O Estado de S. Paulo
Não há muito o que Lula possa fazer a não ser
se acomodar, e esse parece ser mesmo o caminho que ele está seguindo. Começa
pela sua taxa pessoal de popularidade e aprovação, acomodada em patamar baixo e
dando sinais de que não vai se mexer muito – sinal dos tempos, equivale a uma
espécie de “vitória”.
Acomodou-se ao fato de que seu governo pouco controla em dois sentidos convergentes, o da corrupção e o da ineficiência. O escândalo de corrupção no INSS é um caso clássico de descontrole sobre os agentes políticos e públicos. Em outras palavras, nunca os corruptos se sentiram tão à vontade como agora (os fatores contribuintes são outra história).
Semelhante falta de controle administrativo é
o que explica o crescimento acelerado de algo que não deveria estar
acontecendo, segundo a equipe econômica do próprio governo: o Benefício de
Prestação Continuada, com seu evidente impacto fiscal. Há uma curiosa sensação
em relação ao governo Lula 3 de que as coisas não são feitas, simplesmente
“acontecem”.
Lula acomodou-se ao fato de que Legislativo e
Judiciário reduziram os poderes do Executivo a um ponto inédito na história
dessas instituições. Isto já era notório no caso da alocação de recursos via
orçamento público, mas escancarou-se nas tratativas entre Legislativo e
Judiciário para encontrar um jeito (sim, um jeito) de aliviar a situação dos
acusados pelo STF de participação no 8 de Janeiro sem anistiá-los.
A próxima acomodação à qual Lula assiste sem
poder fazer nada ocorre dentro do Centrão. A “superfederação” anunciada por
União Brasil e PP tem como motivação óbvia a capacidade de ampliar
consideravelmente sua força financeira para formar o que os operadores
políticos hoje em Brasília consideram a tarefa fundamental: constituir bancadas
fortes que possam controlar, em boa parte, o que acontece na Câmara e no
Senado.
Mas ela vai além da ampliação do número de
parlamentares e seu acesso a vários fundos públicos. Sugere que os condutores
das grandes articulações em Brasília estão perfeitamente acomodados com um
cenário político no qual as moedas de troca perderam o valor, o Judiciário
virou um integrante do consórcio dirigente em sentido amplo e o Executivo é um
de estatura muito diminuta em relação ao que já foi, e não faz tanto tempo
assim.
Os limites dessa grande “acomodação” (o
contrário de uma grande “concertación” entre forças políticas) vão ser testados
por fatores amplos, para os quais o “consórcio” não tem resposta nem comando
únicos. Eles são economia fraca, demografia jogando contra e instituições
desarticuladas incapazes de enfrentar crime organizado, para não falar da
execução de qualquer reforma estruturante.
As eleições de 2026 vão dizer quanto o País
vai se acomodar a isto também.
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