O Globo
Jair Bolsonaro inaugurou uma temporada de
caça ao Judiciário que, se não for estancada agora e rechaçada sem espaço para
tergiversação pelos democratas, é a antessala da agitação que ele prepara para
logo após o primeiro turno das eleições, visando a melá-las.
O presidente está na fase 2 de seu projeto.
Depois de semear, com relativo sucesso, a desconfiança quanto à confiabilidade
das urnas eletrônicas e da apuração dos votos, ele partiu para a fulanização,
na tentativa de pregar um alvo na testa dos ministros do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF).
As aleivosias levantadas por ele contra os
ministros Edson Fachin, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, de forma
sistemática e cada vez mais mentirosa, são a deixa para que tresloucados como o
ex-senador Magno Malta também passem a fustigá-los com mentiras em eventos
públicos, como aconteceu no último fim de semana.
Não é de hoje que essa estratégia passou a
ser usada pelo presidente, mas ele havia sido obrigado a se moderar depois das
falas golpistas do 7 de Setembro, e agora, depois da graça concedida ao
deputado Daniel Silveira, parou de fingir qualquer moderação.
Bolsonaro mentiu que Moraes concordara em arquivar o inquérito das fake news. Mesmo desmentido pelo ex-presidente Michel Temer, insistiu na mentira. Associou de forma irresponsável a decisão do STF de anular as condenações do ex-presidente Lula a um impedimento para que Edson Fachin presida o TSE. É o tipo de pregação que ecoa no submundo das redes bolsonaristas e poderá virar combustível para novos protestos antidemocráticos contra o Judiciário, às vésperas da eleição.
Na tentativa de desmoralizar os
magistrados, o presidente não se furta nem a insinuar relação da decisão do STF
de limitar operações policiais em favelas do Rio durante a pandemia, tomada a
partir de um voto de Fachin, com ações para, vejam só, beneficiar os
traficantes.
Comete esse tipo de barbaridade e fica por
isso mesmo, na conta dos excessos diários de um presidente que ninguém mais
sequer se dá ao trabalho de tentar conter e pôr nos limites do decoro exigido
pelo cargo e pelo juramento constitucional.
Bolsonaro já disse em pelo menos três
ocasiões recentes que não se vê mais na obrigação de cumprir decisões da Corte
máxima do país.
O que isso autoriza? Novas investidas
golpistas, como a engendrada na Câmara, sob os auspícios de seu presidente,
Arthur Lira (PP-AL), de uma Proposta de Emenda à Constituição que daria ao
Congresso poderes de rever julgamentos do STF que não fossem unânimes ou que,
absurdo dos absurdos, fossem inconstitucionais!
Pela Constituição, a última palavra em
matéria constitucional é do STF. É disparatada a ideia segundo a qual o
Parlamento possa funcionar como Corte revisora. Mas o vírus do golpismo barato,
quando é inoculado no sistema político, como vem sendo ano a ano, dia a dia,
por Bolsonaro, impregna todo o entorno.
Se do Executivo partem petardos diários
contra o Judiciário, sem que ninguém os contenha, por que o Legislativo não se
sentiria autorizado a também lançar suas flechas para o outro lado da Praça dos
Três Poderes?
Se era preciso um exemplo acabado de como
as democracias começam a fenecer, iniciativas desse calibre acabam por
fornecê-lo.
Se Lira está do lado dos arrivistas, como
vem demonstrando, há alguém capaz de freá-lo, porque preside todo o Congresso.
Cabe ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), matar no nascedouro
essa excrescência transformada em PEC pelo consórcio de partidos que apoiam a
reeleição de Bolsonaro. Sem hesitar nem dar uma de mineiro.
É nessa hora que os democratas se alinham
do lado certo da História, e tudo de que o país não precisa agora são mais
tentativas de enfraquecer o Judiciário quando já está em curso a tentativa de
empastelá-lo.
Um comentário:
''Sem hesitar nem dar uma de mineiro'',não entendi.
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