sábado, 20 de agosto de 2016

Unidade na diversidade – Editorial / O Estado de S. Paulo

É compreensível que o relacionamento entre peemedebistas e tucanos, as duas maiores forças partidárias que terão a responsabilidade de viabilizar politicamente o governo até as eleições de 2018, envolva especulações e controvérsias alimentadas pela óbvia suposição de que ambas não perdem de vista a sucessão presidencial. É o jogo político, essência do sistema democrático de governo, que como tal deve ser entendido e respeitado desde que seja disputado em benefício de todos, acima de interesses subalternos, pessoais ou partidários. É auspiciosa, portanto, a notícia de que PMDB e PSDB se entenderam sobre o papel de cada um – que, na verdade, é um só: tentar tirar o Brasil do buraco – em encontro promovido em Brasília por iniciativa do presidente em exercício Michel Temer.

Temer e os peemedebistas que compõem o núcleo duro do governo conversaram por cerca de quatro horas com os principais dirigentes do PSDB, o presidente Aécio Neves à frente, e acertaram, por exemplo, que os tucanos devem ter espaço na discussão das questões econômicas que são prioridade absoluta do governo. Para tanto, o tucano Aloysio Nunes Ferreira (SP), líder do governo no Senado, passará a participar do núcleo político e a ter voz ativa na definição das questões estratégicas da área econômica.


Do mesmo modo que todo mundo preocupado com a gravidade da crise econômica, o PSDB apoiou desde o início a escalação da equipe econômica comandada pelo ministro Henrique Meirelles, reconhecendo publicamente a indiscutível competência de seus membros. E tem permanecido firme na defesa, no Congresso, de projetos polêmicos considerados pelo governo indispensáveis ao saneamento das contas públicas, como a reforma da Previdência e a PEC do Teto dos Gastos, que Temer pretende ver aprovados até o fim do ano.

Ocorre que, pressionado politicamente, o governo tem feito o que o PSDB chama de concessões a interesses corporativos, como ao concordar com reajustes salariais de categorias politicamente influentes do serviço público e ao flexibilizar cláusulas do acordo de renegociação das dívidas dos Estados. Na verdade, o governo nada cedeu, de vez que a austeridade visada é proporcionada por textos legais já em vigor, não dependendo dos projetos alterados.

Os tucanos, no entanto, vinham reagindo mal ao que chamavam de “recuo” do governo. Desconfiavam de que fossem concessões destinadas a pavimentar o caminho para uma eventual candidatura de Meirelles à Presidência da República em 2018. O ministro da Fazenda não é peemedebista, é filiado ao PSD de Gilberto Kassab. Mas como Temer afirma que não será candidato, especulou-se que o PMDB pensa em garantir sua hegemonia política depois de 2018 por meio de um acordo com Meirelles, principalmente se a economia der sinais claros de recuperação nos próximos dois anos, o que certamente o ministro da Fazenda saberia capitalizar eleitoralmente. Daí incomodar aos tucanos a ideia de que seu apoio à política econômica do governo que está na iminência de se tornar definitivo pudesse prejudicar seus próprios interesses eleitorais futuros. Principalmente quando se considera que o que não falta hoje no PSDB são candidatos potenciais à sucessão presidencial: Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra.

Tudo isso, de qualquer modo, são conjecturas que politicamente devem ser levadas em conta, mas não a ponto de comprometer a responsabilidade que é cobrada pelos brasileiros tanto de peemedebistas quanto de tucanos diante do enorme desafio de reconstruir tudo o que o lulopetismo destruiu com seu populismo irresponsável agravado pela radical incompetência de Dilma Rousseff.

Aécio Neves resumiu com otimismo sua avaliação sobre o encontro de quarta-feira: “Iniciamos uma nova fase no nosso relacionamento. (...) Não há tempo a perder. Compreendemos que a interinidade traz limitações. Mas o presidente Temer disse que dia 30 começa para valer o seu governo e para isso não pode haver ambiguidades”. É o que todos os brasileiros esperam.

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