Valor Econômico
Presidente brasileiro antecipou proposta de Maduro para que a justiça dê a última palavra na Venezuela
Numa semana em que o país esteve magnetizado
pelo encanto das ginastas brasileiras na Olimpíada, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva pisou fora do tablado a despeito das (arriscadas) chances
oferecidas para um triplo carpado.
O momento ilustra uma situação que se repete
desde a posse. Feitos deste ano e meio, muitos dos quais resumidos por Lula em
rede nacional no domingo à noite, se perdem pela má-comunicação não do governo,
mas do chefe de Estado.
Com aquele balanço, Lula parecia buscar
imunidade para a semana de contigenciamento no Orçamento. Com as férias dos
ministros em desalinho, Fernando Haddad (Fazenda) e Rui Costa (Casa Civil), os
cortes corriam o risco de buscar sua paternidade no terceiro andar do Palácio
do Planalto.
Dois dias depois, sem teleprompter, Lula concedeu a entrevista que visava a preparar o terreno de sua visita ao hostil Mato Grosso. Começou com um presidente determinado a mostrar seus esforços em apagar incêndios no Estado e terminou pelo fogo que ateou às próprias vestes. Ao passar pano para a nota petista sobre o “processo democrático” na Venezuela, e preconizar a Justiça daquele país como última palavra mostrou os limites de sua nova clausura. Revisita os temas com seus antigos códigos e mostra dificuldades em incorporar o que há de novo na conjuntura.
É muito distinta a situação daquela de seu
primeiro governo. De lá pra cá, a mesma crise que frustrou expectativas
megalomaníacas como a da parceria na refinaria Abreu e Lima produziu um fluxo
de imigrantes que tornou o Brasil um dos principais destinos da diáspora
venezuelana, hoje de meio milhão de pessoas.
Refugiados espalharam-se por mais de mil
municípios, sendo Curitiba, Manaus e São Paulo os destinos preferenciais.
Chegaram com histórias que extrapolaram a “narrativa” da imprensa e aproximaram
os brasileiros da tragédia chavista. Se as sanções produziram a crise que os
expulsou, Nicolás Maduro valeu-se da ausência de mais de 7 milhões de eleitores
potencialmente críticos para se perpetuar no poder.
O prefeito (de esquerda) de uma das cidades
que os acolheu conta a história de um jovem casal que se denomina chavista mas
deixou o país por não tolerar mais assistir ao filho crescer sem perspectivas
enquanto a prole da casta do poder mora nos Estados Unidos e na Espanha.
Lula provou o efeito da invasão do Brasil
pela tragédia venezuelana em meados do ano passado ao receber Maduro com tapete
vermelho na rampa do Palácio do Planalto, dragões da Independência e um
desagravo às hostilidades do governo anterior. Lula tinha acabado de indicar
seu advogado pessoal ao Supremo Tribunal Federal (Cristiano Zanin) e a inflação
tinha tido um repique pela reoneração dos combustíveis, mas o encontro com
Maduro foi a notícia de lembrança espontânea mais negativa do governo medida
pela Quaest.
O potencial de desgaste provocado pela
conjuntura não passou despercebido no Congresso. A Comissão de Relações
Exteriores do Senado acolheu três pedidos de convocação, do chanceler Mauro
Vieira, do assessor da Presidência, Celso Amorim, e da embaixadora em Caracas,
Glivânia Oliveira.
O Congresso está mais atento do que em 2019,
quando Aécio Neves encabeçou missão de solidariedade a Juan Guaidó. O deputado
tucano chegou a desembarcar em Caracas mas os manifestantes pró-Maduro
puseram-no pra correr. Voltou do aeroporto mesmo.
Não bastasse a divisão, no Itamaraty, em
torno da ida de Amorim a Caracas, o desgaste de Lula no episódio certamente
contribuirá para aumentar a ofensividade da oposição.
A prioridade com que o Itamaraty encara a
Venezuela pode ser medida pela ausência do país do roteiro de viagens do
chanceler ao longo de um ano e meio de gestão. Ou ainda pela ausência de um
titular na embaixada durante o primeiro ano inteiro do governo Lula.
O Planalto apostou alto ao bancar a viagem de
Amorim. Ao longo dos três dias em que esteve em Caracas, o ex-chanceler não
passou informes apenas para Lula e Itamaraty. Manteve também a Casa Branca e o
Departamento de Estado dos EUA informados sobre a situação em curso. O
agradecimento de Joe Biden a Lula pousou na nota como um busca de abono pelos
riscos enfrentados.
Amorim tampouco encaminhou demandas apenas
das autoridades brasileiras, mas também da Argentina. Ao chegar de volta à
embaixada brasileira depois das conversas com o presidente venezuelano e com
seu opositor, Edmundo González, na noite de segunda-feira, recebeu um
telefonema de Brasília dando conta de um pedido da chancelaria argentina.
Carros da polícia venezuelana estariam
cercando a embaixada daquele país, onde sete aliados de María Corina Machado
estão refugiados. Amorim ligou para o presidente da Assembleia, Jorge
Rodriguez, que testemunhou sua conversa com Maduro. Naquela noite, os carros
sumiram.
A presença inaudita de Amorim em Caracas
alargou as margens de manobra da diplomacia brasileira, mas não impediu que os
caminhos se estreitem lá na frente. Sem garantias de que a dobradinha extrapole
a campanha presidencial dos EUA, lançou pontes com a eventual chanceleria de
Kamala Harris e tornou-se credora do indomável Javier Milei.
Parece claro, porém, que o encaminhamento de
propostas, como aquela de aguardar as atas eleitorais, está circunscrita à
estratégia de ganhar tempo. O Centro Carter, por exemplo, um dos únicos
observadores eleitorais da disputa, não achou que valesse a pena esperar. Foi
embora do país dizendo que, na ausência de padrões internacionais de
integridade, as eleições não podem ser consideradas democráticas.
Nesta quarta-feira, Maduro desenhou para quem
não havia entendido. Apresentou um recurso ao Supremo Tribunal de Justiça por
uma perícia dos resultados. Foi isso que Lula sugeriu dois dias antes na
entrevista ao canal de TV mato-grossense. Parece que estava adivinhando.
3 comentários:
A maioria dos jornalistas dessa coluna fica tratando o apoio de Lula ao ditador maduro com salamaleques
Precisam entender que Lula junto com Chaves e Fidel Castro fundaram o forro de São Paulo Instituição latino-americana pra implantar o socialismo no Continente
Numa das reuniões do foro Lula presidiu o encontro ao lado do chefe das Farc, organização terrorista guerrilheira que controla o tráfico de entorpecente na Colômbia, principalmente cocaína Como pode esperar de um homem desse algum gesto que vá contra os fundadores e Participantes dessa organização socialista internacional?
E como sempre a imprensa no final vai passar pano a mais essa atitude Autoritária e hipócrita do presidente Lula
Brasil pisando feio,a direita brasileira deve estar com inveja da Venezuela que conseguiu aquilo que ela queria para o Brasil.
A culpa, com certeza petista, é de Bolsonaro.
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