Os resultados divulgados na semana passada
pelo IBGE confirmam que o crescimento do PIB brasileiro vem perdendo força
desde o início de 2011, numa espécie de pouso suave da economia no País. No
terceiro trimestre deste ano, sua variação anual não passou de 0,9%. Contudo,
as avaliações de opinião pública sobre o governo Dilma ainda não foram afetadas
por esse pífio desempenho. Uma das razões apontadas por analistas para esse
aparente paradoxo é o comportamento do mercado de trabalho, indicando quase
pleno emprego. Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), tomando como
referência março de 2011 (último mês do primeiro trimestre daquele ano), o
desemprego caiu de 6,5% para 5,3% em outubro passado - a mais baixa taxa
registrada na série histórica do IBGE. Nos últimos 12 meses, a população
ocupada aumentou 3% e a massa de rendimento dos ocupados subiu 7,9%, tendências
opostas à trajetória do PIB.
Mas será que a PME é a melhor referência para
ver a sensibilidade do mercado de trabalho às variações do PIB no curto prazo?
Para examinar essa questão, torna-se necessário entender o significado dos
dados da PME, investigação domiciliar que consolida informações do lado da
oferta de mão de obra.
A taxa de desemprego já vem caindo há muito
tempo. Se hoje está em torno de 5%, era de 13% em outubro de 2003. Nos
segmentos mais jovens da população, por causa do aumento da renda familiar das
classes de rendimento médio, a educação pode estar jogando um papel importante
para desestimular o reconhecimento de pessoas cujo estudo é sua atividade
principal como economicamente ativas - ainda que elas tenham alguma inserção
intermitente no mercado de trabalho.
Vale lembrar que, no questionário da PME, o
bloco que investiga a situação da educação antecede os quesitos relativos ao
trabalho. Nos segmentos com idade acima de 55 anos, só se considera
economicamente ativo quem exerce alguma ocupação, porque na sua maioria são
aposentados. Nessa situação, raros seriam os que declarariam estar buscando emprego.
Assim, a parte da população economicamente ativa (PEA) mais sensível às
variações de demanda é constituída por adultos, aproximadamente entre 20 e 59
anos, que representam mais de 60% da PEA.
Quanto aos ocupados, percebe-se que 84% estão
trabalhando no setor de serviços, incluídos aqueles na administração pública.
Empregados nos setores industriais e de utilidade pública não passam de 16%. Em
outubro de 2011 eram 16,3% e caíram para 15,9%, um ano depois.
Ademais, a PME cobre seis regiões metropolitanas
do Brasil - Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto
Alegre -, cujo peso relativo nas atividades industriais tem diminuído e é nulo
nas agrícolas. Logo, como a redução do crescimento do PIB decorre da queda
dessas atividades, os dados de mercado de trabalho levantados pela PME não são
os mais apropriados para a avaliação das reações do nível de emprego às
flutuações da economia.
Registros do lado da demanda, como os do
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do
Trabalho, que resultam das informações mensais de admitidos e demitidos nas
empresas, são mais sensíveis ao comportamento da economia. Esses dados têm
cobertura nacional, abrangem todos os setores da economia e representam o
comportamento do emprego formal. Ao contrário daqueles da PME, mostram queda de
47% no emprego formal no Brasil, nos últimos 12 meses. Verifica-se, assim, que
houve uma expressiva redução no nível de emprego e, em consequência, o mercado
de trabalho não está em pleno emprego, como admitem alguns analistas.
Buscar a recuperação da economia no curto
prazo com medidas de estímulo à demanda, conforme as tomadas no passado
recente, tem se mostrado inócuo e poderá adiar por mais tempo a possibilidade
de retomada sustentada do crescimento. Os desafios são: aumentar a
competitividade e a produtividade da economia e estimular a poupança e os
investimentos. Esses esforços exigem maior competência na gestão pública,
melhoria na qualidade da educação e investimentos em infraestrutura. Mais um
ano de baixo crescimento sem perspectivas concretas de retomada poderá pôr a
perder os ganhos passados de estabilidade e inclusão e o prestígio do governo.
Professor da Fundação Dom Cabral; foi
ministro do Trabalho e do Planejamento no governo FHC.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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