À
procura de um vice que diga apenas "sim, senhor"!
Sem
poder demiti-lo porque foi eleito junto com ele, sem poder fazer de conta que
ele simplesmente inexiste, o presidente Jair Bolsonaro decidiu cancelar o
vice-presidente Hamilton Mourão.
Faz
tempo que já não conversa com ele, mas, ontem, foi muito além: excluiu-o de uma
reunião ministerial no Palácio do Planalto. Compareceram 22 ministros. O único
que faltou estava viajando.
“Não fui convidado, não fui chamado. Então,
acredito que o presidente julgou que era desnecessária a minha presença”, disse
o general que faz parte do Conselho de Governo.
Mourão
deixou passar algumas horas e deu o troco: embora convidado, não foi à
cerimônia de lançamento de um programa destinado a atrair investimentos
privados para a Amazônia.
A
cerimônia contou com a presença de Bolsonaro e de outros ministros. Perguntando
por que não foi, Mourão respondeu: “Estava trabalhando, tinha outras coisas
para fazer”.
Mourão foi escolhido por Bolsonaro para ser vice na última hora. E mesmo assim porque outros nomes convidados para a função alegaram variados motivos para não ocupá-la.
Bolsonaro
queria um vice que não lhe fizesse sombra. Mourão desejava ser um vice com
atribuições executivas. Bolsonaro queria um vice que não falasse. Mourão não se
faz de mudo.
O
presidente é capaz de dizer os maiores absurdos do mundo, mesmo os que o
prejudicam. Mourão tentou ser a voz da sensatez e, em alguns casos, o tradutor
de Bolsonaro.
Apesar
dos desencontros, fingiram dar-se bem até recentemente. Nada pior do que um
vice decorativo. Bolsonaro nomeou Mourão para presidir o Conselho Nacional da
Amazônia. Não adiantou.
A
gota d’água que entornou o copo foi uma troca de mensagens entre um assessor de
Mourão e um assessor de um deputado sobre um eventual processo de impeachment
contra Bolsonaro.
Mourão
só soube das mensagens pela imprensa. No mesmo dia, demitiu o assessor. Com
mania de perseguição, Bolsonaro acha que o vice conspira contra ele, e ninguém
o convence do contrário.
Daí
o cancelamento de Mourão. Que poderá não ser definitivo porque Bolsonaro não
tem compromisso com o que diz e faz. Não desqualificava as vacinas? Agora, não
as recomenda?
Bolsonaro
se comporta na presidência como se fosse um general dentro do quartel. Ninguém
pode pensar diferente dele. Ordem dada é para ser cumprida sem maiores
discussões.
Há
militares que o servem, como os generais Luiz Eduardo Ramos (Secretaria do
Governo) e Eduardo Pazuello (Ministério da Saúde), que batem continência
e dizem “sim, senhor”.
Mourão
bate continência, mas nem sempre diz “sim, senhor”. É por isso que Bolsonaro
procura um novo vice para a eleição do ano que vem. O Centrão topa indicar. O
Centrão topa tudo.
Um
general que se sente à vontade na companhia do Centrão
“Brasil
acima de tudo” (grito de guerra da Infantaria Paraquedista)
Se
o presidente Jair Bolsonaro está à procura de um vice que lhe diga amém, que em
eventos eleitorais saiba manter-se à distância para não lhe fazer sombra, e que
ainda por cima possa ajudá-lo a atrair apoios políticos, por que não o general
Luiz Eduardo Ramos, atual ministro da Secretaria de Governo?
Ramos
entende do riscado. Uma foto que mostrou Bolsonaro disparado, quase sem fôlego,
em uma pista de corrida, mostrou também o general tentando imitá-lo, mas bem
atrás, sem o risco de ultrapassá-lo. Ramos tem uma sincera admiração pelo
presidente. Os dois foram paraquedistas e ainda são bons amigos.
De
resto, ao contrário de muitos, militares ou não, que fazem cara feia para o
Centrão, Ramos não faz, e orgulha-se de ter servido de ponte entre o grupo e
Bolsonaro. Criticado por um general da reserva por andar com más companhias,
Ramos respondeu: “Não me envergonho. Não tenho vergonha nenhuma”.
E
justificou-se: “Tomei uma atitude coerente. Meu desprendimento de ter aberto
mão da minha carreira no Exército mostra que estou a serviço do Brasil. O
governo hoje é do Bolsonaro, mas é do Brasil”. Em 2018, Ramos foi uma voz
isolada em defesa de Bolsonaro dentro do Estado Maior do Exército.
Até que todos, finalmente, acabaram lhe dando razão. Era preciso evitar a volta da esquerda ao poder. Brasil acima de tudo!
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