Parlamento grego aprova voto de confiança ao governo, e cúpula acaba sem acordo sobre crise
Numa votação apertada ontem à noite, o Parlamento grego concedeu, por 153 votos a favor e 145 contra, o voto de confiança ao governo do premier George Papandreou. Ele, que desistiu do referendo, obteve o sinal verde para fazer as reformas que garantem o empréstimo dos europeus. De outro lado, a cúpula do G-20 em Cannes, na França, terminou sem a definição de onde virá o dinheiro para reforçar o caixa do FMI, o que seria fundamental para ajudar os países em crise. No rascunho do documento, havia previsão de que o Fundo seria reforçado em US$ 1 trilhão, mas o número desapareceu na versão final do texto assinado pelos líderes das maiores economias do mundo. A presidente Dilma Rousseff criticou no G-20 a política cambial da China.
G-20 "apaga" US$1 tri para FMI de documento final
Após prever recursos para o Fundo nos rascunhos, grupo conclui reunião de cúpula sem definir valor para salvar países
Deborah Berlinck
CANNES, França. O encontro de cúpula do G-20 - que reuniu durante dois dias as maiores economias do mundo - terminou ontem sob a sombra do governo da Grécia afundando na crise e sem responder à pergunta que todos esperavam: quem vai dar, e quanto, o dinheiro adicional necessário para que o Fundo Monetário Internacional (FMI) ajude a Europa na pior crise de sua história e evite que outros países de fora da Europa sejam tragados com eles para o buraco? Ou ainda: quem vai contribuir com o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (Feef), outro mecanismo para salvar o continente?
Nenhum país colocou números na mesa. A frustração era notória, ontem, entre os franceses, organizadores da cúpula. O grande plano para salvação da Europa que a União Europeia (UE) esperava anunciar - e que passava por um aumento dos fundos do FMI - acabou num parágrafo cheio de promessas. Mas todos os montantes que constavam do rascunho do comunicado final foram retirados. A ideia era aumentar os fundos do FMI dos atuais US$300 bilhões para US$700 bilhões. Ou seja: dotar a instituição com um total de US$1 trilhão para as crises.
Dilma promete ajuda mas não cita valores
Esta decisão foi empurrada para uma reunião de ministros das Finanças do G-20, possivelmente no início de dezembro, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O comunicado final do G-20 limitou-se a repetir o de sempre:
"Estamos dispostos a garantir que recursos adicionais possam ser mobilizados rapidamente e pedimos a nossos ministros das Finanças para trabalhar até sua próxima reunião no desenvolvimento de um leque de opções que incluam contribuições bilaterais ao FMI, DES (Direitos Especiais de Saque, a moeda do FMI) e contribuições voluntárias à estrutura especial do FMI."
A presidente Dilma Rousseff prometeu ajuda do Brasil ao fundo, mas não citou números. Ela disse que valores não foram discutidos, mas rascunhos do comunicado continham cifras:
- A ampliação do Fundo Monetário Internacional num momento de crise é importante para reduzir o risco sistêmico. Quanto a valores, não foram discutidos - afirmou Dilma, acrescentando que os europeus precisam de mais tempo para implementar o resgate da dívida grega, definir o fundo de estabilização e recapitalizar os bancos.
O FMI está entrando até agora com um terço da ajuda aos países europeus em crise e se tornou numa instituição crucial na prevenção do contágio. Mas com a Itália, terceira maior economia da zona do euro, cambaleando, teme-se que os atuais recursos do FMI não sejam suficientes.
A diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde, garante que o que o FMI tem hoje é suficiente para o momento atual. A questão é: e depois? Lagarde disse que os países do G-20 garantiram que vão fazer "o que for necessário em termos de recursos, para que o FMI esteja totalmente equipado para as crises".
- Sei que alguns queriam ver grandes números anunciados, mas acho que, dado os graus de incerteza e volatilidade nas circunstâncias atuais, é melhor não ter uma limitação (de número) e sim um comprometimento unânime do G-20 de que recursos estarão disponíveis - disse.
Feef também fica sem definição de recursos
Além da indefinição no aumento dos recursos do FMI, nenhum país anunciou novas contribuições para o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (Feef). O fundo tem hoje 440 bilhões, mas que deverão ser consumidos por Irlanda, Portugal e Grécia. Na semana passada, a Europa negociou um plano de combate à crise que previa não apenas ajuda à Grécia como um aumento dos recursos do Feef.
Com a recusa do Banco Central Europeu (BCE) em pôr dinheiro nisso, restaram aos europeus apelar para países emergentes, como China ou Brasil. Dilma, porém, descartou a possibilidade de contribuir para o fundo, e nenhum outro país se aventurou a colocar um montante na mesa de reunião do G-20.
FONTE: O GLOBO
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