quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Lançamento de Aécio é visto com ressalva por tucanos e aliados

Ala paulista do PSDB teme isolamento no partido; DEM e PPS acham que ainda é cedo para escolha

Fernanda Krakovics, Gustavo Uribe

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Mesmo reconhecendo que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) construiu maioria no partido, e que só não será candidato a presidente da República se não quiser, o PSDB de São Paulo considerou precipitado o lançamento da pré-candidatura do mineiro por líderes nacionais tucanos, em evento anteontem. A apresentação do nome de Aécio, sem uma discussão sobre alianças, também não empolgou outros setores do PSDB e partidos de oposição aliados dos tucanos.

Ontem, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse ser contra a antecipação da disputa eleitoral e afirmou que a escolha do candidato tucano à sucessão presidencial deve ficar apenas para a segunda metade de 2013:

- Não sou favorável a antecipar disputa eleitoral, acho que encurta o governo. O Aécio Neves é um grande nome, foi um grande governador e é um senador de honra. Ele tem todas as qualificações para tamanha responsabilidade, mas acho que essa questão de escolha de candidato tem de ficar mais para frente- disse.

Aliado do ex-governador de São Paulo e candidato derrotado à Presidência José Serra, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) defendeu que o partido primeiro se reorganize, construa um discurso, uma plataforma eleitoral e uma unidade "sem brechas":

- Temos que arrumar bem a casa. Achei que o lançamento foi feito antes da hora. O próprio Aécio reagiu com prudência, porque ele tem noção do "timing" da política.

Para contornar a situação, Aécio viajará no final deste mês para São Paulo para conversar com Alckmin e Serra, que retornará nas próximas semanas de viagem aos Estados Unidos. Ontem, o senador mineiro pisou no freio, mais uma vez, sobre pré-candidatura presidencial, como fizera no evento de segunda-feira, quando teve sua candidatura lançada por líderes tucanos em Brasília, incluindo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, durante um encontro com prefeitos. Após fazer ontem um discurso no Senado atacando o governo pela forma como escolheu para reduzir a tarifa de energia elétrica, com diminuição dos ganhos das empresas e não com desoneração da conta de luz, Aécio comentou ontem a iniciativa de lançar sua pré-candidatura:

- Essa é uma questão para ser discutida no tempo certo. Foi uma manifestação do presidente Fernando Henrique, mas o PSDB tem outros quadros. Eu defendo que uma candidatura presidencial surja apenas no amanhecer de 2014 - disse o mineiro.

Álvaro dias diz que foi surpreendido

Os tucanos paulistas temem que a escolha de Aécio neste momento isole a ala paulista na composição do novo comando do partido, que será definido em maio. O atual presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, defende que Aécio o substitua no posto, mas o senador mineiro tem dúvidas se a nova função poderá engessá-lo em suas pretensões políticas. Com o enfraquecimento político de Serra, a ala paulista tem se movimentado para evitar o avanço de Minas Gerais e vêm defendendo o nome de Alberto Goldman para a direção da sigla.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que defendia prévias para a escolha do candidato à Presidência da República, associadas a uma campanha de filiação ao partido, disse que foi surpreendido e criticou a definição de um candidato de cima para baixo:

- Fomos pegos de surpresa. Governadores e senadores não foram convidados a discursar. A princípio era um evento técnico, para prefeitos. Não há nenhuma crítica, mas também é normal que discordemos. A militância partidária não pode ser tratada como patuleia.

Aliado de Serra, o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), fez pouco caso do lançamento do nome de Aécio. Disse esperar que isso ajude os tucanos, pelo menos, a fazer uma oposição melhor.

- O PSDB avalia que isso pode coesionar (sic) o partido. Eu espero que isso ajude o partido a fazer uma melhor oposição. A candidatura é do PSDB, não do PPS. Temos vários alternativas, inclusive candidatura própria. Adiantar as coisas, para nós, não tem sentido, não é nada interessante - disse Freire.

DEM também vê lançamento com ressalvas

Presidente do DEM, sigla também aliada dos tucanos, o senador José Agripino (RN) disse que, mais importante do que lançar um nome, é torná-lo viável. Em seu partido, a avaliação é que anunciar desde já o cabeça de chapa pode atrapalhar conversas para formação de alianças, principalmente com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que vem tomando atitudes e adotando discurso de independência do PT.

- A oposição não pode abrir mão de oxigenar relações com outros partidos. Só teremos chance de êxito ampliando nosso arco partidário. O lançamento apenas não significa dizer que agora temos um candidato. Ele tem que ser viável. Com uma candidatura posta, pode ser entendido que não conversaremos com mais ninguém - disse Agripino.

Fonte: O Globo

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