quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Alvaro Gribel - PT pode perder a oportunidade

O Globo

Lula tem a chance de combater a miséria ao mesmo tempo em que reorganiza as contas públicas. Por ora, prefere brigar com os números e o mercado

Que Lula está certo em ampliar os gastos sociais e iniciar a reconstrução do Estado após o desmonte promovido por Bolsonaro, disso não há dúvidas. Mas ele perde uma enorme oportunidade de começar bem o governo ao adiar o anúncio do seu regime fiscal. Não existe combate sustentável à pobreza com déficits primários seguidos e aumento da dívida pública. E por um motivo simples: o endividamento irá encarecer o dólar, pressionar a inflação e elevar os juros. A economia crescerá menos, e os pobres serão os mais afetados, justamente os que precisam ser protegidos.

A tese defendida ontem pelo senador Alexandre Silveira (PSD-MG) no seu relatório à CCJ do Senado é a fórmula para o caos econômico. Se é verdade que o governo pode imprimir moeda para rolar a própria dívida, também é verdade que isso trará uma inflação exorbitante, como a que o país viveu nos anos 80 e início dos anos 90. A ideia de que a ampliação de despesas pelo governo gera um “círculo virtuoso” já deu errado tantas vezes que causou perplexidade que tenha sido evocada novamente.

Lula e grande parte do PT parecem confortáveis em culpar a Lava-Jato por todos os problemas do governo Dilma, incluindo a depressão econômica que aconteceu em seu segundo mandato. Moro e Deltan de fato comprovaram a parcialidade da operação ao apoiar explicitamente Bolsonaro e entrar para a política posteriormente. Mas a operação, por si só, não teria capacidade de gerar uma recessão por 11 trimestres consecutivos, como a que aconteceu no país entre 2014 e 2016. Os erros de condução da economia foram numerosos, e os alertas, à época, mais do que abundantes e documentados.

Em julho, antecipando a discussão que ocorreria em caso de vitória petista, escrevi em meu blog a coluna “Gasto social não é o problema, mas sim a falta de âncora fiscal”. Cinco meses depois, o partido continua preso na mesma armadilha. Os economistas que ouvi para essa matéria e com quem falei ontem não veem problemas no aumento de despesas para combater a miséria e a fome, embora considerem exagerado o valor inicial proposto pela equipe de transição, de R$ 198 bilhões. O que realmente causa preocupação é a falta de clareza e previsibilidade para os anos seguintes.

Após o desastre econômico de Bolsonaro em várias áreas, Lula tem uma chance de ouro nas mãos para começar bem o governo, com o dólar, os juros e a inflação em queda, ao mesmo tempo em que consegue recursos para combater a pobreza. Por ora, tem escolhido o caminho mais difícil, de brigar com os números e o mercado e flertar com ideias econômicas que já levaram o país ao retrocesso.

Cortes sem dor

O economista Gabriel de Barros, especialista em contas públicas, aponta caminhos para cortes de gastos “sem dor” pelo novo governo. Pelos menos quatro linhas de atuação poderiam economizar R$ 710 bilhões em 10 anos, como mostra o gráfico. Fundir e otimizar programas sociais, aprovar uma reforma administrativa para novos servidores, aprimorar o cadastro único e enxugar o abono salarial seriam sinalizações que poderiam compensar o aumento de despesas para o combate à fome e à miséria.

PEC será enxugada

A PEC da transição já perdeu R$ 30 bilhões na CCJ e a tendência é que seja mais desidratada durante a tramitação. Os R$ 22 bi liberados para investimentos extrateto também devem ser retirados do texto no plenário da Câmara.

Ajuste não é terra arrasada

O governo Bolsonaro confunde ajuste fiscal com terra arrasada na economia. A falta de recursos que o país está vendo nas mais diversas áreas pode ser chamada de tudo, menos de controle das contas públicas.

2 comentários:

Anônimo disse...

As 'vozinhas dos donos' do mercadinho, pagas a bom soldo...
Um, da área das comunicações, não chegará ao duvidoso estrelato porcino.
Outro, da área bancária privada, não será ministro.

Anônimo disse...

"2022
Alvaro Gribel - PT pode perder a oportunidade"

Mas também pode não perder...

Esta técnica bolsonarista de redigir é terrível!