sexta-feira, 6 de junho de 2025

PL acha que Bolsonaro elege até um poste em 2026 - Andrea Jubé

Valor Econômico

Chapa mais comentada entre lideranças alinhadas com o bolsonarismo é a de Tarcísio para presidente e de Michelle para vice

Notório pelas “malasartimanhas” na política e atento às pesquisas públicas e internas, o presidente nacional do PL, ex-deputado Valdemar Costa Neto, explicou a alguns interlocutores por que acredita que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), pode se tornar mais conhecido nacionalmente e cair no gosto popular.

A teoria do cacique do PL é de que Tarcísio acertou logo na estreia de sua gestão pelo modo como enfrentou as tempestades que devastaram o litoral norte de São Paulo em fevereiro de 2023, e isso o cacifou para disputar o voto nacional.

Era feriado de Carnaval e o país estava em festa quando as fortes chuvas, com deslizamentos de terra, causaram a morte de 65 pessoas, destruíram casas e bloquearam rodovias. Diante de um cenário de guerra, Tarcísio transferiu o gabinete de governo para São Sebastião, cidade mais afetada, de onde despachou nas duas semanas seguintes. Valdemar diz a aliados que gestos como esses “o povo não esquece”.

Ficar perto das vítimas nos piores dias daquela tragédia foi, sem dúvida, um gesto político importante, mas não blindou Tarcísio da crítica implacável do eleitor, que, se aprovou o esforço do governador naqueles dias, não fechou os olhos para os outros problemas do Estado, principalmente nas áreas de segurança pública, saúde e educação. Pesquisa Datafolha divulgada há dois meses revelou que a desaprovação de Tarcísio dobrou em relação a abril de 2023, quanto ele pontuava 11% de ruim e péssimo. Em abril deste ano, esse índice subiu para 22%. Em contrapartida, 41% avaliam o governo como ótimo ou bom.

A repórter já escreveu neste espaço que a chapa presidencial dos sonhos de caciques do Centrão - inclusive daqueles que ocupam ministérios no governo Lula - contempla Tarcísio na cabeça de chapa, com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) na vaga de vice. A percepção do grupo é de que essa configuração seria “imbatível”.

A pesquisa Genial/Quaest divulgada nessa quinta-feira (5) mostrou que Tarcísio tornou-se mais conhecido nacionalmente. O desconhecimento em relação ao mandatário paulista diminuiu de 45% para 39% em seis meses. O mesmo levantamento confirmou o fôlego eleitoral do governador desejado pelo Centrão. Em eventual segundo turno contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026, o petista alcançaria 41% das intenções de voto, e o paulista teria 40%. Nos últimos seis meses, a vantagem de Lula sobre o governador caiu de 26 para 1 ponto percentual.

A mesma pesquisa confirmou, ainda, avaliação da cúpula do PL de que embora tenha se tornado réu no núcleo principal da trama que articulou um golpe de Estado e um atentado ao Estado Democrático de Direito em 2022, na ação em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) preservou o mesmo capital político da eleição. Ele perdeu para Lula por uma margem apertada de 1,8 ponto percentual, ou cerca de 2,1 milhões de votos.

O levantamento da Quaest confirma a resiliência política de Bolsonaro ao mostrar que, se ele não estivesse inelegível, o quadro eleitoral seria parecido com o de 2022. Na pesquisa, caso voltassem a se enfrentar em eventual segundo turno, Lula e Bolsonaro apareceriam empatados numericamente, cada um com 41% das intenções de voto. Por isso, nos bastidores, lideranças do PL afirmam que, mesmo inelegível, o ex-presidente será um cabo eleitoral “imbatível” em 2026. “Se quiser, Bolsonaro elege até um poste”, disse à coluna uma fonte do PL. Mesmo se for condenado pelo STF, completou.

A pressão de aliados, inclusive de fora do PL, é no sentido de que Bolsonaro concorde em apoiar Tarcísio na disputa presidencial, eventualmente, com Michelle na vice. Muita água vai correr sob a ponte, entretanto, antes de esse projeto se concretizar. Primeiro porque Bolsonaro prefere ver a ex-primeira-dama eleita senadora pelo Distrito Federal, uma proeza considerada factível.

Paralelamente, Tarcísio tem afirmado a pessoas próximas que gostaria de permanecer em São Paulo para buscar a reeleição. Por fim, o ex-presidente tem mais interesse em declarar apoio a um de seus filhos na corrida presidencial. É nesse contexto que o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) fez movimentos, nos últimos dias, para lançar a pré-candidatura a presidente, mesmo dos Estados Unidos. A Quaest mostrou, no entanto, que ele seria o adversário menos competitivo para Lula. O mesmo cenário é confirmado por pesquisas internas de legendas do Centrão a que a coluna teve acesso.

A Quaest foi um revés para Lula, mas até adversários alertam que a capacidade de reação do petista não deve ser subestimada. Consciente de que além de perder para a direita nas redes sociais, a esquerda também perdeu as ruas para o adversário, Lula incumbiu o deputado Guilherme Boulos (Psol-SP) de instar a militância, que anda desmotivada, a reagir para tentar recuperar esse espaço, especialmente, junto às periferias. O próprio Boulos foi derrotado nos bairros de baixa renda no pleito de 2024 na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Assim, Boulos anunciou que vai liderar uma caravana em ofensiva contra a extrema-direita por 15 Estados, até agosto, começando pelo interior de São Paulo, onde é maior a rejeição à esquerda. “Precisamos agir desde já, sair da defensiva e organizar o contra-ataque”, exortou.

 

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