Investigação contra Pazuello amarra Bolsonaro e militares até o fim
Em
momentos críticos, Jair Bolsonaro tenta se agarrar aos militares para
sobreviver. Quando o Supremo estava em seu encalço, em abril do ano passado, o
presidente protagonizou
uma manifestação golpista na porta do quartel-general do Exército.
Agora, acuado pela crise do coronavírus, ele busca refúgio mais uma vez nas
Forças Armadas.
Na
segunda (18), Bolsonaro quis desviar o foco de seus fracassos na pandemia com a
conhecida pregação de que homens de farda decidem
se um povo viverá numa ditadura. "Nós, militares, somos o último
obstáculo para o socialismo", disse. Dias depois, ele apresentou a
Aeronáutica como parceira no fornecimento de oxigênio para uma Manaus asfixiada
pela negligência oficial.
Em busca de proteção, Bolsonaro transformou os militares em sócios paritários do desastre nacional ao mandar Eduardo Pazuello para a cadeira de ministro da Saúde. A abertura de uma investigação no STF sobre a omissão do general na pandemia torna esse vínculo irreversível.
Pazuello
seguiu as ordens mais delinquentes do presidente da República —da recomendação
do uso de remédios ineficazes até a sabotagem à vacinação. O general se recusou
a migrar para a reserva, seguiu a doutrina militar e respeitou a hierarquia ao
cumprir as determinações do chefe. Os delitos da dupla, portanto, são
coincidentes.
A
configuração pode até atormentar integrantes graduados das Forças Armadas, mas
favorece Bolsonaro. Se forem levados para o banco dos réus, os militares
passarão a trabalhar numa defesa conjunta com o presidente. Na prática, eles
ainda recebem um estímulo extra para garantir que o governo fique de pé.
Esse elemento entraria na conta das pressões pelo impeachment de Bolsonaro por sua conduta na pandemia. Dado que o beneficiário imediato da queda do presidente é um general da reserva, o espírito de corpo tende a desestimular movimentos do vice para assumir o posto. Se esse cálculo prevalecer, os sócios devem permanecer juntos até o fim.
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