Correio Braziliense
A decisão ocorre às vésperas de um grande ato
que está sendo convocado para domingo, em Copacabana, que terá a presença do
governador Tarcísio de Freitas
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo
Tribunal Federal (STF), derrubou a medida liminar que impedia o contato do
presidente do PL, Valdemar Costa Neto, com o ex-presidente Jair Bolsonaro, que
não se encontravam havia mais de um ano. A decisão foi tomada no âmbito do
inquérito que apura uma tentativa de golpe de Estado pelo ex-presidente e
aliados.
Valdemar não foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) nesse caso, porque não surgiu nenhuma prova efetiva de que estaria envolvido na invasão do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF). Os prédios dos Três Poderes foram vandalizados por bolsonaristas em 8 de janeiro de 2023, uma semana após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A proibição de contato entre ambos foi tomada
em fevereiro de 2024, com objetivo de impedir a obstrução da Justiça. A Polícia
Federal chegou a indiciar Valdemar, mas a PGR teve outro entendimento. A defesa
do presidente do PL, então, solicitou a suspensão das medidas, até porque as
investigações sobre o suposto envolvimento do presidente do PL foram
concluídas.
Outras medidas cautelares adotadas contra
Valdemar também foram revogadas, como a apreensão de celulares e bens, entre os
quais relógios de luxo das marcas Bulgari, Rolex e Piguet. A medida estava
sendo considerada abusiva nos meios jurídicos, em que há muitos questionamentos
em relação aos ritos que estão sendo seguidos por Moraes.
Os advogados de Bolsonaro trabalham para
anular o processo por desrespeito ao devido processo legal. O fato de Valdemar
não ter sido denunciado pela PGR tornou a proibição de contato com Bolsonaro
uma violação dos direitos do presidente PL, partido ao qual Bolsonaro é
filiado.
A decisão ocorre às vésperas de um grande ato
que está sendo convocado por Bolsonaro para domingo, em Copacabana, que agora
terá a presença de Valdemar. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas
(Republicanos), já anunciou que pretende comparecer, o que é uma demonstração
de que a aliança entre ambos segue firme e forte.
Nesta terça-feira, Tarcísio e Bolsonaro
participaram da abertura do 14º Salão das Motopeças, evento na Zona Norte de
São Paulo. Bolsonaro chamou o governador de SP de "uma grande promessa
para o futuro", mas deu a entender que manterá sua candidatura à
Presidência, mesmo inelegível, até a impugnação pelo Tribunal Superior
Eleitoral (TSE).
"Com todo respeito ao Tarcísio, que acho
um grande gestor, mas ele sabe que é um pouco mais novo que eu, eu tenho uma
experiência, que não é fácil para administrar", disse o ex-presidente. O
ato no Rio é uma manifestação organizada por Bolsonaro para defender a anistia
para os acusados de participar dos atos antidemocráticos, que deve se
reproduzir em outras cidades do país.
Chapa dos sonhos
A estratégia de Bolsonaro é transformar o
processo sobre a tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro numa plataforma
política, pois o julgamento será longo e terá grande cobertura da mídia. Entre
os aliados de Bolsonaro, porém, existe uma grande torcida para que o
ex-presidente apoie a candidatura de Tarcísio de Freitas a presidente da
República em 2026.
Até agora Bolsonaro não deu sinal de que
pretende fazê-lo, nem Tarcísio admite deixar o governo de São Paulo antes de
concluir o primeiro mandato. Tudo indica que Bolsonaro fará como Lula em 2018,
quando estava sendo processado na Lava-Jato. Manteve a candidatura até ser
impugnado e, depois, apoiou o petista Fernando Haddad, atual ministro da
Fazenda, na disputa contra Bolsonaro.
A grande interrogação é sobre quem será o
candidato indicado por Bolsonaro para substituí-lo, se um dos seus filhos, o
senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ou o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), ou um
terceiro nome, que poderia ser o senador Rogério Marinho (PL-RN) ou Tarcísio de
Freitas.
Aliados de Bolsonaro pisam em ovos para
tratar das eleições de 2026. Na cúpula do PL, a avaliação é de que Bolsonaro é
imprevisível, e somente Valdemar Costa Neto pode convencê-lo a apoiar Tarcísio.
A chave seria reproduzir, nas eleições de 2026, a aliança vitoriosa na disputa
pela Prefeitura de São Paulo, na qual o prefeito Ricardo Nunes (MDB) derrotou o
candidato de Lula, Guilherme Boulos (PSol), com apoio de Tarcísio e Bolsonaro.
Líderes do PSDB, do MDB, do PSD, do PP e do
Republicanos articulam essa aliança, com apoio da elite empresarial paulista. A
"chapa dos sonhos" da chamada Faria Lima seria um esquema engenhoso:
Tarcísio passaria o governo de São Paulo para o vice, Felício Ramuth (PSD),
ex-prefeito de São José dos Campos; o prefeito Ricardo Nunes seria o candidato
a governador, com Gilberto Kassab de vice. Eduardo Bolsonaro seria candidato ao
Senado e o vice de Nunes, Mello Araujo, coronel da PM-SP, indicado por
Bolsonaro, assumiria a Prefeitura de São Paulo. Faltou combinar com o chefe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário