O
general está errando na estratégia de guerra e falhando na execução de sua
missão. Ao ministro general Eduardo Pazuello foi entregue a tarefa de proteger
a saúde dos brasileiros em plena pandemia. Isso é uma guerra. O inimigo é
altamente letal, já foram 179 mil os brasileiros mortos. Pazuello deveria usar
toda a munição e todas as armas disponíveis, mas escolheu apenas algumas. Ele
nos desarma diante de inimigo perigoso ao desprezar a vacina do Instituto
Butantan e demonstra ter dúvidas se haverá demanda por proteção entre as
potenciais vítimas do coronavírus.
Ontem
Pazuello tentou consertar o que havia dito na véspera, mas os últimos dias
foram esclarecedores para quem tinha alguma dúvida de que o governo escolheu
mal o general desta guerra. E escolheu mal porque o próprio presidente
demonstra não se importar com os efeitos da pandemia, desde o começo.
Na reunião com os governadores na terça-feira ficaram claros os erros de estratégia, de avaliação, de planejamento e de logística do ministro da Saúde. Diante de um inimigo perigoso e desconhecido, um bom comandante não faz o que ele fez. Até agora ele escolheu uma única vacina, a Oxford AstraZeneca, e admitiu comprar a da Pfizer. Só que ele mesmo disse que as quantidades de vacinas que os laboratórios podem oferecer são “pífias”. Nesse contexto de escassez de oferta, fica ainda mais difícil entender por que ele desfez o acordo que havia firmado em outubro com a vacina Coronavac. Na briga com o governador de São Paulo, João Dória, Pazuello disse que o Instituto Butantan não é de São Paulo, e sim brasileiro. A verdade é que ele é administrativamente paulista porque há um século foi fundado pelo governo de São Paulo. Ao mesmo tempo, é de todo o país pela confiança que a população brasileira tem no nosso maior fabricante de vacinas. Mas, diante da afirmação de Pazuello, ficou mais claro que o governador João Dória fez a pergunta certa. Por que discriminar a vacina na qual trabalha o Instituto Butantan?
Todo
general sabe, por dever de ofício e longo treinamento, que é preciso, numa
guerra, manter a união. Pazuello até falou que não devemos nos dividir.
Perfeito. Mas quem tem dividido o país desde o começo é o presidente. Ou é
preciso lembrar as vezes em que ele atacou governadores? A demora de tomada de
decisão do governo federal está provocando essa divisão, com cidades e estados
indo procurar diretamente a forma de proteger sua população. O prefeito de Belo
Horizonte, Alexandre Kalil, procurou o governo de São Paulo. Vários governos
estaduais, também. O governador Flávio Dino foi ao Supremo Tribunal Federal
(STF).
Se
o ministro tivesse desde o começo assumido o papel de liderança que o governo
federal sempre teve em programas de imunização, se mantivesse diálogo contínuo
com os governadores, se tivesse mostrado senso de urgência e discernimento, não
precisaria pedir por unidade. Ela aconteceria naturalmente e sob o comando do
Ministério da Saúde. Quando os governadores pedem uma reunião com o ministro
para discutir o programa nacional contra o coronavírus é a prova de falha da
liderança. O ministro já deveria ter transformado esses encontros em rotina,
deveria ter apresentado seu programa, deveria ter adotado a estratégia comum em
todos os países de apostar em várias vacinas viáveis. Ou seja, seu dever no
cumprimento da missão era usar a melhor estratégia da guerra, manter todos
unidos contra o inimigo comum e usar todas as armas e munições.
A
referência bélica é em sentido figurado. Armas e munições são as vacinas que
nos garantirão a vida e o funcionamento normal da economia. Não apenas o
imunizante, mas as seringas, agulhas, cronograma, planejamento, capacidade de estocagem
e de transporte. A logística da imunização, enfim. Mas a prioridade de
Bolsonaro é literal. Ontem o governo levou a zero as alíquotas de importação de
revólveres e pistolas.
O governo atende ao desejo dos clubes de tiros, mas o general da Saúde tem dúvida se há interesse da população em se defender do vírus. “Se houver demanda”, disse e repetiu Pazuello. Ele assim o fez para mais uma vez demonstrar que segue na tropa do presidente da República que sempre negou a gravidade da pandemia e a necessidade de proteção contra o inimigo. O general está perdido no tiroteio.
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