quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Míriam Leitão - Os olhos, as urnas e emoções do Brasil

O Globo

Lula mantém sólida vantagem e frustra, por ora, manipulação de Bolsonaro. Paulo Hartung alerta que toda eleição tem surpresas

Houve um momento, ao fim da posse do ministro Alexandre de Moraes, na presidência do TSE, em que todos os olhares se voltaram para o ex-presidente Lula. Virou meme, viralizou. Mas a dinâmica política é bem essa. Os olhos se voltam, metaforicamente, para quem representa a expectativa de poder. As pesquisas que estão saindo neste começo oficial da campanha mostram o voto muito cristalizado entre dois candidatos, Lula e Bolsonaro, com forte vantagem para Lula. O ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung, que entrevistei ontem na Globonews, me disse que nunca se pode dizer que uma eleição está decidida tanto tempo antes. “Não existe eleição sem surpresa.”

A posse de Moraes no TSE teve muito mais significado do que a direção dos olhares. Tudo ali era sinal, um mar de sinais e todos na mesma direção, a da confiança nas urnas eletrônicas e na Justiça Eleitoral. Tudo falava naquela cerimônia, as palmas e a falta de palmas. Os sorrisos e os amuos. Bolsonaro escolheu a solidão institucional, e ela ficou evidente ali. Que sentido faz um presidente da República não bater palmas quando se fala de um motivo de orgulho nacional?

— O grande recado naquela posse foi da sociedade civil. Ela, com muita clareza, fez um risco de giz e mostrou os seus limites, o que ela não tolera. Resumindo, ela não tolera retrocessos. A posse é um desaguar desse movimento que teve o foco na Faculdade de Direito da USP — disse Paulo Hartung.

Na pesquisa do Ipec divulgada na segunda-feira, alguns dados impressionam. Bolsonaro tem 30% dos votos na espontânea e agrega apenas dois na estimulada, indo para 32%. Lula tem 41% na espontânea e agrega três pontos, indo a 44% na estimulada.

A pesquisa divulgada ontem pela Genial/Quaest trouxe os mesmos 12 pontos de diferença a favor de Lula que o Ipec havia mostrado. Hoje sairá o Datafolha. No Nordeste, a Quaest encontrou uma vantagem de 40 pontos para Lula. Mas ela trouxe também algumas boas notícias para Bolsonaro. Caiu a avaliação negativa do governo para 41% e subiu para 29% a avaliação positiva. Melhorou um pouco a visão da economia. Agora 52% dizem que a economia piorou no último ano. Na pesquisa anterior eram 56%, e na penúltima, 64%.

O avanço que o governo queria, não teve. A maioria dos que recebem Auxílio Brasil diz que votará em Lula. O aumento para R$ 600 foi uma descarada jogada eleitoreira. Não está funcionando, por enquanto. No Ipec, entre os que têm em casa alguém que recebe o benefício, 52% votam em Lula e 27% votam em Bolsonaro. Na pesquisa da Quaest, entre os que recebem Auxílio, subiu a intenção de votos em Lula, de 52% para 57%, e caiu de 29% para 27% os que pretendem votar em Bolsonaro.

Se a manipulação econômica não funcionou até agora, a religiosa está dando certo. Bolsonaro tem 47% dos votos dos evangélicos pelo Ipec. Na Quaest, cresceu para 52%, contra 28% de Lula, elevando de 19 para 24 pontos a diferença. O arsenal que tem sido usado nessa área por Bolsonaro e sua família não é apenas violento. É bem pior.

A liberdade religiosa é uma ordem constitucional, e a mulher do presidente, Michelle, fez postagens exibindo intolerância religiosa. Só um país que já foi tão machucado pelo comportamento absurdo do governo pode não reagir quando a mulher do presidente revela que ocupa o palácio presidencial com seus amigos durante a noite. O Planalto é prédio público e não uma casa privada. Nenhum grupo religioso tem o direito de passar a noite circulando pelo gabinete presidencial e adjacências só porque esta é a fé da mulher do presidente.

A campanha acaba de começar oficialmente. E, por mais que os cenários pareçam estáveis há um ano, não se pode dizer que o resultado está dado. Hartung explica bem isso:

— Daqui a uma semana começa o programa eleitoral no rádio e na televisão. Teremos um ciclo de 35 dias de campanha no rádio e na TV, temos mais de quarenta dias de campanha eleitoral. Isso é pouco ou muito? É muito tempo. Eu já disputei oito eleições e coordenei a de muita gente, eu nunca vi uma eleição sem surpresa. Tem muita água para passar debaixo dessa ponte.

Serão duras e intensas as próximas semanas em que as águas rolarão. Que a Justiça eleitoral seja capaz de cumprir a promessa do ministro Alexandre de Moraes e combater as mentiras e os crimes eleitorais que distorcem e manipulam a vontade popular.

 

2 comentários:

Anônimo disse...

"Combater as mentiras e os crimes eleitorais que distorcem e manipulam a vontade popular" é combater o DESgoverno Bolsonaro e sua tentativa de reeleição!

ADEMAR AMANCIO disse...

Concordo,nada é fácil nesta vida.