Folha de S. Paulo
O Brasil deles é a síntese do melhor que
somos
No show em
cartaz no Rio e que ainda vai passar por outras cidades, Chico Buarque faz
um convite nos versos de "Que Tal um Samba?": "pra remediar o
estrago", "pra alegrar o dia, pra zerar o jogo", "depois de
tanta derrota, depois de tanta demência e uma dor filha da puta, que
tal?".
No momento que o Brasil atravessa, o apelo tem a força de um manifesto, compartilhado no palco com a cantora Mônica Salmaso e os músicos que o acompanham há décadas. Chico nos faz olhar para o melhor de nós mesmos e para o território das nossas utopias. Sem esquecer, no entanto, das raízes do Brasil que afloram em "Meu Guri", "Caravanas" e versos de "Deus lhe Pague", cantadas em sequência como tradução da nossa violência e brutalidade.
Chico revisita suas canções de amor, suas
personagens femininas, seus parceiros. Homenageia Tom, Vinicius, Caymmi. A voz
de Mônica Salmaso parece ter sido criada para o cancioneiro do compositor. Seus
duetos são arrebatadores e nos fazem acreditar que o "tempo da
delicadeza" é possível.
O país cantado por Chico Buarque, suas
promessas e esperanças, ressoou nas vozes de Sônia Guajajara, Anielle
Franco e Silvio Almeida quando
os três tomaram posse no ministério de Lula, trazendo um
projeto de país que deve ser de cada um e de todos. Num discurso que
deveria ser estudado nas escolas pelo seu compromisso de inclusão democrática,
o ministro dos Direitos Humanos enumerou todos que são valiosos e que terão sua
existência respeitada.
A ministra da Igualdade Racial lembrou
da travessia transatlântica forçada dos que aqui chegaram acorrentados
e alquebrados, séculos atrás, e do processo de abolição, ainda hoje não
concluído. A ministra dos Povos Indígenas ecoou
o canto das aldeias e convocou: "Nunca mais um país sem
nós!".
O Brasil de Chico, Sônia, Anielle e Silvio
é a síntese do melhor que somos. Temos a mais bela oportunidade de fazer este
país. Que ela não escape das nossas mãos.
2 comentários:
Lembrando que a "travessia transatlântica forçada" durava de 2 a 6 meses, e que 2-4 milhões de escravos africanos não a completaram, sendo jogados ao mar depois de morrerem a bordo ou adquirirem doença grave.
O Brasil tem um carma grande com a escravidão.
Postar um comentário