que a simples presença de Elis fez com que o nível da composição subisse a parâmetros inéditos por uma questão onírica: ao sonharem que estavam sendo gravados por ela, os compositores retiravam seus corações e enviavam a Elis em uma bandeja.
Alguns de seus grandes fornecedores estarão no palco do Auditório Celso Furtado, sábado e domingo, no Anhembi, para uma homenagem aos 70 anos que Elis Regina teria completado no último dia 17 de março. Gilberto Gil, Fagner, Ivan Lins, João Bosco, Renato Teixeira e Jair Oliveira, representando o pai, Jair Rodrigues, morto em maio do ano passado, vão realizar o que deve ser o maior tributo a Elis desde sua partida, em 19 de janeiro de 1982. A apresentação será uma curiosa reedição da marca Miele/Bôscoli. João Marcello, filho de Elis com Ronaldo Bôscoli, morto em 1994,
vai estar ao lado do produtor Miele, que trabalhou com Ronaldo em espetáculos e especiais de TV de Elis. Algumas apresentações serão precedidas por casos contados pelos dois. Outras, por imagens em telões instalados dois nas laterais e um ao fundo do palco. Haverá números em voz e violão e outros com o acompanhamento de uma banda cheia, com teclado, guitarra, baixo, bateria, metais e percussão.
A presença de Elis será reforçada com o efeito dos áudios e vídeos raros ou inéditos restaurados para o show. Jair Oliveira vai tocar violão no momento em que Elis e Jair Rodrigues cantarem, no vídeo, o famoso pot-pourri de sambas lançados no álbum Dois na Bossa, de 1965. Outro momento já registrado como antológico deverá ser o reencontro entre Fagner e a madrinha que o lançou. Os dois “dividirão vozes” para cantar Mucuripe, que Elis gravou em 1972. “As pessoas vão ver Elis em um tamanho que elas não estão acostumadas a ver. As imagens de hoje são exibidas na TV ou nas telas de computadores. Imagine o efeito daquela voz saindo de caixas acústicas grandes e as cenas, de um telão de 25 metros quadrados”, diz João Marcello. O início será feito com um dos maiores sucessos de Elis soando na sala, sem acompanhamento, apenas com sua voz a capela.
Miele diz estar com os exames cardiológicos em dia para suportar a carga emocional. Ele já aparece representado na montagem Elis – A Musical, no também musical sobre Wilson Simonal e, em breve, no filme sobre a vida de Elis, dirigido por Hugo Prata. “Elis Regina paira sobre o Brasil, é algo impressionante.”
Os ingressos partem de R$ 125 (meia-entrada no setor B superior) e chegam a R$ 600 na área mais privilegiada, um preço salgado. “Eu decidi fazer tudo sem lei de incentivo. Prefiro cobrar mais caro a ter de usar um modelo de captação importante, mas que não é visto com simpatia. E eu não queria ver o nome da minha mãe envolvido em acusações do tipo ‘João capta não sei quantos milhões para fazer shows para Elis’. É a festa de seus 70 anos e eu quero preservá-la.
Não foi bacana o que a Maria Bethânia passou” diz ele, referindo-se ao episódio de 2011, em que a cantora baiana foi autorizada a captar R$ 1,3 milhão para fazer um site de poesias.
Dos nomes que farão falta, o de Milton Nascimento é o maior deles. Sua ausência se dá sobretudo por estar o cantor em um momento de recuperação física e por incompatibilidade de cachê, segundo João Marcello. Maria Rita, diz João, já havia feito sua homenagem à mãe em uma turnê pelo País. Ela agradeceu o convite e informou que preferia não participar. O cantor Pedro Mariano alegou estar envolvido com outro projeto e não ter agenda.
Provável set list
Abertura. A voz de Elis vai soar sozinha no início do show, sem acompanhamento, cantando uma de suas gravações mais comoventes
Jair Oliveira. O compositor vai representar o pai, Jair Rodrigues, tocando violão enquanto os telões exibirão Elis e Jair cantando o pout pourri de sambas da época do show e do LP Dois na Bossa, de 1965
Renato Teixeira. Romaria, Sentimental Eu Fico
Fagner. Noves Fora, Mucuripe
João Bosco. O Bêbado e a Equilibrista, O Mestre Sala dos Mares
Ivan Lins. Madalena, Aos Nossos Filhos, Me Deixa Em Paz
ELIS 70 ANOS
Anhembi. Grande Auditório Celso Furtado. Rua Olavo Fontoura, 1.209, 3674-9461. Sáb., às 21 h; dom., às 20 h. R$ 125/R$ 600.
Nenhum comentário:
Postar um comentário