A posição dos empresários chineses no recém encerrado Encontro Empresarial de Copenhagen sobre clima foi a maior surpresa do evento internacional. O reconhecimento por diversos líderes empresariais de que o desenvolvimento sustentável é uma "responsabilidade corporativa", e que o crescimento econômico da China tem que se compatibilizar com a proteção ambiental é uma mudança fundamental, juntamente com as metas governamentais de redução dos gases de efeito estufa. O governo está forjando uma agenda agressiva para atingir a meta de 15% de toda a energia renovável ser de eletricidade em 12 anos, e aumentar a eficiência energética em 20% em dois anos. Sem contar com o fato de que a China hoje já é líder em energia solar e eólica.
O empresário Paulo Protásio, que fez parte da delegação brasileira na reunião, ficou impressionado com a mudança. "Vamos tomar um banho de estratégia, inteligência e iniciativa a partir de agora daqueles que tinham uma imagem mais duvidosa do que a nossa no mercado", comenta.
Protásio acha que a crise financeira não se vai resolver "se não se apoiar em novos elementos para servir aos objetivos de um desenvolvimento limpo e sustentável".
Na mesma linha do historiador Jim Garrison, presidente da ONG State of the World, criada por Mikhail Gorbachev para a preservação do meio ambiente, que considera equivocada a política dos Estados Unidos e da Europa de jogar milhões de dólares nos bancos, como se a crise fosse apenas do sistema financeiro, e não do sistema como um todo.
"A única maneira de lidar com a crise financeira é lidar com o aquecimento global", diz Garrison. Sobre o encontro de Copenhagen, ressalta a importância da posição dos Estados Unidos, Índia e China, que respondem por 85% das emissões.
Outra questão, afirma, é a dos recursos que o Norte (ricos) precisa fornecer ao Sul (pobres) para que ele possa atingir as metas a serem definidas na conferência.
Embora não acredite que haverá grandes alterações na reunião de Copenhagen em 7 de dezembro, porque não vai dar tempo para o novo governo dos Estados Unidos estabelecer suas normas, Paulo Protásio está convencido de que o Congresso americano vai aprovar o substituto do Protocolo de Kyoto e os Estados Unidos entrarão nesse mercado de carbono mundial, cujos grandes compradores de certificados de emissão são o Japão e a Europa.
O mercado de carbono a nível mundial continuou a crescer em 2008, chegando a um total de transações de US$126 bilhões no final do ano, o dobro praticamente do volume de 2007.
O Brasil, que já foi líder, foi ultrapassado pela China, pela Índia e agora estamos ameaçados pelo México. A China está fazendo um sistema de aprovação de projetos de mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL) em quantidades semelhantes ou superiores ao do Brasil, mas com prazos mais curtos, sem grandes burocracias. Mais de 70% dos projetos são do mercado chinês.
Na definição de Paulo Protásio, ela está mandando um recado para o mundo de que vai adotar a política limpa por decisão própria, e está liderando o mercado. "Nós no Brasil, que já lideramos esse mercado, temos vantagens que não podemos desperdiçar. Nossa matriz energética é limpa", lembra Protásio.
Um dos projetos brasileiros é justamente o de transferir a tecnologia brasileira já existente para a África. O projeto prevê que entre 2009-2010 todo o continente africano seja mapeado por satélite para que seu potencial agrícola receba a tecnologia de baixas emissões de carbono com a assessoria da Embrapa.
Segundo o embaixador Sérgio Serra, representante do Brasil nas reuniões sobre o clima, o Brasil encara as presentes negociações (que levarão à COP-15 em Copenhague) com a maior seriedade. Queremos um resultado robusto e equitativo. Que leve:
1) a novos e mais profundos cortes de emissões no âmbito do Protocolo de Kyoto (é importante destacar aqui que o Protocolo não expira em 2012; o que expiram nessa época são as metas referentes ao seu primeiro período de cumprimento);
2) a compromissos comparáveis (aos de Kyoto) por parte dos EUA;
3) a ações efetivas de mitigação por parte dos países em desenvolvimento, apoiadas por financiamentos e cooperação tecnológica (por parte dos desenvolvidos), tudo de forma mensurável, "reportável" e verificável.
Segundo ele, estamos dispostos a ir além da parte que nos toca no que foi acertado em Bali: há ações de mitigação que pretendemos levar adiante por nossos próprios esforços, sem necessariamente contar com recursos financeiros e tecnológicos externos.
Quanto às sugestões do Jim Garrison, Serra vê perfeitamente o Brasil assumindo um papel de liderança em políticas públicas e ações tendentes a controlar ou reduzir emissões, induzindo um desenvolvimento cada vez mais sustentável.
Esse papel já é claro hoje na área dos biocombustíveis e no crescente uso de biomassa como fonte de energia. Essas e outras ações que estamos empreendendo ou iremos empreender no futuro próximo já farão com que haja uma queda significativa na curva de crescimento das nossas emissões totais - que é o que se espera, no momento, de economias emergentes como a nossa, diz o embaixador.
Quanto a antecipar para 2020 a adoção de metas de redução absoluta de emissões, o embaixador Sérgio Serra acha a data um pouco próxima. "Não sei se até lá já teremos superado nossas sérias e ainda pendentes dívidas sociais (um programa como o Luz para Todos, por exemplo, leva necessariamente a um aumento de emissões). Quem sabe 2030?"
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