Ex-presidente começou a articular a estratégia do PT nas eleições municipais
Amanda Almeida e Natália Portinari | O Globo
BRASÍLIA - Contrariando parte expressiva do PT que defende priorizar a formação de uma frente de esquerda e ceder espaço a aliados, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer que o partido lance candidaturas próprias a prefeito no ano que vem. À espera de decisões da Justiça que podem tirá-lo da prisão, Lula começou a articular a estratégia do PT nas eleições municipais.
Além de tentar recuperar o espaço que o partido perdeu nos últimos anos, Lula quer transformar a disputa do ano que vem em um “plebiscito” sobre o governo Bolsonaro. Apesar de tradicionalmente as campanhas municipais focarem nos problemas locais, o ex-presidente defende a nacionalização da disputa.
As orientações do ex-presidente são passadas em conversas com quem o visita na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde está preso desde abril do ano passado, e em entrevistas. Depois de perder a Presidência da República, o PT vê a eleição municipal como um desafio para não reduzir ainda mais sua musculatura no país. Em 2016, o partido saiu com 375 prefeituras a menos do que conquistou nas eleições de 2012. Ganhou em 256 municípios.
Apostas
Hoje, os petistas não comandam nenhuma capital. Lula diz que a legenda tem de apostar em nomes próprios em quantas cidades for possível, especialmente nas capitais.
Alguns nomes já foram mencionados pelo ex-presidente, como as deputadas federais Benedita da Silva, no Rio, e Marília Arraes, no Recife; o ex-ministro Patrus Ananias, em Belo Horizonte. Em São Paulo, depois de a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, falar no candidato derrotado à Presidência Fernando Haddad, Lula ventilou a ideia de atrair a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy de volta ao partido.
Uma parte expressiva do PT, no entanto, vê com receio a estratégia de a legenda impor seus nomes. Essas lideranças avaliam que o partido deveria focar no fortalecimento de uma frente de esquerda, cedendo espaço a siglas como PDT, PSB, PCdoB e PSOL nas eleições municipais.
No Rio, por exemplo, o entendimento é que a melhor aposta é o partido apoiar Marcelo Freixo (PSOL). Benedita poderia ser vice, dizem petistas. Por outro lado, quem está com Lula diz que o PT pode lançar seus nomes no primeiro turno e se comprometer a apoiar partidos de esquerda nas cidades em que ficar fora do segundo turno.
Integrante do grupo de trabalho do PT que discute as eleições, o deputado federal Paulo Teixeira (SP) defende que a legenda invista na formação da frente:
— A impressão que tenho é que o entendimento que teremos com Lula é de ter chapas fortes em todas as capitais, ter nomes competitivos em todas, mas principalmente convergir para a formação de uma frente. O PT não precisa necessariamente encabeçar as chapas, mas entrar sempre competitivo nelas.
Na última quinta-feira, esse grupo de trabalho do PT decidiu procurar dirigentes de outros partidos de esquerda para conversar sobre as eleições. A legenda quer colocar suas cidades prioritárias e ouvir das outras siglas quais são suas apostas.
“Hegemônico"
O PT vem sendo criticado por outros partidos de esquerda por tentar sempre ser “hegemônico” nas disputas. Dirigentes de outras siglas reclamam que os petistas sustentam o discurso de priorizar alianças, mas nunca estão dispostos a ceder as cabeças de chapa.
Ex-presidente do PT, o deputado federal Rui Falcão (SP) diz que, antes de abrir uma discussão sobre nomes, o partido precisa levantar os problemas que as cidades estão vivendo e criar propostas:
— Se você começa a lançar nomes, não abre campos para discutir os problemas e as alianças.
Falcão destaca ainda que a discussão sobre alianças no próximo ano será ainda mais complicada. Isso porque esta será a primeira disputa depois de mudança na legislação que acabou com a coligação nas eleições proporcionais. Assim, analisa o deputado, os partidos vão querer lançar nomes próprios para as prefeituras com o objetivo de puxar votos para vereadores.
Em outra frente, uma ala do PT vê a nacionalização da disputa, como defende Lula, com desconfiança. A análise é que, se o presidente Jair Bolsonaro chegar bem avaliado em outubro do ano que vem, essa estratégia pode ser um “tiro no pé”.
Para o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), o partido tem que aproveitar essas eleições para “falar com a população”.
— Temos a perspectiva de fazer alianças, sentar, conversar com os outros partidos. Em algumas cidades emblemáticas, é importante que o partido tenha candidatos para falar do que ocorreu com o PT nos últimos anos, mas também para falar do que pensamos sobre o futuro.
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