domingo, 26 de setembro de 2021

Bruno Boghossian - A frente ampla vai encolher

Folha de S. Paulo

Com bandeira antipetista, candidatos da 'terceira via' reduzem espaço para composição no 2º turno

João Doria lançou sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto com críticas indiretas a Jair Bolsonaro e bem diretas ao PT de Lula e Dilma Rousseff. O tucano afirmou que os governos petistas instalaram o "maior esquema de corrupção do qual se tem notícia na história do país" e avisou que o antipetismo “será predominante” em sua campanha.

Não é impulso, é estratégia. Candidatos que buscam o rótulo de "terceira via" precisam de votos da direita para ter alguma chance na disputa. A ideia desses políticos é explorar a rivalidade com o PT para conquistar espaço, chegar perto de Bolsonaro nas pesquisas e convencer o eleitorado de que eles têm mais chances de derrotar Lula no segundo turno do que o atual presidente.

O movimento tende a dificultar os planos para a formação de uma frente ampla para derrotar Bolsonaro em 2022. Se algum desses candidatos chegar ao segundo turno, eles assumirão o polo antipetista contra Lula. Se fracassarem, haverá poucos caminhos para uma composição com o ex-presidente.

Depois de empunhar uma bandeira contra o PT durante todo o primeiro turno, muitos postulantes à terceira via poderão declarar apoio a Bolsonaro, mais uma vez, para sobreviver politicamente. Outros deverão anunciar um voto em branco ou nulo, e alguns se aproximarão de Lula, talvez sem muito entusiasmo.

Uma pista desse comportamento está no núcleo do eleitorado dos candidatos. Num segundo turno contra Bolsonaro, Lula deve receber apoio de 42% dos eleitores de Doria, mas a maioria prefere não votar no petista: 23% escolheriam o atual presidente, e 35% anulariam o voto.

Números semelhantes aparecem entre apoiadores de Eduardo Leite, que também criticou o PT ao inscrever seu nome nas prévias do PSDB: 43% optariam por Lula no segundo turno, 27% escolheriam Bolsonaro, e 27% votariam em branco ou nulo. Entre eleitores de Ciro Gomes (PDT), 58% migrariam para o petista, mas 17% apoiariam o atual presidente e 26% não votariam em ninguém.

 

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