O Globo
O Supremo mandou ontem para o banco dos réus
dois deputados e um ex-deputado acusados de traficar emendas da saúde. O caso
parece ser uma pequena amostra da farra parlamentar com dinheiro público.
A Procuradoria denunciou Josimar
Maranhãozinho (PL-MA), Pastor Gil (PL-MA) e Bosco Costa (PL-SE). Os três foram
acusados de integrar uma quadrilha que extorquia prefeitos para liberar verbas
federais. Todos se dizem inocentes.
De acordo com as investigações, os deputados
mapeavam municípios aptos a receber emendas. Em seguida, procuravam os gestores
locais e cobravam pedágio de 25% para destinar os recursos. Quem resistia ao
acerto passava a ser alvo de ameaças.
O esquema veio à tona em 2020, quando o então prefeito de São José de Ribamar (MA), Eudes Sampaio, resolveu denunciar as intimidações. Em quatro meses, os deputados destinaram R$ 6,67 milhões em emendas à cidade. Após os repasses, eles passaram a exigir R$ 1,67 milhão em propina, sustenta o Ministério Público.
Nas investigações, Josimar Maranhãozinho foi
filmado com caixas de dinheiro vivo. Em mensagem interceptada pela Polícia
Federal, o agiota Josival Cavalcanti da Silva, conhecido como Pacovan, diz ao
deputado que não é bom negócio destinar emendas a municípios “pequeninhos”:
“Quinhentos ali, mil acolá... Bota logo em um grande, entendeu?”, ensina.
Figura notória no submundo da política
maranhense, o agiota foi morto a tiros no ano passado. Seus executores
incendiaram o carro usado no crime.
Ex-governador do estado, o ministro Flávio
Dino sabia no que estava mexendo ao ordenar a suspensão do pagamento das
emendas. Ele contabilizou R$ 186 bilhões liberados desde 2019, quando o Centrão
e o governo Bolsonaro gestaram o chamado orçamento secreto. “Jamais houve
tamanho desarranjo institucional com tanto dinheiro público, em tão poucos
anos”, anotou.
O governo Lula ensaiou frear a gastança, mas
cedeu à pressão do Congresso. Em fevereiro, Dino homologou acordo para liberar
os repasses em troca de critérios mínimos de transparência e rastreabilidade.
Pelas contas do ministro, correm no Supremo ao menos 80 inquéritos sobre as
emendas. O que não foi resolvido pela política transformou-se em caso de
polícia.
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