sábado, 14 de fevereiro de 2009

Sob Cabral, empresa multiplica os contratos com o governo do Rio

Da sucursal do Rio
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Estado alega que fez pregões; contratos somaram R$ 66,9 milhões em 2008

O governo do Rio comprou a maioria dos equipamentos de informática do Estado em 2008 da empresa do sócio do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Jorge Picciani (PMDB), aliado do governador Sérgio Cabral Filho (PMDB).

A Investiplan, de Paulo Trindade, conseguiu multiplicar os contratos após a eleição de Cabral. Em 2006, os contratos do governo com a empresa somavam R$ 11,3 milhões. Um ano depois, os valores multiplicaram em mais de seis vezes, chegando a R$ 73,5 milhões. Em 2008, foram R$ 66,9 milhões.

Trindade passou a negociar gado com Picciani a partir de 2005. Desde então, os dois já compraram bois em condomínio, organizaram leilões e comercializaram gado entre si. O caso foi revelado anteontem pelo jornal "O Globo".

O governo do Estado afirmou que os contratos foram celebrados em pregões eletrônicos, nos quais as empresas que disputam a licitação só são identificadas após a definição do preço. Picciani afirmou que nunca influenciou nas compras do Estado. A Investiplan disse que "nunca precisou de influência política para vencer licitações".

Além da escalada dos valores dos contratos, a Investiplan conseguiu no ano passado um "monopólio" no pagamento por parte do governo do Estado na rubrica "equipamento para processamento de dados". De acordo com dados da Secretaria da Fazenda, 93,9% dos valores efetivamente pagos pelo governo foram para a empresa.

Trindade e Picciani são amigos há 15 anos, segundo o deputado, mas só em 2005 eles fecharam o primeiro negócio. Desde então, participaram juntos de ao menos cinco transações de gado (seja como sócios ou venda entre si). A maior operação ocorreu em 2006, quando Trindade pagou R$ 1,04 milhão por 50% do clone da vaca mais premiada da Fazenda Monte Verde, de Picciani.

"Sou pecuarista há 25 anos e reconhecido no setor como um dos maiores formadores e fornecedores de genética do país, tendo contribuído ao longo desses anos para a melhoria da qualidade do plantel do Brasil, que ocupa hoje a condição de maior exportador de carne do mundo", afirmou o deputado.

Cabral defendeu os contratos: "O pregão eletrônico é transparente, todos podem participar. É um formato que permite o acompanhamento online. Empresas de todo o Brasil podem participar. Se essa empresa oferece o melhor preço, qual é o problema?"

A Investiplan afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que nunca participou "de licitação que tenha sido revogada por qualquer órgão fiscalizador de contas públicas". "Temos tamanho e credibilidade junto a fornecedores e a instituições financeiras para disputar com os menores preços", afirma a nota da empresa.

O deputado Comte Bittencourt fez uma representação no Ministério Público sobre a compra de 31 mil laptops por R$ 58 milhões. Ele afirmou ter estranhado a compra, feita em dezembro, ter sido entregue e paga no período de um mês.

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