DEU NO JORNAL DO BRASIL
No primeiro dia útil depois da eleição, a presidente Dilma Rousseff começou a se deslocar em direção ao poder e, na mão contrária, o presidente em ocaso ainda não se deu por achado, e dividiu civilizadamente com ela o encontro com a imprensa. Empurrado para fora das comodidades e incômodos oficiais, pela mesma fatalidade democrática que não abre mão da rotatividade, Lula até que se comportou melhor do que como cabo eleitoral na campanha presidencial. No cruzamento das linhas – ela rumo ao poder, ele na direção oposta – até que o presidente se saiu melhor do que era esperado, pois dele nunca se avalia a desproporção entre as palavras e os fatos.
O fato político naquele dia foi o primeiro encontro da dupla do entra-e-sai com repórteres de plantão onde houver acontecimento. O presidente que se retira ficou um passo atrás, na posição de papagaio de pirata da História do Brasil (em relação à presidente que chega) ostensivamente convencido de que voltará na primeira oportunidade. Um direito garantido pela milhagem, pois ninguém tem mais horas de vôo do que ele no exercício das prerrogativas presidenciais de ir e vir. Deixou à sucessora a palavra e ficou nos apartes. Como foi moda dizer há um século, o Brasil agora, como o Rio de então, civiliza-se.
Do que Lula disse, nada sobrará para a História, entre o que aprendeu e o que esqueceu. Passou o recibo: rei morto, rei posto. Nada original, porque a República continua firme depois que ele passou como um vendaval, este sim, sem igual na história deste país. Mas bem podia ter variado – rei morto, rainha posta. Lula não costuma deixar espaço a ninguém que divida com ele uma situação favorável. Gosta é de bola dividida. Lado a lado, Dilma e Lula mostraram pequenas diferenças no modo de ver certas questões. Nada impede que se ampliem com o correr do tempo as divergências bem disfarçadas. Não será preciso mais do que os dois meses em curso.
O que a oportunidade da primeira entrevista da presidente mostrou foi que ele continua o mesmo e ela já é outra, desde o momento em que as urnas deram a última palavra. Separaram-se. Ele para esperar não sabe bem o que. Quanto a ela, só se saberá depois. Lula continua incompleto sem o terceiro mandato, pelo qual passou a exibir agora uma indiferença que não engana. Não deve ter convencido nem mesmo à sucessora. As diferenças entre eles tendem a cumprir sua função, que será a de separá-los no secundário e, mais adiante, a ruptura no essencial será inevitável pelas razões que movem o mundo e regem as relações entre criador e criatura. Lula não é de considerar leis mais do que palavras no papel. Inclusive as leis de Murphy que, certamente, estão à espreita da oportunidade.
No primeiro dia depois de emergir vitoriosa das urnas, assim como a Venus na versão de Botticelli nasceu de uma concha, Dilma saiu da campanha eleitoral e lembrou, no dia seguinte, que a reeleição é direito de quem está no poder (presidente, governador ou prefeito). Não há como deixar de considerar as coisas por aí – ressalvou a presidente, que cuida da transmissão do poder com naturalidade. Disse também que não é prioridade na própria sucessão e pode perfeitamente esperar.
A presidente tem dois meses para cuidar da posse, de modo que o presidente, ao passar a ex, não fique em situação politicamente desconfortável e entre em depressão assim que desencarnar completamente. O poder, para quem o deixa, tem alguma coisa a ver com fatalidade e comporta flores de retórica na biografia de quem sai.
Enquanto isso, do alto das montanhas mineiras e com o novo mandato tinindo, o senador Aécio Neves lançou o anátema ao praticamente ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a observação de que ele saiu do governo menor do que entrou.
No primeiro dia útil depois da eleição, a presidente Dilma Rousseff começou a se deslocar em direção ao poder e, na mão contrária, o presidente em ocaso ainda não se deu por achado, e dividiu civilizadamente com ela o encontro com a imprensa. Empurrado para fora das comodidades e incômodos oficiais, pela mesma fatalidade democrática que não abre mão da rotatividade, Lula até que se comportou melhor do que como cabo eleitoral na campanha presidencial. No cruzamento das linhas – ela rumo ao poder, ele na direção oposta – até que o presidente se saiu melhor do que era esperado, pois dele nunca se avalia a desproporção entre as palavras e os fatos.
O fato político naquele dia foi o primeiro encontro da dupla do entra-e-sai com repórteres de plantão onde houver acontecimento. O presidente que se retira ficou um passo atrás, na posição de papagaio de pirata da História do Brasil (em relação à presidente que chega) ostensivamente convencido de que voltará na primeira oportunidade. Um direito garantido pela milhagem, pois ninguém tem mais horas de vôo do que ele no exercício das prerrogativas presidenciais de ir e vir. Deixou à sucessora a palavra e ficou nos apartes. Como foi moda dizer há um século, o Brasil agora, como o Rio de então, civiliza-se.
Do que Lula disse, nada sobrará para a História, entre o que aprendeu e o que esqueceu. Passou o recibo: rei morto, rei posto. Nada original, porque a República continua firme depois que ele passou como um vendaval, este sim, sem igual na história deste país. Mas bem podia ter variado – rei morto, rainha posta. Lula não costuma deixar espaço a ninguém que divida com ele uma situação favorável. Gosta é de bola dividida. Lado a lado, Dilma e Lula mostraram pequenas diferenças no modo de ver certas questões. Nada impede que se ampliem com o correr do tempo as divergências bem disfarçadas. Não será preciso mais do que os dois meses em curso.
O que a oportunidade da primeira entrevista da presidente mostrou foi que ele continua o mesmo e ela já é outra, desde o momento em que as urnas deram a última palavra. Separaram-se. Ele para esperar não sabe bem o que. Quanto a ela, só se saberá depois. Lula continua incompleto sem o terceiro mandato, pelo qual passou a exibir agora uma indiferença que não engana. Não deve ter convencido nem mesmo à sucessora. As diferenças entre eles tendem a cumprir sua função, que será a de separá-los no secundário e, mais adiante, a ruptura no essencial será inevitável pelas razões que movem o mundo e regem as relações entre criador e criatura. Lula não é de considerar leis mais do que palavras no papel. Inclusive as leis de Murphy que, certamente, estão à espreita da oportunidade.
No primeiro dia depois de emergir vitoriosa das urnas, assim como a Venus na versão de Botticelli nasceu de uma concha, Dilma saiu da campanha eleitoral e lembrou, no dia seguinte, que a reeleição é direito de quem está no poder (presidente, governador ou prefeito). Não há como deixar de considerar as coisas por aí – ressalvou a presidente, que cuida da transmissão do poder com naturalidade. Disse também que não é prioridade na própria sucessão e pode perfeitamente esperar.
A presidente tem dois meses para cuidar da posse, de modo que o presidente, ao passar a ex, não fique em situação politicamente desconfortável e entre em depressão assim que desencarnar completamente. O poder, para quem o deixa, tem alguma coisa a ver com fatalidade e comporta flores de retórica na biografia de quem sai.
Enquanto isso, do alto das montanhas mineiras e com o novo mandato tinindo, o senador Aécio Neves lançou o anátema ao praticamente ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a observação de que ele saiu do governo menor do que entrou.
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