No centro comercial de Bangcoc, na interseção de dois enormes shopping centers e de um complexo de hotéis de luxo, rodeado por grandes telões luminosos da mais alta tecnologia, símbolos da supremacia asiática nesta área, está o santuário de Erawan. Visitado diariamente por milhares de turistas curiosos e habitantes locais que fazem suas rezas e oferendas ao deus hindu Brahma, o santuário é anacrônico. O grau de surrealismo é delicioso: Givenchy e Lanvin ao lado de muito incenso, guirlandas de flores e dançarinas com trajes típicos tailandeses. Erawan é o nome tailandês do mítico elefante branco de três cabeças do budismo e do hinduísmo. Para muitos povos orientais, o elefante branco é um animal sagrado, reverenciado, um símbolo de sorte e vida longa. Um sinal de bom agouro.
Pena que para nós, ocidentais, ele tenha outro significado. Para nós, "elefante branco" é uma expressão que designa a posse de algo do qual não é possível se desvencilhar, cujo custo - de manutenção, ou de se carregar - supera o seu suposto benefício ou valor. O ano de 2013 começa com o vislumbre de pelo menos um elefante branco: o oneroso sistema elétrico brasileiro, que tende a se tomar ainda mais problemático em razão das interferências recentes do govemo e da dependência das usinas hidrelétricas de fio d"água, que nos submetem às variações climáticas que afetam os níveis dos reservatórios. A alta dos preços de energia no mercado livre proveniente do uso inten sivo do sistema termoelétrico já tem levado os grandes consumidores industriais a considerar a hipótese de um “racionamento branco” uma redução intencional do consumo de energia.
Se a indústria reduzir a demanda por energia elétrica, insumo fundamental para a produção, o ritmo da atividade no setor poderá ser menor, influenciando as perspectivas para o crescimento econômico de 2013. Ou seja, o racionamento branco derivado de um sistema de geração e distribuição de energia descorado pode gerar uma expansão econômica sem o grau de pigmentação desejado pelo govemo, ano em que se espera algo com mais vivacidade do que o pálido 1% de crescimento de 2012.
O elefante branco da energia elétrica tem outras implicações. Como alertam os peritos do setor, ele pode impedir a redução das tarifas - os 20% almejados pela presidente -, que tanto bem faria para a inflação de 2013. Diante das ameaças para a atividade e para o rumo dos preços neste ano que se inicia, sobretudo depois de resultados pouco auspiciosos nos seus primeiros dois anos de govemo, não surpreende que Dilma tenha decidido convocar uma reunião de emergência para avaliar a situação energética do País. Tomara que não tenha sido tarde demais.
Mas a manada de elefantes de Dilma não é totalmente desprovida de cor. As infelizes manobras contábeis para garantir o cumprimento da meta de superávit primário em 2012 (o resgate antecipado de R$ 124 bilhões do Fundo Soberano e a antecipação de dividendos do BNDES e da Caixa) pisoteiam a credibilidade fiscal como um imenso elefante vermelho que estraçalha um dos pilares fundamentais da estabilidade macroeconômica. Não há estabilidade sem credibilidade na política econômica, uma lição que já deveríamos ter aprendido. E uma das razões para o superávit mais baixo foi justificada: a ampliação das desonerações, das ações do govemo para diminuir os custos das empresas. A ofuscação deliberadamente tosca dos efeitos disso sobre as contas públicas é mais um motivo para que os periódicos internacionais que nossas autoridades não mais acompanham continuem a publicar matérias jocosas sobre as trapalhadas do govemo brasileiro.
Enquanto crescem os riscos econômicos de curto e de médio prazos, o ministro da Fazenda, em fase zen, promete mais calma e serenidade em 2013, afirmando que a maioria das medidas para reanimar a economia brasileira já oi tomada. A ver.
Uma coisa, porém, parece certa: a saraivada de medidas adotadas em 2012 é uma manada de elefantes brancos e vermelhos que entra em 2013 para fiel nenhum - budista ou hindu - pôr defeito.
Economista e professora da PUC-RJ
Fonte: O Estado de S. Paulo
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