quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Governo pressiona IBGE no PIB

Após o PIB fraco no terceiro trimestre, o ministro Guido Mantega pediu que o IBGE reveja os dados referentes a gastos do governo com educação e saúde. Ele afirmou que essas correções são "normais". Horas depois, disse que era só um pedido de esclarecimento.

Mantega pede a IBGE que revise dados de crescimento do PIB

Ministro achou "estranha" a estabilidade de saúde e educação públicas

Cristiane Bonfanti, Vivian Oswald e Cássia Almeida

BRASÍLIA e RIO - Após a divulgação de um crescimento de 0,6% do PIB no terceiro trimestre, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, informou ontem que pediu para o IBGE revisar os dados apurados entre julho e setembro. Chamou a atenção do ministro o fato de serviços de administração, saúde e educação públicas terem ficado estáveis (0,1%) ante o segundo trimestre.

- É um dado estranho, porque chequei os dados do governo federal, e é muito difícil você diminuir saúde e educação. Só sobe, até por lei. O governo é obrigado a aumentar o gasto com saúde e educação. Então, pedimos para o IBGE revisar esses dados. É verdade que, quando saem esses dados, é uma primeira aproximação. Na segunda, há correções que são naturais, porque está muito no início - disse o ministro durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal.

Mantega lembrou que o PIB do segundo trimestre já foi corrigido. Era 0,4% e foi para 0,2%. E disse que isso "é normal". Mais tarde, tentou minimizar a declaração: não se trataria de pedido formal de revisão, mas de esclarecimento:

- Só queremos que eles nos expliquem se é normal - disse Mantega.

O próprio ministro fez revisões e admitiu que a economia crescerá apenas 0,8% no quarto trimestre ante o terceiro, devido a um cenário "mais pessimista". A previsão anterior era de 1%.

Mantega afirmou que ações para investimentos serão anunciadas esta semana. Entre elas, estaria a prorrogação do programa de juros subsidiados do BNDES para compra de máquinas e caminhões.

A fala do ministro preocupa, diz o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale:

- É raro haver erros dessa natureza em que o IBGE volta atrás. Na próxima divulgação, se houver grande mudança nos dados de administração pública, ficará a suspeita de que houve interferência no IBGE. Já temos experiência na Argentina de mexer demais nos dados do Indec (instituto oficial de estatísticas argentino). Mas não creio que o governo queira ir por esse lado.

A polêmica sobre os números do PIB, que surpreendeu também os analistas do mercado, repercutiu entre economistas. Em artigo publicado ontem no "Valor Econômico", o ex-diretor do Banco Central Francisco Lopes afirmou que os juros mais baixos do país não poderiam ter feito a atividade econômica recuar. O setor de intermediação financeira teve resultado negativo e contribuiu para o fraco desempenho do PIB. Segundo Lopes, o indicador usado pelo IBGE para deflacionar o resultado (ou seja, descontar os efeitos da inflação) do setor financeiro não foi adequado, diante da queda significativa dos spreads (diferença entre as taxas pagas pelo bancos e as cobradas nos empréstimos) e dos juros nos últimos trimestres. Para ele, o PIB deveria ter crescido 1,72% nos últimos quatro trimestres, e não o 0,9% registrado.

Professor da UFF e ex-coordenador de Contas Nacionais do IBGE, Claudio Considera destaca os erros generalizados das projeções:

- Todo mundo errou a projeção. Quando isso acontece, a culpa é do termômetro.

O IBGE divulgou nota sobre as críticas: "Não ocorreram mudanças metodológicas nem de fontes de informação no cálculo do PIB, para o qual são seguidas as recomendações internacionais". O instituto afirmou que segue "as recomendações da ONU adotadas pelos principais institutos oficiais de estatística do mundo".

Fonte: O Globo

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