O Globo
Jair Bolsonaro tratou a Assembleia Geral da
ONU como palanque de sua campanha à reeleição. O presidente usou a tribuna para
elogiar o próprio governo e agradar sua base de extrema direita. Chegou a
exaltar as marchas do 7 de Setembro, que pregaram golpe e fechamento do Supremo
Tribunal Federal.
O capitão se apresentou como um líder que
“acredita em Deus”, “valoriza a família” e “deve lealdade a seu povo”. Só
faltou concluir o discurso com um “vote em mim”.
Ainda sem partido, o candidato disse que o Brasil estava “à beira do socialismo” antes da sua eleição. Ele recebeu a faixa de Michel Temer, xodó de banqueiros e barões da Fiesp.
Bolsonaro também afirmou que o país estaria
há dois anos e oito meses “sem casos concretos de corrupção”. Omitiu a
negociata na compra de vacinas, a rachadinha nos gabinetes dos filhos e o
escândalo de contrabando que derrubou o ministro do Meio Ambiente.
Visto pelo mundo como um inimigo da
Amazônia, o capitão torturou os números do desmatamento e elogiou a legislação
ambiental que seu governo tenta desmontar. “Qual país do mundo tem uma política
de preservação como a nossa?”, perguntou. Não foi o único momento de escárnio.
Sem compromisso com os fatos, Bolsonaro
disse que as manifestações de seus seguidores foram as maiores da História,
inflou os valores do auxílio emergencial e mentiu ao culpar prefeitos e
governadores pelo desemprego e pela inflação.
Depois de forçar a entrada na ONU sem ter
tomado a vacina, ele ainda insistiu em fazer propaganda de remédios ineficazes.
E reclamou do passaporte sanitário, que o obrigou a jantar na calçada para não
ser barrado nos restaurantes de Nova York.
O Bolsonaro das Nações Unidas foi o de
sempre: um porta-voz do extremismo de direita e do negacionismo, que parece
orgulhoso em isolar o Brasil na comunidade internacional.
Com a reprovação na casa dos 53%, o
presidente precisa radicalizar ainda mais para segurar a sua base. Acreditar
que ele ainda possa vestir um figurino moderado é fazer uma opção pelo
autoengano.
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