No último artigo, ficou claro que receita é receita, despesa é despesa, independentemente de sua natureza, qualidade ou classificação contábil. As receitas podem ser correntes, como a dos impostos, taxas, contribuições, participações, ou de capital, como a oriunda da venda de uma estatal ou de uma operação de crédito. As despesas podem financiar o custeio (salários, previdência, benefícios, bens de consumo, etc.), investimentos (obras e equipamentos) ou, ainda, o pagamento de parcelas e juros da dívida. Os gastos podem ter boa qualidade como quando bancam a qualidade da educação, o acesso a saúde, o Bolsa Família ou uma estrada necessária. Mas podem ser ruins quando direcionados a sustentar privilégios e obras faraônicas não prioritárias ou vão pelo ralo da corrupção ou do desperdício. Mas bons ou ruins, para custeio ou investimento, gasto é gasto.
Isto não se
mistura com a noção de resultado fiscal. Quando as receitas superam as despesas
temos superávit nas contas públicas, caso contrário, quando as despesas são
maiores que as receitas, temos déficit. Quando, ano após anos, se acumulam
déficits e as finanças do governo se desorganizam, ocorre pressão sobre a
inflação e os juros, a economia cresce menos e a dívida aumenta. Isto alimenta
incertezas e desconfianças. Por isso é importante que a sociedade discuta a
relação entre equilíbrio fiscal, dívida e suas consequências, embora o economês
dificulte o entendimento da maioria das pessoas.
E há um
aspecto do crescimento da dívida pública que é sempre negligenciado, o pacto
intergeracional. Não é justo com nossos filhos e netos trocarmos gasto presente
por dívida futura.
A dívida
brasileira é alta? Sim e não. A IFI projeta que fecharemos o ano com uma dívida
bruta do governo geral de 77,66% do PIB e que crescerá para 80,19% em 2025. O
Japão tem uma dívida de 264% de seu PIB, a Itália de 139% e EUA de 123%. Mas
estes países, com economias maiores e mais sólidas, conseguem prazos maiores e
juros menores. Entre os emergentes o Brasil é campeão. A Índia tem uma dívida
de 47,5% do seu PIB, África do Sul 42%, México 33% e Colômbia 32%. Quanto maior
a dívida, maior é o prêmio (juros) que os que financiam os déficits do governo
pedem. Quanto maior a desconfiança em relação à sustentabilidade das finanças
públicas, maior é o custo e menores são os prazos de financiamento.
E o passado
também conta. Gato escaldado tem medo de água fria. E, infelizmente, o Brasil
tem um passado de moratórias, congelamentos, confiscos e quebras de contratos.
Por isso, é ainda maior a importância de criar um clima de estabilidade e
confiança no país junto aos investidores que direcionam sua poupança para
financiar o buraco nas contas do governo.
Na próxima semana, fecharemos essa série com um paralelo entre o orçamento familiar e o orçamento público e as decisões de um(a) chefe de família e um ministro da economia.
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