Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Sejamos francos, aqui bem entre nós: quando aparece um político querendo debater propostas, desprovido de qualquer peculiaridade, sem representação simbólica e armado numa campanha apenas com suas idéias, é logo identificado como um sério aspirante à derrota eleitoral.
Junto com todas as homenagens e reconhecimento à sua beleza interior, recebe também a marca do candidato algo aborrecido, de discurso entediante, não obstante a robustez do conteúdo.
Exemplo? O senador Cristovam Buarque. Apresentou-se na disputa presidencial de 2006 para discutir detalhada e profundamente a educação no Brasil. No oficial foi largamente reverenciado, no paralelo era chamado de "candidato de uma nota só" e, no fim, teve pouco mais de 2% dos votos.
Isso num País em que o setor, além de um desastre, está no topo da lista das preocupações do cidadão consultado por pesquisas de opinião. Em tese, a julgar pelo recorrente clamor por "debate de propostas", Cristovam tinha tudo para dar certo.
Na prática, as coisas não funcionam assim. Simplesmente porque o método do embate e o modelo eleitoral não deixam espaço para outro tipo de agenda que não a destinada a produzir votos, seja de que maneira for.
Naquele segundo turno de 2006 a campanha da reeleição do presidente Luiz Inácio da Silva ressuscitou as privatizações em feitio de assombração, conseguiu renovar o caráter pejorativo do termo neoliberal e, logo depois, quando o reeleito privatizou estradas federais ninguém mais se lembrava de nada.
O embate era falso. Não passava de um bem montado jogo de palavras para induzir o voto especialmente no eleitorado mais bem informado, sempre ávido de justificativas doutrinárias (mesmo ocas) para fundamentar suas escolhas.
Em 2006, em todas as anteriores, na eleição que hoje termina e muito provavelmente na próxima cujo processo entra amanhã mesmo em andamento, a pauta de problemas objetivos a serem resolvidos é o de menos.
Vai se esforçar de forma inútil quem tentar se lembrar de uma só campanha em que a elaboração verbal dos candidatos tenha ultrapassado a profundidade das frases feitas ou ido além da manipulação de conceitos previamente consolidados.
Simplificações são muito bem recebidas, principalmente quando elegantemente denominadas de "idéias-força". Sob esse apelido se vende qualquer coisa. "Mudança", por exemplo, não quer dizer nada em circunstâncias normais, mas numa campanha eleitoral pode significar tudo, principalmente a vitória.
E a eleição de 1994, não seria uma exceção, não se deu em torno do apoio do eleitorado ao plano de estabilidade monetária? Justamente. O eleitor ali se manifestou favorável a um projeto posto em prática no ano anterior. Decidiu diante dos resultados, da queda da inflação e não de uma proposta a ser executada depois da eleição.
Se o processo tivesse sido invertido muito provavelmente o Plano Real não teria resistido à ligeireza dos truques de propaganda, à velocidade crescente dos meios de comunicação, ao raciocínio rasteiro inerente à necessidade de facilitar o entendimento da mensagem pretendida.
A eleição municipal acaba hoje também sem que se possa dizer qual foi a sua agenda, digamos, de vida real. Sabemos quais foram os ensinamentos políticos, podemos presumir as repercussões futuras das vitórias e derrotas, são perfeitamente visíveis os mitos derrubados, qualquer um consegue citar os vexames mais notórios, mas, sobre as tão celebradas "propostas", não sobrou nem sequer o rastro.
Isso não acontece por atributos negativos da democracia brasileira. Ocorre porque eleição não é seminário acadêmico, é momento que passa rápido e requer que concorrentes sejam algo rasteiros em suas ações e pensamentos porque não há tempo para mais nada além de correr atrás da maior quantidade possível de votos.
Trata-se de uma constatação que, uma vez admitida com tranqüilidade, nos livraria de uma boa carga de culpa e da obrigação de buscar conteúdo em ambiente meramente teatral.
Para todos
Na mira de todos os concorrentes a presidente, o PMDB é alvo de 11 entre dez especulações sobre alianças partidárias para 2010. Uns dizem que fica com Lula, outros que caminhará com o PSDB, alguns apostam que o partido espera para ver qual a direção mais segura, de acordo com as pesquisas.
Os mais realistas argumentam com os fatos: da redemocratização em diante, não houve uma eleição em que os pemedebistas marchassem unidos.
Em 1989 deixaram Ulysses Guimarães pelo caminho; em 1994 o abandonado foi Orestes Quércia; em 1998 não deixaram Itamar Franco sair candidato; em 2002 parte ficou com José Serra, parte aderiu ao PT; em 2006, só uns poucos resistiram com Geraldo Alckmin.
Moral da história, a expectativa de governo e oposição é a de que em 2010 haja PMDB suficiente para atender à demanda de todo o mercado.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Sejamos francos, aqui bem entre nós: quando aparece um político querendo debater propostas, desprovido de qualquer peculiaridade, sem representação simbólica e armado numa campanha apenas com suas idéias, é logo identificado como um sério aspirante à derrota eleitoral.
Junto com todas as homenagens e reconhecimento à sua beleza interior, recebe também a marca do candidato algo aborrecido, de discurso entediante, não obstante a robustez do conteúdo.
Exemplo? O senador Cristovam Buarque. Apresentou-se na disputa presidencial de 2006 para discutir detalhada e profundamente a educação no Brasil. No oficial foi largamente reverenciado, no paralelo era chamado de "candidato de uma nota só" e, no fim, teve pouco mais de 2% dos votos.
Isso num País em que o setor, além de um desastre, está no topo da lista das preocupações do cidadão consultado por pesquisas de opinião. Em tese, a julgar pelo recorrente clamor por "debate de propostas", Cristovam tinha tudo para dar certo.
Na prática, as coisas não funcionam assim. Simplesmente porque o método do embate e o modelo eleitoral não deixam espaço para outro tipo de agenda que não a destinada a produzir votos, seja de que maneira for.
Naquele segundo turno de 2006 a campanha da reeleição do presidente Luiz Inácio da Silva ressuscitou as privatizações em feitio de assombração, conseguiu renovar o caráter pejorativo do termo neoliberal e, logo depois, quando o reeleito privatizou estradas federais ninguém mais se lembrava de nada.
O embate era falso. Não passava de um bem montado jogo de palavras para induzir o voto especialmente no eleitorado mais bem informado, sempre ávido de justificativas doutrinárias (mesmo ocas) para fundamentar suas escolhas.
Em 2006, em todas as anteriores, na eleição que hoje termina e muito provavelmente na próxima cujo processo entra amanhã mesmo em andamento, a pauta de problemas objetivos a serem resolvidos é o de menos.
Vai se esforçar de forma inútil quem tentar se lembrar de uma só campanha em que a elaboração verbal dos candidatos tenha ultrapassado a profundidade das frases feitas ou ido além da manipulação de conceitos previamente consolidados.
Simplificações são muito bem recebidas, principalmente quando elegantemente denominadas de "idéias-força". Sob esse apelido se vende qualquer coisa. "Mudança", por exemplo, não quer dizer nada em circunstâncias normais, mas numa campanha eleitoral pode significar tudo, principalmente a vitória.
E a eleição de 1994, não seria uma exceção, não se deu em torno do apoio do eleitorado ao plano de estabilidade monetária? Justamente. O eleitor ali se manifestou favorável a um projeto posto em prática no ano anterior. Decidiu diante dos resultados, da queda da inflação e não de uma proposta a ser executada depois da eleição.
Se o processo tivesse sido invertido muito provavelmente o Plano Real não teria resistido à ligeireza dos truques de propaganda, à velocidade crescente dos meios de comunicação, ao raciocínio rasteiro inerente à necessidade de facilitar o entendimento da mensagem pretendida.
A eleição municipal acaba hoje também sem que se possa dizer qual foi a sua agenda, digamos, de vida real. Sabemos quais foram os ensinamentos políticos, podemos presumir as repercussões futuras das vitórias e derrotas, são perfeitamente visíveis os mitos derrubados, qualquer um consegue citar os vexames mais notórios, mas, sobre as tão celebradas "propostas", não sobrou nem sequer o rastro.
Isso não acontece por atributos negativos da democracia brasileira. Ocorre porque eleição não é seminário acadêmico, é momento que passa rápido e requer que concorrentes sejam algo rasteiros em suas ações e pensamentos porque não há tempo para mais nada além de correr atrás da maior quantidade possível de votos.
Trata-se de uma constatação que, uma vez admitida com tranqüilidade, nos livraria de uma boa carga de culpa e da obrigação de buscar conteúdo em ambiente meramente teatral.
Para todos
Na mira de todos os concorrentes a presidente, o PMDB é alvo de 11 entre dez especulações sobre alianças partidárias para 2010. Uns dizem que fica com Lula, outros que caminhará com o PSDB, alguns apostam que o partido espera para ver qual a direção mais segura, de acordo com as pesquisas.
Os mais realistas argumentam com os fatos: da redemocratização em diante, não houve uma eleição em que os pemedebistas marchassem unidos.
Em 1989 deixaram Ulysses Guimarães pelo caminho; em 1994 o abandonado foi Orestes Quércia; em 1998 não deixaram Itamar Franco sair candidato; em 2002 parte ficou com José Serra, parte aderiu ao PT; em 2006, só uns poucos resistiram com Geraldo Alckmin.
Moral da história, a expectativa de governo e oposição é a de que em 2010 haja PMDB suficiente para atender à demanda de todo o mercado.
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