Valor Econômico
Chapa mais comentada entre lideranças
alinhadas com o bolsonarismo é a de Tarcísio para presidente e de Michelle para
vice
Notório pelas “malasartimanhas” na política e atento às pesquisas públicas e internas, o presidente nacional do PL, ex-deputado Valdemar Costa Neto, explicou a alguns interlocutores por que acredita que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), pode se tornar mais conhecido nacionalmente e cair no gosto popular.
A teoria do cacique do PL é de que Tarcísio acertou logo na estreia de sua gestão pelo modo como enfrentou as tempestades que devastaram o litoral norte de São Paulo em fevereiro de 2023, e isso o cacifou para disputar o voto nacional.
Era feriado de Carnaval e o país estava em
festa quando as fortes chuvas, com deslizamentos de terra, causaram a morte de
65 pessoas, destruíram casas e bloquearam rodovias. Diante de um cenário de
guerra, Tarcísio transferiu o gabinete de governo para São Sebastião, cidade
mais afetada, de onde despachou nas duas semanas seguintes. Valdemar diz a
aliados que gestos como esses “o povo não esquece”.
Ficar perto das vítimas nos piores dias
daquela tragédia foi, sem dúvida, um gesto político importante, mas não blindou
Tarcísio da crítica implacável do eleitor, que, se aprovou o esforço do
governador naqueles dias, não fechou os olhos para os outros problemas do
Estado, principalmente nas áreas de segurança pública, saúde e educação.
Pesquisa Datafolha divulgada há dois meses revelou que a desaprovação de
Tarcísio dobrou em relação a abril de 2023, quanto ele pontuava 11% de ruim e
péssimo. Em abril deste ano, esse índice subiu para 22%. Em contrapartida, 41%
avaliam o governo como ótimo ou bom.
A repórter já escreveu neste espaço que a
chapa presidencial dos sonhos de caciques do Centrão - inclusive daqueles que
ocupam ministérios no governo Lula - contempla Tarcísio na cabeça de chapa, com
a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) na vaga de vice. A percepção do
grupo é de que essa configuração seria “imbatível”.
A pesquisa Genial/Quaest divulgada nessa
quinta-feira (5) mostrou que Tarcísio tornou-se mais conhecido nacionalmente. O
desconhecimento em relação ao mandatário paulista diminuiu de 45% para 39% em
seis meses. O mesmo levantamento confirmou o fôlego eleitoral do governador
desejado pelo Centrão. Em eventual segundo turno contra o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva em 2026, o petista alcançaria 41% das intenções de voto, e
o paulista teria 40%. Nos últimos seis meses, a vantagem de Lula sobre o governador
caiu de 26 para 1 ponto percentual.
A mesma pesquisa confirmou, ainda, avaliação
da cúpula do PL de que embora tenha se tornado réu no núcleo principal da trama
que articulou um golpe de Estado e um atentado ao Estado Democrático de Direito
em 2022, na ação em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), o
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) preservou o mesmo capital político da
eleição. Ele perdeu para Lula por uma margem apertada de 1,8 ponto percentual,
ou cerca de 2,1 milhões de votos.
O levantamento da Quaest confirma a
resiliência política de Bolsonaro ao mostrar que, se ele não estivesse
inelegível, o quadro eleitoral seria parecido com o de 2022. Na pesquisa, caso
voltassem a se enfrentar em eventual segundo turno, Lula e Bolsonaro
apareceriam empatados numericamente, cada um com 41% das intenções de voto. Por
isso, nos bastidores, lideranças do PL afirmam que, mesmo inelegível, o
ex-presidente será um cabo eleitoral “imbatível” em 2026. “Se quiser, Bolsonaro
elege até um poste”, disse à coluna uma fonte do PL. Mesmo se for condenado
pelo STF, completou.
A pressão de aliados, inclusive de fora do
PL, é no sentido de que Bolsonaro concorde em apoiar Tarcísio na disputa
presidencial, eventualmente, com Michelle na vice. Muita água vai correr sob a
ponte, entretanto, antes de esse projeto se concretizar. Primeiro porque
Bolsonaro prefere ver a ex-primeira-dama eleita senadora pelo Distrito Federal,
uma proeza considerada factível.
Paralelamente, Tarcísio tem afirmado a
pessoas próximas que gostaria de permanecer em São Paulo para buscar a
reeleição. Por fim, o ex-presidente tem mais interesse em declarar apoio a um
de seus filhos na corrida presidencial. É nesse contexto que o deputado
licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) fez movimentos, nos últimos dias, para
lançar a pré-candidatura a presidente, mesmo dos Estados Unidos. A Quaest
mostrou, no entanto, que ele seria o adversário menos competitivo para Lula. O
mesmo cenário é confirmado por pesquisas internas de legendas do Centrão a que
a coluna teve acesso.
A Quaest foi um revés para Lula, mas até
adversários alertam que a capacidade de reação do petista não deve ser
subestimada. Consciente de que além de perder para a direita nas redes sociais,
a esquerda também perdeu as ruas para o adversário, Lula incumbiu o deputado
Guilherme Boulos (Psol-SP) de instar a militância, que anda desmotivada, a
reagir para tentar recuperar esse espaço, especialmente, junto às periferias. O
próprio Boulos foi derrotado nos bairros de baixa renda no pleito de 2024 na
disputa pela Prefeitura de São Paulo. Assim, Boulos anunciou que vai liderar
uma caravana em ofensiva contra a extrema-direita por 15 Estados, até agosto,
começando pelo interior de São Paulo, onde é maior a rejeição à esquerda.
“Precisamos agir desde já, sair da defensiva e organizar o contra-ataque”,
exortou.
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