Valor Econômico
O Brasil está perdendo atratividade para
países de perfil semelhante, como mostra o relatório da dívida pública de
outubro
O modo crise segue acionado no Tesouro
Nacional. Diante de um mercado financeiro instável, a ordem é vender o menos
possível de títulos, para não comprar crédito caro. Há reservas de liquidez
suficientes para continuar assim por nove meses. Espera-se que antes disso haja
clareza sobre os rumos das contas públicas nos próximos quatro anos. E que a
engenharia a ser montada aponte de forma crível para o controle do
endividamento.
No entanto, o relatório do senador Alexandre Silveira (PSD-MG) para a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 32/2022, a “PEC da Transição”, apresentado ontem, foi motivo de desânimo e olhos marejados na turma que opera a dívida pública do lado governamental do balcão. A menção à Teoria Monetária Moderna (MMT) provocou pedidos de socorro.
O Brasil está perdendo atratividade para
países de perfil semelhante, já apontava o relatório da dívida pública de
outubro, ao analisar a situação do mercado no início de novembro. Os emergentes
se beneficiavam do maior apetite dos investidores por risco, mas o movimento
para cá era menor. Motivo: incertezas na política fiscal. Pela mesma razão, a
curva de juros locais apresentou “forte alta” no mês, diz o documento.
Segundo um operador, a dívida ficou mais
cara depois que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fez um
discurso no qual criticou a importância que se dá ao superávit primário e à
preservação do teto de gastos, quando o ideal seria debater uma nova forma de
funcionamento do país.
Após essa fala, no dia 10 de novembro
passado, os juros para papéis de 30 anos subiram da faixa de 5% para 6% e lá
permanecem (ver gráfico). Nos
de dez anos, passaram do patamar de 12% para o de 13%.
O motivo é simples: a conta não fecha. Ou,
pelo menos, não está demonstrado que fechará.
O relatório de Silveira retoma um
pensamento que vigorou nos governos do PT, pelo qual gastos sociais e
investimentos trazem retorno suficiente aos cofres públicos. Fala num ciclo
virtuoso formado pela alta nos gastos públicos, aumento da renda, mais
arrecadação tributária e dívida sob controle. Diz que, se o Produto Interno
Bruto (PIB) cresce, a dívida passa a representar uma proporção menor dele.
Um integrante do governo faz uma conta
simples. Se a dívida custa 6% e se vamos ter déficit de R$ 200 bilhões ao ano,
ou 2% do PIB, ainda que houvesse um maravilhoso crescimento de 4% a dívida
aumentaria perto de 3% (4%, descontada a diferença entre a correção da dívida e
a correção do PIB). A crise fiscal permaneceria no horizonte, mesmo com
sucessivos “pibões”. E olha que temos uma guerra em curso e um mundo flertando
com a recessão em 2023.
Silveira recorre à MMT, segundo a qual a
expansão de gastos públicos sem compensação pela elevação de receita não é
ruim. Pelo contrário, potencializa os efeitos multiplicadores dessas despesas
na economia. E afirma que a dívida mais elevada decorrente disso não pode
provocar crise de desconfiança, pois foi emitida na moeda própria do país.
Portanto, “não existe a possibilidade de o governo não pagar”.
Um cenário de fuga de capitais, de fato,
parece distante hoje. No entanto, como se viu, a posição do Brasil não é
confortável, se comparada à de seus concorrentes internacionais.
Em entrevista a este jornal, o senador Fernando
Bezerra Coelho (MDB-PE), político experiente que foi ministro no governo de
Dilma Rousseff e líder no governo de Jair Bolsonaro, apontou para um caminho
mais ortodoxo. Falou em aumento de carga tributária para bancar as novas
despesas, ao menos em parte.
Por exemplo, voltar a cobrar PIS/Cofins e
Cide sobre combustíveis. Com isso, seria possível arrecadar R$ 31,44 bilhões a
mais no ano que vem.
A equipe de transição chegou a informar que
essa desoneração seria mantida. Mas, em entrevista à jornalista Miriam Leitão,
o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), disse que o tema estava em
análise. E, do nada, acrescentou que são duas desonerações diferentes: a da
gasolina e do álcool (PIS/Cofins e Cide) e a de diesel, biodiesel, gás de
cozinha e querosene de aviação (apenas PIS/Cofins). A primeira está estimada em
R$ 16,51 bilhões, e a segunda, em R$ 14,93 bilhões.
A receita do atual ministro da Economia,
Paulo Guedes, para pagar a conta do Auxílio Brasil turbinado seria a tributação
da distribuição de lucros e dividendos com o Imposto de Renda.
Lula também quer essa taxação. Mas, na
equipe de transição, o ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa disse que o
projeto não está maduro para ser votado. Ressaltou ser essa uma avaliação sua.
Bezerra disse ter ouvido de integrantes da
transição a ideia de recriar a Contribuição Provisória sobre a Movimentação
Financeira (CPMF) para bancar o Bolsa Família e outras despesas.
Lula tem repetido que seu retrospecto de
responsabilidade fiscal o credencia. É fato. Porém, os sinais dados até o
momento remetem a políticas de sua sucessora, Dilma Rousseff, em cujo mandato o
país entrou em recessão. Se não for esse o caminho, seria bom deixar claro o
quanto antes. Essa bola quicando na área tem custo.
Um comentário:
Recomendações e críticas do pilantras Bezerrão e PGuedez?
Só se eu fosse o Maisk Idd Otta, parente dela
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