sexta-feira, 6 de junho de 2025

O plano Z do bolsonarismo - Bernardo Mello Franco

O Globo

Governador de Minas pisoteia História para ser notado pelo capitão

Romeu Zema declarou que a existência da ditadura militar no Brasil é “questão de interpretação”. O governador de Minas quer ser notado por Jair Bolsonaro. Para isso, mostrou-se disposto a pisotear a História e insultar as famílias de mortos e desaparecidos.

Em entrevista à Folha de S. Paulo, Zema disse que dará indulto ao capitão se chegar à Presidência. Além de afrontar a Justiça, a promessa se assemelha a uma venda de terreno na lua. Há dois anos, o próprio Bolsonaro tentou tirar Daniel Silveira da cadeia. O Supremo anulou a canetada por desvio de finalidade.

Eleito na onda conservadora de 2018, o governador costumava se apresentar como liberal. Nos últimos tempos, tem indicado que é apenas oportunista. Desde que trocou de marqueteiro, ele passou a investir em espantalhos do bolsonarismo como ideologia de gênero e banheiro unissex. Ontem comparou moradores de rua a carros estacionados em local proibido, que precisariam ser “removidos”.

Ao mesmo tempo que pisca para a extrema direita, Zema cultiva o figurino de homem comum nas redes sociais. Já divulgou vídeos fazendo ginástica, lavando louça e assando pães de queijo. No início do ano, comeu uma banana com casca a pretexto de economizar na feira. Herdeiro de uma grande rede de varejo, ele tem patrimônio declarado de R$ 120 milhões.

O discurso contra privilégios também não combina muito com a prática do governo. Zema aumentou o próprio salário em 300% e reservou R$ 41 milhões para recapear a rodovia que passa em seu sítio. Em abril, usou avião oficial para ir ao comício de Bolsonaro em São Paulo.

A guinada do governador tem chocado antigos aliados. “Para conquistar votos bolsonaristas, vale tudo: comer banana com casca, ignorar os fatos e ser vassalo de Bolsonaro”, criticou o ex-presidenciável João Amoêdo, fundador do Partido Novo.

Apesar de nutrir ambições presidenciais, Zema não vive o melhor momento em Minas. No ano passado, conseguiu perder duas vezes a mesma eleição em Belo Horizonte. Apoiou Mauro Tramonte, derrotado no primeiro turno, e Bruno Engler, vencido no segundo.

A promessa de indulto pode agradar o capitão, mas não parece suficiente para tirar o governador do fim da fila dos políticos que esperam seu apoio em 2026. Até segunda ordem, Zema continuará a ser o plano Z do bolsonarismo.

 

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