No aniversário do Golpe de 1964, o Palácio do Planalto compartilhou ontem um vídeo segundo o qual o Exército, naquela ocasião, “salvou” o Brasil. O material foi encaminhado a jornalistas, via aplicativo de celular, por um telefone da Secretaria de Comunicação da Presidência.
Planalto compartilha vídeo que exalta golpe de 64
Encaminhado a jornalistas por um telefone da Secretaria de Comunicação da Presidência, filme de quase dois minutos diz que Exército ‘salvou’ o país; material foi replicado pelo deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente
Amanda Almeida e Gustavo Maia / O Globo
BRASÍLIA Um vídeo que trata o golpe de 1964 como um momento da História em que o Exército “salvou” o Brasil foi compartilhado ontem pelo Palácio do Planalto via aplicativo de mensagens de celular. Num tom consonante com as declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre a ditadura, o material foi encaminhado a jornalistas por um telefone da Secretaria de Comunicação da Presidência.
Ontem, o movimento, que culminou com a derrubada do ex-presidente João Goulart e com o início de 21 anos de ditadura, completou 55 anos. O período foi marcado pelo fechamento do Congresso Nacional, cassação de direitos políticos, perseguição e tortura de adversários políticos, além de censura à imprensa. Nas últimas duas semanas, Bolsonaro causou polêmica ao determinar a comemoração da data. Criticado, disse que a intenção do governo era, na verdade, “rememorar” o dia.
No vídeo, um senhor diz que quem tem a idade dele se lembra de um momento de “escuridão” para o país. Descreve essa época como um “tempo de medos e ameaças”, em que os “comunistas prendiam e matavam seus compatriotas”. Sugere aos jovens que consultem jornais e filmes do período para saber que “havia medo no ar”, “greve nas fábricas”, “insegurança”. O narrador diz, então, que o Brasil se “lembrou” que “possuía um Exército” e, de acordo com ele, o povo conclamou a ação dos militares.
“O Exército nos salvou. O Exército nos salvou. Não há como negar. E tudo isso aconteceu num dia comum de hoje, um 31 de março. Não dá para mudar a História”, diz o apresentador do vídeo. Com quase dois minutos, o material não tem um selo indicando sua origem e termina com a mensagem de que os militares não querem “palmas e nem homenagens”. “O Exército apenas cumpriu o seu papel”, registra o filme.
Na última sexta-feira, liminar de uma juíza da 6ª Vara Justiça Federal em Brasília chegou a proibir o governo de comemorar o aniversário do golpe. Ela atendeu a um pedido da Defensoria Pública da União. A Advocacia-Geral da União (AGU), então, recorreu da decisão. “Tendo em vista que existem eventos agendados para amanhã (sábado) e domingo (ontem), dado o tamanho do Brasil e capilaridade das Forças Armadas, algumas unidades estão devidamente preparadas para a realização das cerimônias”, argumentou a AGU no recurso. Uma desembargadora de plantão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região derrubou a decisão e liberou os atos alusivos a 64.
“BRASIL LIBERTO”
O vídeo foi compartilhado, via redes sociais, pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente. Junto da peça, ele escreveu: “Num dia como o de hoje o Brasil foi liberto. Obrigado militares de 64! Duvida? Pergunte aos seus pais ou avós que viveram aquela época como foi?”.
A Secretaria de Comunicação da Presidência da República confirmou ao GLOBO que o vídeo foi distribuído por um grupo de transmissão de mensagens do Planalto, mas disse que não comentaria o teor da peça.
Ainda na manhã de sexta-feira, atendendo à determinação do presidente da República, o Exército realizou uma cerimônia no pátio do Comando Militar do Planalto. O golpe, nas palavras do mestre de cerimônias do evento, virou um “momento cívico-militar”.
O ato foi realizado mesmo com recomendações do Ministério Público Federal (MPF) para que o golpe de 1964 não fosse comemorado. Após a indicação do MPF, o governo alterou o termo escrito em sua agenda pública: saiu “solenidade comemorativa” e entrou “solenidade alusiva” a 64.
O comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, e outras autoridades participaram do ato de sexta, que contou com cerca de 350 militares das mais diferentes unidades do Comando Militar do Planalto.
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