sexta-feira, 6 de junho de 2025

Centro conservador desponta como alternativa - Murilo Medeiros*

O Globo

Eixo ideológico mudou. Social-democracia das últimas três décadas deu lugar ao conservadorismo pragmático

A 14 meses do início do processo eleitoral de 2026, as placas tectônicas da política brasileira se movimentam de forma silenciosa. O governo Lula, sem tração no Parlamento e abatido por gargalos econômicos e perda de credibilidade, corre contra o tempo para reverter a queda de popularidade. A oposição encontra-se fragmentada, dispersa e ancorada à inelegibilidade de Jair Bolsonaro.

O sistema político brasileiro, após uma fase de grande inconstância e polarização sistemática, passa por um período de reajuste, marcado por novas bases de governabilidade, com poder menos assentado no Executivo e mais alicerçado no Parlamento.

O eixo ideológico também mudou. A social-democracia das últimas três décadas deu lugar ao conservadorismo pragmático, sob o domínio do consórcio de partidos de centro, que hoje comanda o Congresso Nacional, as emendas parlamentares, grande parte dos fundos partidário/eleitoral e sete em cada dez prefeituras do país.

As eleições municipais do ano passado revelaram um país cansado do discurso radical. Nas capitais brasileiras, 85% dos nomes vitoriosos orbitam no campo centrista. Não houve, de modo geral, a reedição da polarização entre bolsonarismo e lulismo, expondo um eleitor de perfil conservador, moderado e adepto da estabilidade, ante a alta taxa de recondução dos prefeitos.

O centro conservador, no âmbito da política local, se impôs como ponto de equilíbrio ante os extremos. Em vez do populismo, a sociedade optou por nomes que unissem segurança, eficiência de gestão e respeito aos valores. Essa volta à normalidade sugere uma nova configuração de poder, com menor nível de radicalidade ideológica.

Bolsonaro e Lula continuam como fortes cabos eleitorais para 2026, mas terão de lidar com o desgaste crescente de imagem e a inexorável fadiga de material. Com a ascendência do centro conservador, o jogo político brasileiro abre-se como poucas vezes na História recente.

Para isso, é imprescindível arejar o debate de ideias. Até porque, para 2026, não é a anistia que pautará a agenda pública. Não é a pauta identitária. Não são as ações tresloucadas de Maduro, Putin e Trump. O que está em jogo são os problemas reais que afligem a população brasileira.

É o dinheiro tungado dos aposentados; é o alimento mais caro na mesa das famílias; é o celular roubado na esquina; é a falta de vagas em creches; é a insegurança jurídica; é o peso do Estado sobre os ombros do trabalhador; são as obras de infraestrutura que não saem do papel.

O eleitor não quer titubeio, não quer aventuras. Quer soluções críveis para os problemas públicos: combate firme à criminalidade, fomento ao empreendedorismo, educação de excelência, gestão pública eficiente, emancipação social dos cidadãos, sem dependência eterna de políticas assistencialistas, e crescimento sustentável, conciliando preservação ambiental e reformas econômicas que incentivem a produtividade.

Trata-se de programa reformista, equidistante de radicalismos, com visão humanista e inspirado em doutrinas partidárias internacionais bem-sucedidas, como o PP da Espanha, o PSD de Portugal, o Partido Conservador britânico e a CDU da Alemanha.

Há um farol de oportunidade no horizonte da política brasileira. Quem souber ocupar o centro conservador com sabedoria e coragem — em busca do eleitor mediano para, com ele, construir compromissos firmes em cima de uma agenda de mudanças unida a valores, e não mais de polarização — poderá emergir como uma alternativa para o país.

*Murilo Medeiros, cientista político (UnB), é consultor político-eleitoral e especialista em Poder Legislativo

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