sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

‘Nova’ poupança perde da inflação

Caderneta com novas regras rendeu menos que o IPCA, enquanto a poupança ‘antiga’ teve ganho real de 0,6%, o menor desde 2004

Luiz Guilherme Gerbelli

SÃO PAULO - O resultado da inflação superou em muito o rendimento da poupança, aplicação mais popular do País. Em dezembro, por exemplo, o IPCA de 0,79% ficou bem acima do desempenho na nova poupança (0,413%) e da antiga (0,50%).

Em 2012, o País enfrentou um cenário macroeconômico incomum. A taxa básica de juros caiu, enquanto a inflação aumentou. O resultado foi que a nova poupança perdeu da inflação entre setembro e dezembro.

Em relação ao desempenho da poupança antiga, um levantamento da Economatica divulgado ontem mostrou que a rentabilidade nominal no ano passado foi de 6,47%, a mais baixa em 46 anos. O rendimento real (descontada a inflação) foi de 0,60%, o menor desde 2004.

O novo cálculo para o rendimento da poupança começou a valer para depósitos realizados a partir de 4 de maio. A nova rentabilidade está atrelada a 70% da Selic e vale no cenário em que a taxa de juros estiver em 8,5% ou menos. Para os depósitos realizados antes dessa data, continua o rendimento mensal de 0,5% mais a Taxa Referencial (TR).

Atratividade. A mudança na forma de tributação não tirou a atratividade de poupança. Pelo contrário. De maio até dezembro, a captação foi de R$ 45,6 bilhões, segundo o Banco Central. Em todo o ano passado, a captação foi de R$ 49,7 bilhões. O valor apurado superou o recorde anterior, de R$ 38,7 bilhões em 2010 e ficou 250% acima do resultado de 2011 ( R$ 14,2 bilhões).

Apesar do aumento, houve queda nos rendimentos aplicados no período. Os recursos que foram depositados na poupança renderam 2% menos do que o verificado em 2011. "A poupança continua competitiva, apesar de todas as mudanças", afirma Fábio Colombo, administrador de investimentos. A grande vantagem da aplicação é não ter cobrança de Imposto de Renda e da taxa de administração. Além disso, a aplicação está garantida em até R$ 70 mil pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC).

É importante lembrar que a redução da taxa básica de juros da economia também afetou os fundos, sobretudo os mais conservadores como os DI e de renda fixa. "Esse recorde na captação da poupança não veio somente de pessoas de baixa renda, sem acesso a taxas de retorno maior. A poupança passou a ser uma boa alternativa com a redução dos juros", diz Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

Com a taxa de juros atual em 7,25% ao ano, a nova poupança tem um rendimento superior aos fundos de renda fixa que cobram taxa de administração acima de 1,5% ao ano, mostra um estudo da própria Anefac. A poupança antiga continua imbatível e é melhor do que todos os fundos de renda fixa. "Nada ganha da poupança antiga. Ela é imbatível", afirma Oliveira.

De toda forma, o fim do ganho fácil com juro alto tem de levar o brasileiro a pesquisar e a estudar novas modalidades de investimentos, alertam os especialistas. "Há uma falta de conhecimento com os investimentos", afirma Mauro Calil, educador financeiro. Como uma das alternativas para a poupança, ele sugere, por exemplo, o Tesouro Direto ou o CDB de bancos médios.

Preocupação. Na avaliação de Ricardo Rocha, professor do Insper, a elevada captação da poupança também pode ser fruto da preocupação do brasileiro em poupar, sobretudo no cenário em que a inadimplência teve forte alta em 2012. "Eu acredito que a alta do endividamento e da inadimplência fizeram o brasileiro ter um pouco mais de preocupação em relação a guardar dinheiro. Além disso, para quem começa com pouco, a sugestão mais comum é sempre ir para a poupança."

Fonte: O Estado de S. Paulo

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