Folha de S. Paulo
Ausência de convicção em mudança de rumo põe
em dúvida êxito do pacote de compensação ao IOF
Reformas de fundo —ou
"estruturantes", para usar o termo da vez— são feitas no início de
governos quando há força suficiente para enfrentar as resistências ao fim de
favorecimentos.
Assim ocorre também com apertos de cinto ou
quaisquer medidas desagradáveis cuja execução, aconselha-se, fiquem longe da
próxima eleição.
Luiz Inácio da Silva (PT), em sua terceira
vez na Presidência, preferiu inverter a lógica e agora, em plena véspera do
ano eleitoral, se
vê na contingência de anunciar reformas que não quis fazer ao tempo
recomendado; seja porque discorda delas ou por não querer encarar o inevitável
desgaste desse tipo de combate.
Por isso é difícil conferir crédito ao empenho que o governo empregará na promessa que fez ao Congresso Nacional para não ver o decreto do IOF derrubado e ainda tentar obter autorização para um tapa-buraco de emergência fiscal.
Se acreditasse mesmo nas "reformas
estruturantes", Lula teria
autorizado o ministro da Fazenda a tocá-las antes usando, por exemplo, o mesmo
esforço empregado na aprovação da reforma
tributária. De verdade o presidente não quer nada do que está sendo
prometido, pois suas convicções diferem do que será posto à mesa dos líderes
partidários.
Essa história da compensação do IOF está
muito mal-ajambrada. Na sexta-feira passada (30), na versão de Fernando
Haddad (PT), o mundo acabaria sem o aumento do imposto. Três dias
depois, na segunda (2), o ministro dizia ter a solução pronta para ser
anunciada na terça (3), depois adiada para o próximo domingo (8), acrescida de
um pacote com emenda constitucional, projeto de lei e medidas provisórias.
Achou-se uma saída em tempo recorde para um
problema para o qual, nas palavras do ministro, não havia solução.
Na entrevista em que Haddad e os presidentes
da Câmara e do Senado se
disseram "alinhados" dali em diante, nada houve além de frases vazias
de boas intenções para transparecer um entendimento ao qual ainda falta o
principal: consistência e credibilidade.
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