É imperativo que analistas voltados à
compreensão dos cenários anterior e posterior à agressão russa usem informação
qualificada, multilateral, o mais isenta possível de vieses e produzam interpretações
equilibradas, dotadas de senso de objetividade. Tão imperativo quanto isso é não
faltar, por outro lado, em declarações de líderes, partidos e outros agentes da
política, a capacidade de se colocar, com clareza e senso de urgência, em oposição
a um gesto político-militar imediato e concreto que liquida, por decisão
unilateral do governo de um país, instituições e vidas humanas que importam a
todos, seja no sentido da solidariedade entre indivíduos e entre povos, seja no
da autopreservação de cada pessoa, ou país. São igualmente problemáticas, numa hora dessas,
a contaminação ideológica de quem se propõe a ocupar o lugar de analista e a ausência,
no caso de agentes políticos, da disposição subjetiva de encarar a agressão
militar sob a orientação primordial de valores.
Nenhuma posição política realista precisa ou deve ser cancelada em emergências assim. Ao contrário, nessas situações-limite elas são ainda mais requisitadas, porém, o que delas se requer, como uma de suas premissas, é que não confundam uma saudável recusa à ideologia com sua diluição num varejo destituído de causas, o que denota, não política realista, apenas uma política pequena. Daí que a condenação da agressão não comporta meias palavras da parte de quem tem responsabilidade política.