O Estado de S. Paulo
Mesmo com todo o noticiário sobre a crise
entre governo e Câmara, há indícios de que o País avança, apesar das
divergências
O que acontece num país onde o governo é de
esquerda e o Congresso, majoritariamente de direita? Essa questão colocada pelo
resultado das urnas de 2022 ainda está para ser respondida no Brasil.
A hipótese mais comum é de um jogo de soma
zero, em que os atores se neutralizem. Mas essa hipótese significa abrir mão
das habilidades políticas e condenar o País à estagnação.
Apesar de todo o noticiário sobre a crise
entre governo e Câmara dos Deputados, há indícios de que o País avança, apesar
das divergências.
O primeiro passo, creio, é admitir que existem também convergências. Elas se manifestam em medidas econômicas – aliás, um campo em que as coisas estão melhorando, embora ainda não de forma espetacular ou mesmo sustentável. Foi aprovado o arcabouço fiscal e caminha-se para a aprovação da importante reforma tributária. As políticas de escalonamento e perdão de dívidas, do projeto Desenrola, assim como o estímulo à indústria automotiva têm grande chance de aprovação. Não entro no mérito desta última, mas o fato é que tanto governo como Congresso já se habituaram a incentivar a indústria automobilística, que, por sua vez, parece também ter-se habituado a pegar no tranco da ajuda oficial.
Mesmo com críticas a uma ou outra medida
econômica, a verdade é que neste campo as convergências predominaram, e sempre
que há muito ruído o melhor é enfatizar as convergências, porque isso não
resolve, mas facilita a solução dos conflitos.
Um ponto que também ajuda é uma certa
fidelidade entre instituições republicanas. O governo, por exemplo, quis
alterar o marco do saneamento básico, votado pelo Congresso. É razoável que
tenha perdido a batalha. Por outro lado, as alterações na estrutura do governo
feitas pelos deputados são também um desrespeito entre Poderes. Afinal, eleito
pela maioria com um programa, o presidente tem o direito de organizar os
ministérios à sua maneira para realizar a tarefa prometida.
Outro aspecto que precisa ser revisado é a
distribuição de cargos. O governo procurou ser amplo. No entanto, é cada vez
mais difícil de definir quem é ou não representativo. A saída continua sendo a
de checar os votos de apoio, quem traz e quem não traz votos. Esse quesito
também é solucionável dentro dos critérios de presidência de coalizão.
O que parece realmente um impasse é o
manejo do Orçamento. O chamado orçamento secreto era uma grande comodidade para
os deputados e senadores. Não dependiam dos ministros. Ocorre que isso era
ilegal e o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu. Quase R$ 10 bilhões ficaram
ainda pendentes e parece que Arthur Lira quer usá-los como antes. Isso
implicaria até confrontar uma decisão do Supremo.
Neste momento, o debate não é favorável a
Lira. Estourou o escândalo dos kits de robótica nas escolas de Alagoas. O
dinheiro desviado veio do orçamento secreto, por meio de emendas do próprio
Lira, e um dos suspeitos foi seu assessor. Enfim, há muitos detalhes
inconvenientes para quem aspira a distribuir verbas como fazia no passado. Isso
sem contar outros escândalos que já surgiram a partir do orçamento secreto,
mesmo sem uma auditoria rigorosa no uso de todos esses recursos.
Resolvidas essas questões, resta ainda um
amplo terreno da luta franca, do perde e ganha típico do jogo da política. Não
é uma tragédia para o governo perder uma outra votação. O que é necessário,
neste caso, é saber que existem pesos e contrapesos, algo que escapa aos
radicais imediatistas. No caso da Câmara, por exemplo, votar contra a decisão
do Senado a possibilidade de ampliar a destruição da Mata Atlântica,
certamente, implicaria um veto presidencial e, caso não existisse, um
questionamento no próprio STF.
O tipo de correlação de forças que se
definiu no período pós-eleitoral é um grande desafio. Pode, em caso de
inabilidade, levar à paralisia, mas, por outro lado, tem chances de amadurecer
ambos os lados.
Não se trata, é claro, de atenuar as
diferenças que existem nem de negar a polarização. O que é necessário é uma
nova visão para trabalhar com diferenças e polarização fora do período
eleitoral, num momento em que o País não só precisa crescer, mas também
solucionar alguns dos seus problemas fundamentais.
Isso coloca também para os observadores uma
dupla opção: pôr fogo no circo ou lembrar com insistência de que é possível
conviver e produzir com diferenças políticas tão sensíveis como as que existem
hoje no País.
Enumerei apenas alguns fatores que podem
desatar os nós. Muita coisa depende também do comportamento. A tentativa de
seduzir as redes sociais leva para a Câmara uma tática sensacionalista, um tipo
de agressividade que gera likes, mas não faz avançar o processo. Isso não tem
solução, uma vez que grande parte dos deputados depende das redes para se
eleger, sobretudo depois de 2018. A única saída é reduzir os danos, elevando o
nível do debate e isolando, dentro do possível, as performances espalhafatosas.
Em síntese, vale a pena revisitar o
pensamento de Dilma Rousseff para focalizar este embate governo-Câmara: “Não
acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou
perder. Vai todo mundo perder”.
2 comentários:
Senador ,Deputados?(Federais e Estaduais )Vereadores Municipais ) Ter Mandato Limitado 16 Anos ( 4 mandatos) Renovações. Político não é Profissão Nem Carreira. É um Mandato temporário E Exerce uma Atividade Remunerada ( Eleitores _ Contribuintes. E um Mandato é um "Instrumento Transitório de Representação" Ficam Anos Afim Mamando nas Tcreceetas do Povo .Vão para Iniciativa Privada Como a Maioria do Povo Brasileiro. Querem Agora Limitar Ministério do Supremo É um comportamento abominável
Um gira-mundo como eu,também merece ser feliz,rs.
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