O Globo
É incrível que, neste Brasil, não se admita
nem se tente corrigir uma visão de política econômica já testada e fracassada
Se ao menos fossem erros novos...
Inevitável esse pensamento diante das propostas de política econômica que vão
surgindo nas diversas esferas do governo Lula.
Dirão: um erro é um erro, não importa se novo ou velho. Certo, na teoria. Na
prática, não é bem assim. Um erro novo pode resultar de uma sincera tentativa
de mudança. Não diminui o erro, mas diminui a culpa do autor. Pode ser admitido
e corrigido. Mas é incrível que, neste Brasil, não se admita nem se tente
corrigir uma visão de política econômica já testada e fracassada.
Por exemplo: agora estão falando em elevar a meta de inflação para facilitar... o combate à inflação! O argumento tem um disfarce. Sustenta que perseguir uma meta muito baixa exige taxa de juros muito elevada, o que atrapalha o crescimento. Não se define o que seja muito baixa ou alta, mas a ideia por trás é a mesma de quase 40 anos atrás, quando se fez, com o Cruzado, a primeira tentativa de criar uma moeda estável: tolerância com a inflação.
É verdade que alguma inflação sempre
haverá, mesmo em países com histórico de estabilidade. Deflação, queda
acentuada e persistente de preços, pode resultar em redução dos investimentos.
Isso ocorre quando o empresário desiste de ampliar sua produção ou de lançar
produtos porque teme não conseguir elevar seu preço para ter mais margem ou
cobrir custos novos.
Mas isso tudo é diferente de tolerância com
a alta persistente de preços. Nesse caso, entende-se que a inflação é um meio
de crescimento. Até pode ser por algum momento, mas, se crescer significa
aumento da renda e do emprego em ambiente estável, então a inflação é o mal a
extirpar.
O Brasil tem muita experiência, negativa,
nesse quesito. A inflação prejudica os mais pobres, ao reduzir o salário real.
Na corrida entre preços e salários, os preços sempre tomam a dianteira. Queda
do salário significa menos mercado e consumo e, pois, menos investimentos. Sim,
é simples assim. Se inflação alta e crônica fosse meio de crescimento, o Brasil
seria rico há muitos anos.
Em outras palavras, o que atrapalha a
economia brasileira hoje não é o combate à inflação. É o gasto público muito
elevado e pouco eficiente, financiado com dívida. Déficits frequentes e dívida
em expansão geram inflação, combatida com elevação da taxa de juros pelo Banco
Central. Mais exatamente, o problema atual é a total contradição entre a
política fiscal, de expansão do gasto público (da demanda) e a política
monetária, restritiva, com juros reais altos o suficiente para esfriar consumo
e investimentos. Cada uma puxando para um lado, o resultado é menos crescimento
e tempo maior para debelar a inflação. Isso significa juros mais altos por mais
tempo.
O que está fora de lugar é a política
fiscal. Em vez de admitir esse erro muito, muito antigo, o governo Lula cisma
com o Banco Central, com sua independência e com suas metas de inflação. Quer
reduzir as metas. E, quando o próprio governo anuncia que vai tolerar inflação
mais elevada, é lógico que os preços sobem mais depressa.
Outro erro velho em via de ser cometido
está no BNDES.
Só nesta semana, o presidente Lula prometeu que o banco financiará obras na
Argentina e noutros países amigos do Sul. Também disse aos governadores que o
BNDES pode ajudar estados a compensar perdas de receita provocadas pela redução
de impostos sobre a gasolina e energia. Mais: garantiu que o banco ampliará
financiamentos às estatais e à indústria brasileira.
Pergunta-se: o BNDES pode perder dinheiro
nisso, como já perdeu? A resposta: não perderá, pois os empréstimos têm
garantia. De quem? Do Tesouro brasileiro, alimentado pelo contribuinte
brasileiro.
Ora, seria mais correto gastar aqui mesmo o
dinheiro do contribuinte. E não dar empréstimo baseado em ideologia, mas sim na
análise do crédito do financiado. Simples assim.
Outro erro velho iminente? A condução
da Petrobras.
E assim vamos. Para trás.
4 comentários:
A independência é um fator importantíssimo, mas como um ditador qualquer,, só ele, somente ele, pode dar as cartas nesse seu regime peculiar de ego elevado a uma potência ilimitada. Isso impede de ser uma pessoa carismática. A humildade agrega enquanto o convencimento e o narcissismo afasta. Ele é a alma gêmea do FHC, extrema vaidade. Só cura com pessoas bem intencionadas o alertar, mas como o mundo está cheio de bajuladores, provavelmente não se curará nunca. Caso para um psiquiatra. Quanto mais velho mais intransigente, até chegar ao ponto do intolerável.
Dragão de Komodo.
Crítica sempre haverá,ninguém consegue agradar a todos o tempo todo.
Carlos Alberto Sardenberg, gostaria de saber sua opinião sobre o seguinte: o Banco Central, como órgão público, deveria ter autonomia em relação tanto em relação ao governo quanto em relação ao mercado financeiro? Ou na sua opinião a autonomia do BC deveria ser apenas em relação ao governo? Você acha legítimo o comportamento do presidente do BC, reunindo-se a portas fechadas com agentes do mercado financeiro, enquanto defende a autonomia em relação ao governo?
Veja esse depoimento de um especialista no assunto:
https://youtu.be/hzGaLmMgR04
Qual é a sua opinião?
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