terça-feira, 4 de outubro de 2022

Entrevista | Sérgio Abranches - Lula e Bolsonaro no 2º turno é mistura perigosíssima de ressentimentos e repulsa

Por Marli Olmos / Valor Econômico

O resultado final, segundo Abranches, está indefinido porque ambos os candidatos atraem “sentimentos” de seu eleitorado, numa polarização baseada em “emoções ressentidas, por repulsa, não por oposição”. Apesar de o revanchismo ter tomado conta da campanha para o primeiro turno, o analista prevê, no entanto, que principalmente Lula terá, nessa nova fase, que mostrar ao eleitor quem vai compor sua equipe econômica se eleito. Porque essa é uma informação importante para a classe média, de onde, segundo prevê, virão os votos que definirão o vencedor.

Especialista em meio ambiente, Abranches prevê que eventual governo de Bolsonaro será um “desastre total” nessa área. “Vai ser o império do garimpo ilegal legalizado, invasão de terras e da desproteção absoluta das unidades de conservação e das terras indígenas”, diz.

Em relação à formação das bases parlamentares, o analista percebe um Congresso “dominado por partidos de oligarquias, ligados a determinados grupos de interesse, sem enraizamento na sociedade”. Por outro lado, bancadas mais concentradas facilitarão acordos seja qual dos dois o vencedor. 

Leia, abaixo, a entrevista que Abranches concedeu hoje ao Valor:

Valor: Qual é a sua avaliação em relação ao primeiro turno?

Sérgio Abranches: Creio que tanto o resultado da eleição para presidente, como o questionamento em torno das pesquisas e a formação do Congresso trouxeram boas e más notícias. Embora as pesquisas indicassem a probabilidade de vitória de Lula no primeiro turno, essa é uma eleição singular porque são dois presidentes disputando a eleição, com Lula em busca do terceiro mandato e Bolsonaro, a reeleição. O eleitorado rapidamente se posicionou entre os dois, sem deixar espaço para terceiras forças. Não havia a menor possibilidade de qualquer força crescer diante do gigantismo dessas duas candidaturas muito conhecidas e que despertam sentimentos muito fortes.

Valor: A diferença entre os dois finalistas foi menor do que os institutos de pesquisa indicavam. O que houve?

Abranches: O tamanho do eleitorado de Lula foi dimensionado e o do Bolsonaro subestimado. Acredito em mais de uma hipótese. A primeira tem a ver com a metodologia. Estamos sem Censo há 12 anos e não temos noção do que é a população brasileira. Cada instituto calibrou sua mostra por categorias sociais baseado na Pnad e pesquisas de mercado. Todas erradas. Nenhum instituto fez uma mostra representativa do eleitorado brasileiro tal como ele é hoje. E isso não é culpa de ninguém. Não tínhamos instrumentos adequados. Além disso, o último levantamento sério sobre a quantidade de evangélicos neopentecostais foi de 2018 a 2019. Sociólogos que estudam esse tema estavam projetando altas taxas de crescimento da população evangélica brasileira até 2030. Alguns com a hipótese de que essa população ultrapassaria os católicos. É possível que tenha havido um crescimento que não tenha sido captado. A maioria das igrejas neopentecostais ultrapassou a barreira da separação entre púlpito e palanque, inclusive com intimidação religiosa, do tipo ‘você vai para o inferno’. Uma parte desse voto não foi declarado para ninguém, foi guardado para si mesmo.

Valor: Seria o voto envergonhado que muitos esperavam ir para Lula?

Abranches: Houve, sim, um erro dos pesquisadores que achavam que votos envergonhados iriam para Lula. Mas eu não chamaria esse voto em Bolsonaro de envergonhado, mas de enrustido. A pessoa não quer confessar a sua posição. E aí se recusa a falar com pesquisador, seja porque não gosta dos institutos de pesquisa porque o Bolsonaro não gosta ou os pastores não gostam, seja porque tem medo de que o entrevistador seja petista ou não seja conservador e possa reagir. Isso cria um problema metodológico seríssimo porque ele pergunta para que não quer responder. Aí ele tem que substituir o entrevistado e nessa substituição não se tem certeza se está substituindo por outro com a mesma convicção.

Valor: Mas, além das pesquisas, a força da onda bolsonarista também não foi prevista pelos analistas.

Abranches: Estamos falando de duas forças subjacentes ao crescimento de Bolsonaro que não estavam contempladas na análise da sociologia política brasileira. De um lado, um conservadorismo da sociedade brasileira muito maior do que se imaginava. De outro, uma força reacionária. Há uma diferença entre ambos. O conservador é o que quer manter determinados valores. O reacionário é o que quer voltar atrás. Quer restaurar parte do passado. Retirar direitos. Voltar a determinados hábitos comportamentais que já foram superados.

Valor: Como o senhor avalia as características da polarização que se vê nessa eleição?

Abranches: Não é uma polarização qualquer. Totalmente diferente do que vimos entre 1994 e 2014, quando a disputa era entre PSDB e PT. Era uma época em que os petistas achavam o PSDB um horror, reacionário, um partido dos patrões, dos banqueiros. Mas os valores envolvidos eram políticos. Não é assim agora. Agora é o ‘ame ou odeie’. É uma mistura perigosíssima de ressentimentos e de sentimentos de repulsa. É antipetismo e antibolsonarismo. Lula até consegue escapar um pouco porque escapa um pouco do PT. Mas isso não constrói uma política em programas diferentes para a população.

Valor: A disputa, no caso, se concentra no lado pessoal?

Abranches: É o que a psicologia social chama de polarização afetiva. Eu diria mais, que é uma polarização baseada em emoções ressentidas, por repulsa, não por oposição. Isso tornará o segundo turno muito violento. Duvido que a calmaria que Bolsonaro mostrou após a apuração dos votos não seja resultado de Rivotril. Não era ele no seu normal. O verdadeiro deve reaparecer.

Valor: O primeiro turno já foi marcado por acusações. O segundo tende a ser pior?

Abranches: No primeiro havia isso. Mas aí aparecia a Simone Tebet (MDB) ou a Soraya Tronicke (União Brasil) e diziam: vamos discutir ideias. O único que embarcou na retórica dos ataques adjetivados foi Ciro Gomes (PDT).

Valor: E como será a estratégia dos candidatos para atrair os eleitores de Tebet e Ciro, que somaram pouco mais de 7%?

Abranches: Eles é que têm a diferença na mão. Uma parte vai anular, que na verdade é voto branco. Minha hipótese, sobre a qual não tenho certeza absoluta, é que a parte que é do Bolsonaro já foi e foi a que o ajudou a subir no primeiro turno. Do lado de Ciro, havia antipetistas, mas não muito simpáticos ao Bolsonaro. Mas diante de um antipetismo mais forte podem migrar para Bolsonaro.

Valor: Por que Ciro perdeu votos?

Abranches: O eleitor do Ciro não gostou da maneira como ele entrou nessa campanha. Ele deveria ter percebido, com a experiencia que tem, que entre Lula e Bolsonaro não havia espaço para ele. Apostar na ideia do programa é não entender a natureza da polarização que havia. Ciro vai ter que fazer uma espécie de autocrítica no segundo turno. Não há como apoiar Lula sem rever parte das posições assumidas na campanha. Há várias sintonias em parte do que Ciro propõe e Lula pensa. Há o problema do necessário movimento de Lula para o centro porque Ciro é estadista demais para Lula captar votos dos liberais. E ele precisa disso. Teria que ser uma conversa calibrada.

Valor: Simone Tebet disse que não vai se omitir no segundo turno. Mas, ao mesmo tempo, sua atitude pode influenciar suas futuras aspirações políticas. Como ela vai lidar com isso?

Abranches: Simone foi clara de que vai apoiar o Lula. Há espaço para as cúpulas partidárias negociarem, mostrando que ela é uma mulher de partido. Imagino que nas 48 horas que pediu vai conversar com Lula e apoiá-lo. Do ponto de vista do Lula, Simone é um ativo importante. Primeiro, ela é do agro, do ruralismo e de um Estado que elegeu uma senadora que foi ministra da Agricultura de Bolsonaro e é também do agro. Mas a Simone tem a sensibilidade para a questão ambiental que Tereza Cristina (PP) jamais teve. Tanto que durante toda a campanha Simone disse que é o agro e o meio ambiente, juntos. Como Lula terá que fazer um Ministério do Meio Ambiente forte, com base no programa que acertou com a Marina Silva (Rede), ter uma ministra da agricultura que de um lado defende o agro, mas, ao mesmo tempo, tem a sensibilidade para essa política ambiental, pode atrair a parte moderna do agro.

Valor: E como seria essa negociação do ponto de vista partidário?

Abranches: Do ponto de vista da estrutura partidária, Simone se impôs à velha oligarquia do partido. O Baleia (Rossi), que foi quem bancou a candidatura dela dentro do partido, se elegeu bem em São Paulo. Os dois são interlocutores necessários. O MDB não pode deixar de tê-los como parte dos protagonistas na conversa com o PT. O MDB é o primeiro partido a ser procurado porque é o tradicionalmente aliado de Lula fora da esquerda. Em todos os governos PT foi assim. O MDB foi uma peça-chave.

Valor: E qual sua avaliação em relação às derrotas do PSDB nessa eleição?

Abranches: O PSDB se extinguiu, deixou de ser um partido relevante., Perdeu São Paulo, vai perder o Rio Grande do Sul muito provavelmente e tem 18 deputados, uma bancada nanica. Quem tomou o lugar dele foi o PSD. Então outro interlocutor-chave para Lula provavelmente será (Gilberto) Kassab e Rodrigo Pacheco. Aí serão acordos fáceis: a reeleição de Pacheco para a presidência do Senado e Congresso e provavelmente uma volta de Kassab para o ministério do Lula. Vejo para Lula acordos tranquilos no caso de ele vencer. No caso de Bolsonaro, ele tem uma bancada que também dá a ele essas condições.

Valor: Qual é a sua avaliação em relação à composição do Congresso?

Abranches: Esse talvez tenha sido um acerto dos politólogos. Achávamos que as regras novas diminuiriam a fragmentação. O número de partidos efetivos em 2018 era 17. Passou para nove. No Senado, foi de 14 para nove. Houve, portanto, redução significativa da fragmentação. São bancadas mais concentradas. Mas não muito grandes. Para ter uma ideia, o PT voltou a 2010. Mas sua melhor foi em 2002, com 91 deputados. O MDB, com 42 deputados, não chegou sequer ao que tinha na legislatura de 2014 a 2018. A melhor foi no governo de FHC, com 107 deputados. As duas únicas fortes agora são do PL, 99, e a do PT, com 79. Houve uma concentração entre 40 e 80 deputados, o que permite fazer coalisões muito mais manejáveis. Mas a qualidade não melhorou. Era outra esperança que se tinha. Mas eu acho que mudança de regra não altera a natureza do bicho. Temos cento e poucos parlamentares com alguma base social. Assim, temos um Congresso dominado por partidos de oligarquias, ligados a determinados grupos de interesse, sem enraizamento na sociedade.

Valor: Numa eventual vitória de Lula, isso dificulta a forma de governar?

Abranches: Acho que até facilita. Como eles não têm base social não têm compromissos, só interesses. Negociando seus interesses tudo bem. E basicamente são interesses estaduais. Vão precisar de obras. As negociações terão muito menos do ‘toma-lá-dá-cá’, sob o ponto de vista de corrupção e de propina, do que no passado. A Lava Jato fez uma certa assepsia nesse processo. Por medo; não por convicção moral.

Valor: Como especialista em meio ambiente, como o senhor vê a eleição do ex-ministro Ricardo Salles (PL) como deputado federal? Além dele, a Câmara também terá Eduardo Pazuello (PL), que, quando ministro da Saúde durante a pandemia, foi desautorizado por Bolsonaro na compra de vacinas.

Abranches: Há uma bancada, sobretudo de senadores e alguns deputados, que obteve votos pelos valores conservadores e reacionários. Ricardo Salles quer reverter todo o processo de proteção da Amazonia. Pazuello quer governo de autoridade, é o ‘manda quem pode e obedece quem tem juízo’. No Senado temos Damares Alves (Republicanos), de inclinação fascista e ultraconservadora. Essa é uma bancada problema. É pequena. Mas são todos a cara de Bolsonaro, de Michele e dos filhos. Mas tem que ver qual será sua influência nas negociações internas do Congresso. Eu presumo que será pequena.

Valor: E como o senhor acredita que o próximo governo tratará a questão ambiental?

Abranches: Está claro. Num governo Bolsonaro será um desastre total. Vai ser o império do garimpo ilegal legalizado, invasão de terras, da desproteção absoluta das unidades de conservação e das terras indígenas. Isso vai fazer do Brasil um país pária, com o qual ninguém vai querer lidar. Não por acaso o país com o qual Bolsonaro tem a melhor relação é a Rússia. Houve um voto muito anti-ambiental no Norte e no Centro-Oeste. Houve uma tomada do poder por parte do ruralismo e do garimpismo. O Estado icônico nesse sentido é o Acre, governado pelo PT durante muito tempo e hoje na mão da direita ruralista.

Valor: A questão ambiental parece não seduzir o eleitor. Marina Silva (Rede) obteve muito menos votos do que Ricardo Salles.

Abranches: São Paulo está fora da órbita dessa discussão. Não teve uma discussão sobre o impacto da poluição do ar em São Paulo na saúde pública. A questão ambiental ficou submersa também por dois fatores. O grosso das forças a favor de Lula e Bolsonaro eram da repulsa recíproca. E aí não tem tema. Além disso, havia uma preocupação muito forte com a questão econômica, sobretudo em relação a desemprego, fome e inflação. O eleitor fica menos focado em questões que podem até ser fundamentais para ele em outras circunstâncias. Mas não nessa.

Valor: Se repulsa leva a não ter tema, não teremos programa de governo na campanha do segundo turno?

Abranches: Tanto Bolsonaro com Lula terão que disputar, na margem, o voto de quem está pedindo programa. O primeiro turno era a eleição pela democracia e com polarização. Não se ganhou voto com programa e Ciro é um exemplo disso. Ficou o tempo todo em cima de um programa. Mas a parte do eleitorado que está para ser puxada está mais interessada em programa. O que sobra, agora, na disputa de votos, eu presumo, está na classe média média e classe média alta. É aí que vai se dar essa disputa em torno de dois ou três pontos percentuais. Esses querem saber quem estará na equipe econômica de Lula. Vão querer também saber se Paulo Guedes vai continuar a fazer vista grossa para tudo o que é absurdo do Bolsonaro. O eleitor que sobrou é mais liberal.

Valor: Na campanha do primeiro turno o empresariado em geral parecia mais influenciado pelas pesquisas e, de certa forma, não tão próximo de Guedes como no começo do governo.

Abranches: Quem sempre entendeu de empresário foi Roberto Campos. Ele dizia que o capital não tem pátria e nem partido, tem interesses. Vai se acomodar a qualquer uma das situações.

Valor: Em relação à economia, a quantidade de votos em Bolsonaro no primeiro turno, acima do que previam as pesquisas, não estaria também refletindo as medidas de última hora, como a redução no preço dos combustíveis?

Abranches: Parte dessa base popular do Bolsonaro, que foi subestimada, deve ter a ver com isso. O auxílio adicional deu resistência à inflação e melhorou a cesta de consumo de muitos que certamente votaram em Bolsonaro. E essa é a vantagem que ele terá nos próximos dias, já que é possível que a economia melhore ao longo de outubro.

Valor: Nesse momento, então, não dá para arriscar quem sairá vencedor no segundo turno?

Abranches: Como disse no início, essa é a primeira vez que dois presidentes disputam a eleição juntos. Ambos são muito conhecidos, já governaram, existem sentimentos em relação aos governos de ambos. No caso de Lula, esse sentimento é hereditário, é o do jovem cujo pai melhorou de vida durante o governo Lula. Sabe o que aconteceu e está hoje enfrentando dificuldades enormes para entrar no mercado de trabalho. Mas não há nenhuma referência que nos permita dizer que quem sai na frente no primeiro turno ganha. Todos os que tentaram a reeleição foram eleitos. É a primeira vez que se tem um ameaçado de não ser. Embora a tradição presidencial brasileira é de reeleição, nunca foi reeleito um presidente saindo na desvantagem. Seria a primeira vez.

Valor: E da base de governadores eleitos podem sair lideranças para a disputa presidencial em 2026?

Abranches: Se não sair o Brasil caminha para o desastre. Acre mostra isso. O fato de o PT não ter gerado novas lideranças ali mostra que há fastio. A população brasileira está cansada das mesmas caras e essa é uma das razões pelas quais ela tentou o Bolsonaro. Era uma cara desconhecida, mesmo sendo um deputado medíocre, obscuro. O fastio talvez explique também um pouco o fato de Lula não ter vencido no primeiro turno. As sementes estão sendo colocadas. Mas não se sabe se vão vingar.

Valor: Quais seriam essas sementes?

Abranches: Temos Tabata Amaral (reeleita deputada federal em São Paulo pelo PSB). Temos também a Soraya Thronicke pela direita. Ela nasceu no movimento de 2013, defendendo o ruralismo, mas com espírito democrático. Essa direita liberal conservadora é fundamental para a estabilidade da democracia. Tem que ter essa válvula de escape. Não pode haver apenas esquerda e centro. Tem que ter uma direita que pegue esses interesses conservadores e traga para o seio da democracia. Na Bahia, temos o governador que está saindo (Rui Costa, PT). Mas um que não vingou foi Eduardo Leite (PSDB-RS), que vacilou muito e foi punido. Renunciou ao governo estadual para disputar a Presidência e depois renunciou à candidatura de presidente para se candidatar ao governo do Estado que abandonou. Os gaúchos não aceitariam um desaforo desse.

3 comentários:

Anônimo disse...

Boa entrevista! Concordo com o entrevistado: esta disputa presidencial é entre antipetismo e antibolsonarismo! Concluindo: cadeia para o GENOCIDA!

Anônimo disse...

Pois é rapaz

Anônimo disse...

Sim e não. A entrevista é excelente, mas mantém um certo ranço que deve ser abandonado. Existem razões muito fortes para detestar o PT. E isto não implica que quem o faça seja conservador, liberal ou reacionário. Basta ser alguém indignado com a corrupção maluca, o autoritarismo (não era sempre nós contra eles? Se não pertenço ao "nós", automaticamente estou entre "eles"), as políticas de benefício aos super-ricos (e a construção dos campeões nacionais?) e a brutal crise econômica gerada pelo partido (queda de 10% do PIB em 15/16?). Do mesmo modo, existem razões muito fortes para detestar o Bolsonaro. E isto não implica que quem o faça seja comunista. Basta ser alguém indignado com esta questão das armas, da condução na pandemia, com a destruição das políticas setoriais, com o forte autoritarismo (defender a ditadura militar, o AI-5 e o ustra? O que é isto?) e por aí vai. A forte rejeição aos dois candidatos não implica em uma divisão de reacionários e comunistas no país. A maioria da população tem os dois sentimentos (e não é nem reacionária nem comunista). E os candidatos devem estar cientes disto (particularmente Lula e o PT, a melhor opção agora na minha opinião). Vendo as pesquisas, me parece claro que houve um voto útil de última hora para o Bolsonaro. Pessoas que detestam os dois candidatos que votariam em Ciro ou Simone desistiram e votaram no atual presidente. E suspeito que a razão para isto foi exatamente a campanha petista ("Você é um fascista se votar em Ciro ou Simone. Você tem a obrigação de mudar o seu voto para o Lula para garantir que este ganhe no primeiro turno. O neutro tem lado, o lado do agressor. E não ouse pedir qualquer explicação sobre o passado ou compromisso a ser firmado pelo PT e pelo Lula"). O percentual de votos que Ciro e Simone não tiveram é exatamente igual ao percentual de votos adicionais que o Bolsonaro teve. É hora de efetivamente construir uma frente ampla (que o PT nem o Lula fizeram). É hora do PT perder esta busca maluca por hegemonia.