sexta-feira, 9 de junho de 2023

Hélio Schwartsman - Por um PSOL raiz

Folha de S. Paulo

Embora política exija pragmatismo, é preciso que existam pequenos partidos mais ideológicos

Diz o chiste que, onde houver três militantes de esquerda, haverá quatro tendências a separá-los. Dizem os jornais que o PSOL rachou. A corrente mais à esquerda, que tem como figura mais conhecida o ex-deputado federal Babá, decidiu deixar o partido. Segundo o grupo, o PSOL traiu seus ideais ao aliar-se ao governo Lula, que conta "com representantes dos banqueiros, agronegócio, multinacionais e setores da extrema direita".

Babá está certo. Não me considero um extremista, mas acho importante que o Congresso tenha em seus quadros parlamentares de um PSOL raiz —embora trema só de pensar no que aconteceria se suas ideias, em especial as econômicas, fossem implantadas— e de seu antípoda à direita, o Novo. Representantes de partidos mais ideológicos, desde que não se tornem majoritários, dão bons parlamentares. Eles tendem a trabalhar bastante e operam ao mesmo tempo como fiscais de políticos mais afeitos ao toma lá dá cá e como antídoto contra o conformismo. Podem ser descritos como uma combinação de consciência crítica com sonhadores utópicos.

Embora a política seja a arte de fabricar consensos, é fundamental que existam, no Parlamento e na opinião pública, contrapontos ao pragmatismo. É aí que entram as utopias. Elas são necessárias porque nos fazem pensar para além do imediato. Por definição (etimologicamente, utopia significa "o que não tem lugar"), jamais serão implantadas, mas, ao enunciá-las e eventualmente buscá-las, já estamos nos posicionando e de algum modo jogando um jogo que, no contexto das democracias, tende a aperfeiçoar o sistema político.

O PSOL surgiu em 2005. Foi fundado por deputados que foram expulsos do PT por não concordar com as concessões que Lula fazia para tocar seu governo. Eles saíram denunciando as falhas éticas e o stalinismo da legenda. Se o PSOL não puder ser um partido que faça a crítica ao PT pela esquerda, ele perde sua razão de ser.

 

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