O Globo
Governador de Minas pisoteia História para
ser notado pelo capitão
Romeu Zema declarou
que a existência da ditadura militar no Brasil é “questão de interpretação”. O
governador de Minas quer ser notado por Jair
Bolsonaro. Para isso, mostrou-se disposto a pisotear a História e insultar
as famílias de mortos e desaparecidos.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, Zema disse que dará indulto ao capitão se chegar à Presidência. Além de afrontar a Justiça, a promessa se assemelha a uma venda de terreno na lua. Há dois anos, o próprio Bolsonaro tentou tirar Daniel Silveira da cadeia. O Supremo anulou a canetada por desvio de finalidade.
Eleito na onda conservadora de 2018, o
governador costumava se apresentar como liberal. Nos últimos tempos, tem
indicado que é apenas oportunista. Desde que trocou de marqueteiro, ele passou
a investir em espantalhos do bolsonarismo como ideologia de gênero e banheiro
unissex. Ontem comparou moradores de rua a carros estacionados em local
proibido, que precisariam ser “removidos”.
Ao mesmo tempo que pisca para a extrema
direita, Zema cultiva o figurino de homem comum nas redes sociais. Já divulgou
vídeos fazendo ginástica, lavando louça e assando pães de queijo. No início do
ano, comeu uma banana com casca a pretexto de economizar na feira. Herdeiro de
uma grande rede de varejo, ele tem patrimônio declarado de R$ 120 milhões.
O discurso contra privilégios também não
combina muito com a prática do governo. Zema aumentou o próprio salário em 300%
e reservou R$ 41 milhões para recapear a rodovia que passa em seu sítio. Em
abril, usou avião oficial para ir ao comício de Bolsonaro em São Paulo.
A guinada do governador tem chocado antigos
aliados. “Para conquistar votos bolsonaristas, vale tudo: comer banana com
casca, ignorar os fatos e ser vassalo de Bolsonaro”, criticou o
ex-presidenciável João Amoêdo, fundador do Partido Novo.
Apesar de nutrir ambições presidenciais, Zema
não vive o melhor momento em Minas. No ano passado, conseguiu perder duas vezes
a mesma eleição em Belo Horizonte. Apoiou Mauro Tramonte, derrotado no primeiro
turno, e Bruno Engler, vencido no segundo.
A promessa de indulto pode agradar o capitão,
mas não parece suficiente para tirar o governador do fim da fila dos políticos
que esperam seu apoio em 2026. Até segunda ordem, Zema continuará a ser o plano
Z do bolsonarismo.
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