Brasil está perdendo o bonde do crescimento acelerado da economia global
É
cada vez maior o número de fundos de investimentos nacionais que está alocando
uma parcela grande de suas carteiras em ativos no exterior, diante da percepção
de que o Brasil está perdendo o bonde da elevada liquidez
internacional, dos estímulos fiscais em países desenvolvidos e do maior
otimismo com o crescimento acelerado da economia global em 2021.
Por
enquanto, se esses gestores nacionais ainda não migraram em massa para posições
apostando na derrocada de ativos domésticos, muitos deles reduziram
significativamente a tomada de risco no Brasil, deixando de aproveitar uma
possível alta da Bolsa brasileira ou valorização do câmbio.
Ou seja, os ativos brasileiros estão ficando para trás e podem não aproveitar o
vento a favor dos mercados globais.
Na semana passada, por exemplo, o Ibovespa caiu 2,47%, acumulando uma perda de 6,25% em apenas duas semanas. Enquanto isso, os índices das principais Bolsas americanas renovaram recordes históricos de alta no período, com o S&P 500 subindo 1,94% na semana e o Nasdaq saltando 4,19%. Já o dólar valorizou-se 3,30% na semana passada, elevando os ganhos a quase 6% em apenas 22 dias de janeiro e deixando o real brasileiro como a moeda com pior desempenho entre as emergentes.
O temor que vem se alastrando nas últimas semanas entre os gestores nacionais é o de que a retomada da economia brasileira poderá se frustrar neste ano em meio ao descontrole da pandemia do coronavírus no País, ao atraso no programa de vacinação, à maior pressão política no Congresso para a renovação do auxílio emergencial e, por tabela, à ameaça ao teto de gasto, a única âncora fiscal a sustentar a confiança dos investidores.
O
consenso das estimativas aponta para um crescimento do PIB brasileiro
de 3,49% neste ano, segundo a Pesquisa Focus, do Banco Central.
Mas o banco BNP Paribas, por exemplo, reduziu recentemente sua projeção para o
PIB de 2021 de 3,0% para 2,5%. Enquanto isso, o banco Goldman Sachs elevou
sua previsão de expansão do PIB dos EUA para 6,6% neste ano. E o Barclays projeta um
crescimento de 5,7% da economia mundial.
“Estamos
mais reticentes com os ativos brasileiros por achar que a relação risco retorno
está pior do que a dos ativos lá fora, pois ainda que vejamos, por exemplo,
maior potencial de alta na Bolsa brasileira do que as de países desenvolvidos,
o risco aqui é de piora enquanto lá fora esse risco é menor”, diz Fabiano
Godoi, sócio fundador e diretor de investimentos da Kairós Capital, fundo que
passou a aplicar em ativos no exterior nada menos do que 95% dos R$ 520 milhões
sob gestão.
Para
ele, a ameaça iminente é de uma crise fiscal. “Nas últimas semanas, tudo o que
a gente escuta dos políticos, seja no Executivo,
seja no Congresso, é que é preciso voltar com o auxílio emergencial, o que
indica uma direção de piora fiscal”, diz.
No
curtíssimo prazo, o foco dos investidores estará na aprovação do Orçamento de 2021. Se o Congresso aprovar um Orçamento
que respeite o teto de gastos, sem incluir jeitinhos para gastos extras fora do
teto, a sinalização será positiva para o mercado de que o País não caminha para
um precipício fiscal.
Mas
a eleição para a presidência da Câmara e do Senado,
no dia 1 de fevereiro, vem turvando essa perspectiva, uma vez que os principais
candidatos para o comando das duas Casas vêm fazendo declarações em apoio à
prorrogação do auxílio emergencial.
“Independentemente
do mérito, fazer mais gastos fiscais sem ter aprovado reformas como a PEC
Emergencial ou a administrativa é um risco muito importante no
médio prazo e o que está causando essa divergência entre o desempenho dos
ativos brasileiros e de outros países”, diz Godoi. Ele espera que o Orçamento
de 2021 possa ser aprovado até o fim de março, mas que apenas a PEC
Emergencial, entre as reformas que têm impacto fiscal imediato, possa sair até
o fim do ano.
“Não quero estar vendido em Brasil, pois os preços dos ativos domésticos estão convidativos – o real é uma das moedas mais baratas do mundo –, mas só não quero estar em Brasil neste momento, pois o equilíbrio é instável: ou o mercado vai melhorar muito ou a piora será rápida”, afirma Godoi.
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